No último dia 18 de junho, o Espaço Cultural Pés no Chão completou 9 anos, de uma história marcada pela capacidade de congregar esforços, realizar ações e superar desafios. Quando foi criado, em 2001, por iniciativa de um grupo de artistas e profissionais liberais, sua primeira barreira foi encontrar alguém que confiasse na idéia – extremamente ousada – de montar um espaço cultural com apenas 1000 reais por mês, o valor do aluguel do prédio, um boliche desativado no bairro da Cocaia. A rede de amigos permitiu que um deles conhecesse alguém que topasse a proposta, com a condição de permanecer no anonimato. Entre a locação do imóvel e o início das atividades passaram-se 15 dias, nos quais foram feitos mutirões dos quais participaram colaboradores, comerciantes, amigos, enfim, pessoas que aderiram ao plano inédito de criar o primeiro aparelho cultural de Ilhabela.
Desde seu nascimento, teve como principal vocação oferecer para crianças, adolescentes e jovens atividades de formação artística, tais como dança, teatro, acrobacia, artes marciais e hip hop, visando a produção de espetáculos. O objetivo era colocá-los no palco, tornando-os protagonistas de diversos tipos de histórias, com temas ambientais, clássicos da literatura, narrativas e lendas sobre Ilhabela, e também tramas que mostrassem sua verdadeira realidade. Por outro lado, o desejo de oferecer uma programação cultural para a comunidade, também foi uma proposta dos criadores da instituição – afinal o Pés no Chão é formado basicamente pelo grupo que introduziu o Dança e Movimento na cidade, sendo até hoje o evento mais importante da instituição.
No decorrer do tempo, outras ações foram sendo incorporadas ao trabalho da entidade, como oficinas de artesanato para geração de renda, aulas gratuitas de Inglês, a produção de vídeos-documentários em comunidades tradicionais, e a criação e apresentação de peças ambientais com o grupo de teatro semi-profissional do Pés no Chão em eventos, escolas e Unidades de Conservação.
Organizações não governamentais sobrevivem de projetos, e esse é um dos maiores desafios para todas elas, incluindo o Pés no Chão. Em relação à proposta original de oferecer atividades de formação artística, o Pés no Chão desenvolve desde março de 2010, através do Pontos de Cultura, um projeto que beneficia 40 adolescentes e jovens com aulas de teatro, dança, break e vídeo, que resultarão em espetáculos e filmes. Em agosto, serão abertas mais 30 vagas de teatro para alunos com 9 e 10 anos de idade, através do projeto sócio-ambiental “Água é Vida”, elaborado por Adriano Leite, e já aprovado pelo CMMA – Conselho Municipal do Meio Ambiente, com verba da Taxa de Preservação Ambiental.
Além destes trabalhos, estão em andamento o projeto Cuidágua LN, financiado pelo FEHIDRO, numa parceria entre entidades ambientais e prefeituras do Litoral Norte, e o projeto do 13º Dança e Movimento, contemplado no Edital ProAc da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, que acontecerá na segunda quinzena de setembro. Desde março, está sendo implantado o projeto “Artesãos da Ilha” – convênio firmado entre o Espaço Cultural Pés no Chão e o Ministério da Cultura – que tem como objetivo promover a capacitação e geração de renda da comunidade da Ilha da Vitória com foco no artesanato. Ele se estenderá até o final de 2011.
Em sua trajetória, o Pés no Chão já atendeu mais de 1900 beneficiários, realizou aproximadamente 200 eventos de dança, teatro, música, exposições de artes plásticas e fotografia, além de eventos de cultura tradicional e ambientais. Produziu 13 espetáculos de teatro e de artes integradas, 3 shows musicais, 2 vídeos-documentários, 1 CD de trilha sonora com músicas de Beto di Franco, Tarcísio Edson César e Marcelo Marins, e um livro de poemas.
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O papel do Pés no Chão no cenário sócio-cultural de Ilhabela é o de colaborador junto ao poder público, seja oferecendo para as crianças e jovens a oportunidade de se desenvolverem através das atividades que a entidade realiza, seja agindo como um aparelho cultural que atua na produção e na disseminação da arte e dos produtos culturais apresentados em sua programação. A sua presença crescente na esfera ambiental o coloca também como pioneiro, em nossa região, na prática de integrar conceitos de sustentabilidade às artes cênicas.
Depoimentos da equipe do Pés no Chão
“Quando eu olho para a nossa sede plantada no alto da Barra Velha, numa comunidade carente de cultura e educação, proporcionando às crianças e adolescentes uma gama de cursos e trabalhando sua auto- estima, protagonismo e cidadania, eu me sensibilizo. Esse é o meu alimento para continuar realizando a nossa missão.” Malu Gonçalves
“Olho para trás e vejo como foi importante tudo o que fizemos. E no presente, vejo a urgência de continuarmos nosso trabalho. A arte muda a vida das pessoas, mesmo de quem não vá, no futuro, vir a ser um profissional da dança, da música, do teatro, ou das letras. Quando vejo o brilho nos olhos de um jovem que descobre como é fundamental incorporar a criatividade à sua vida, tenho a sensação de que nossa missão está sendo cumprida e que nosso esforço valeu a pena, hoje e sempre.” Ruben Bianchi
“É interessante percebermos que uma entidade é um organismo vivo, que vai se transformando no decorrer do tempo. Algumas coisas permanecem, outras acabam para abrir espaço para o novo. Talvez a essência do Pés no Chão seja sua capacidade de fazer da arte o elemento de ligação entre todas as pessoas, uma espécie de linguagem universal que procura integrar nossa diversidade.” Inês Bianchi
“Foram tantas evoluções, mas é surpreendente a percepção de que continuamos buscando as mesmas coisas. E isto é muito bom! Levar teatro para a vida das pessoas, criando atmosferas mágicas de descobertas e reflexões é o que me motiva e alimenta. E o Pés no Chão continua sendo esta nave, como às vezes dizemos, que nos conduz neste caminho.” Tina Bruncek
“Nos 9 anos de Pés no Chão tivemos momentos inesquecíveis. O convívio com as crianças e adolescentes, nossa produção artística, o envolvimento da comunidade, a amizade com artistas profissionais convidados que vieram apresentar sua arte em Ilhabela, e a conquista da sede própria. São realizações que nos enchem de alegria e mostram que estamos num bom caminho.” Emiliano Bernardo – Pingo