A correria e o stress da cidade de São Paulo, levou Rodolfo Tucci a trocar a carreira de diretor de arte de importantes revistas de circulação nacional pela fotografia, sua maior paixão.

Ao redor do mundo, em viagens de caráter documental, retratou cores, texturas e expressões de diversos povos. Mas foi em Ilhabela, lugar que escolheu para morar, que ele desenvolveu um amplo trabalho de registro e documentação da centenária, e quase extinta, cultura caiçara.

 

A bordo e de carona na “Ambulancha”, embarcação da Prefeitura de Ilhabela que leva assistência às famílias isoladas nas chamadas Comunidades Tradicionais, Rodolfo retrata desde novembro de 2005, a vida destes personagens que ainda conservam traços da cultura caiçara.

 

“A previsão era de tempo bom.

Amanheceu e nos encontramos todos no píer do Perequê, eu e a tripulação do Arrelá, a “Ambulancha” da equipe médica da Prefeitura de Ilhabela.

O destino: Praia da Fome pela manhã, e a tarde Ilha de Búzios.

O objetivo: levar serviço básico de saúde para lá.

 

Era o meu primeiro dia a bordo de um projeto que iria revelar a difícil missão desses agentes e a dura realidade dos moradores das comunidades tradicionais caiçaras, espalhadas nos 70 quilômetros de costas voltadas para o alto mar, especialmente as mais distantes e isoladas do arquipélago principal.

Essas pessoas vivem em moradias muito simples, a maioria delas em casas de pau a pique, quase sempre sem água encanada, sem energia elétrica e sem banheiro.

Isoladas geograficamente vão sobrevivendo graças a pequenas roças de mandioca, e à pesca cada vez mais escassa.

Muitas vezes quando “o mar não está nem para peixe” esses pequenos grupos passam dias sem poder deixar o lugar onde moram. Em várias tentativas dessas visitas nos deparamos com vagas de até quase dois metros em mar aberto, que nos impediam completamente de prosseguir viagem.

Distante 25 quilômetros do continente, a Ilha de Búzios é um capítulo a parte. Sem possuir praia para atracar o barco, é protegida em toda sua extensão por costeiras rochosas, dificultando o desembarque da equipe e de todo o material levado.

Parada a uma distância de 100 metros, a lancha fica à espera do canoeiro, que entre ondas nos leva um a um para suas encostas.

É comum a canoa virar nesse percurso quando o mar está agitado.

Caminhando em terra firme, encontro uma densa vegetação escondendo casas rústicas no meio da mata.

É hora de desfazer as mochilas na pequena escolinha local.

Os moradores lentamente vão chegando onde aguardam pelo atendimento desses verdadeiros “anjos da guarda”.

O cenário é emocionante.

A equipe tem muito trabalho pela frente, e minha câmera muito a registrar”.

 

 

o resultado das primeiras imagens obtidas durante o acompanhamento da equipe de agentes de saúde nas comunidades das ilhas de Búzios e Vitória e das praias do Castelhanos, Guanxumas, Fome, Serraria e Bonete deram origem a uma exposição fotográfica itinerante, que será exibida pela primeira vez em maio de 2008, durante as comemorações da Semana da Cultura Caiçara, na sede da Secretaria da Cultura de Ilhabela.

 

A exposição faz parte de um projeto em construção de registro, documentação e divulgação da cultura caiçara, que pretende culminar no lançamento de um livro.

 

 

 

Retrato do Isolamento

 

“Viver isolado não significa viver sozinho, e se a companhia que chegar trouxer assistência, alimentos, saúde e atenção, quem vive isolado?

 

Este é um dos muitos ensinamentos que aprendi, ao acompanhar os agentes de saúde da Prefeitura de Ilhabela, em sua rotina de trabalho com as comunidades tradicionais caiçaras.

Por isso decidi:

– Divulgar a realidade que os agentes da Secretaria de Saúde, e o Diretor das Comunidades Tradicionais, Dito Dória, enfrentam para levar assistência as comunidades isoladas do Arquipélago de Ilhabela.

– Documentar a quase extinta tradição e cultura dessas comunidades.

– Sensibilizar a população e autoridades para o trabalho comunitário e especialmente o trabalho voluntário necessário também em áreas remotas e de difícil acesso.

– Homenagear aqueles que diariamente já colaboram para a transformação e preservação, e fazem da própria existência alimento para a alma”.

 

Rodollfo Tucci

 

 

A exposição Almar “Um Retrato do Isolamento” terá 50 fotografias em formato 1m x 0,80m e após a apresentação em Ilhabela pretende percorrer várias cidades do país.

O projeto de Rodolfo Tucci está em fase de captação de recursos e convida a comunidade local para contribuir. Empresas e entidades interessadas podem entrar em contato por email: rodolfo.tucci@terra.com.br ou através do telefone: (12) 8129-0456. Maiores detalhes sobre o trabalho do autor estão no fotoblog: www.ilhadeimagem.blogspot.com