É sabido que com o avanço da idade, existe a inexorável diminuição das funções biológicas e vitais, declínio e modificação da capacidade produtiva, bem como maior freqüência na manifestação de enfermidades e disfunções em todo o organismo. Juntamente com este quadro, existem alterações psicológicas frente ao mundo interior e exterior, o que leva em muitas oportunidades, o idoso a ter dificuldade em aceitar e participar das mudanças evolutivas do mundo que o cerca e das transformações inerentes ao ser humano e suas relações.

Nos dias atuais as transformações são tantas e acontecem numa velocidade tão rápida, que o contato e assimilação das novidades torna-se um exercício diário obrigatório, por vezes árduo e o acompanhamento “pari passu” da evolução humana em todas as suas vertentes, obrigam as pessoas a constantemente rever conceitos e atualizar idéias.

O avanço das ciências da saúde, particularmente da medicina, criou possibilidades para aumentar consideravelmente a vida do ser humano, freqüentemente com boa qualidade. Os medicamentos, equipamentos e técnicas da medicina moderna podem, por outro lado, tornar longevo um indivíduo que não encerra em sua saúde geral e “vitalidade mental”, condições de desfrutar de uma vida normal e prazerosa.

Assim é que com freqüência deparamo-nos com dois tipos bem distintos de idosos: aqueles que realmente exercem a vida em todas as suas atividades, com real interesse e vitalidade e aquele que “se mantém vivo” por forças de medicações e cuidados médicos.

O primeiro é ávido por aprendizado, por novidades e busca constantemente viver cada momento de sua vida, com toda a vivacidade possível. É vaidoso, arruma-se bem, veste-se com cuidado, e procura apresentar-se com a beleza de sua idade, preocupando-se em ter uma aparência saudável e agradável.

O outro já não demonstra prazer em continuar vivo, abdica-se das conquistas, lamenta-se sempre, desfia um terço enorme de doenças e mal estar e usa sua idade e condição de saúde, como moeda para negociar afeto ou qualquer outra pretensão, sem dar-se ao trabalho de continuar na luta “da e pela” vida.

É comum a observação de falta de cuidados com a aparência física, como se envelhecer implicasse obrigatoriamente em perder a capacidade de observar e apresentar características outrora valorizadas, como os conceitos de saúde e beleza, demonstrando diminuição ou ausência de auto-estima. Importante se faz a compreensão que as atividades físicas e as relações familiares, são capazes de incentivar a busca por novas experiências e empreendimentos, evitando deste modo, o isolamento com a inevitável sensação de solidão que desencadeia. A despeito desta consideração, deve haver respeito ao direito de momentos de tristeza e nostalgia, que não devem ser confundidos com estado de depressão.

Na atividade odontológica se faz mister o conhecimento das variações emocionais pelas quais passa o indivíduo nas diferentes fases de sua vida, da infância à senilidade, devendo o cirurgião-dentista aguçar sua percepção e desenvolver a compreensão do estado emocional do paciente idoso, atentando para valorizar a função e estética como sustentação de auto-estima, proporcionando deste modo, melhor mastigação, estimulando o cuidado com o próprio corpo e elevando a auto-estima perdida ou diminuída.

A importância destas observações influencia sobremaneira no resultado final dos tratamentos odontológicos, coroando com satisfação ou frustração por parte do profissional e descontentamento ou prazer pelo lado do paciente. É possível facilmente estender estas observações a todas as atividades que possam estar ligadas à auto-imagem como em outras profissões que se dedicam a valorizar aspectos estéticos.

A comunicação na terceira idade se faz de extrema importância, de modo que se esta for esclarecedora, conseguir-se-á baixar o nível de ansiedade do idoso, criando empatia e simpatia, não nos furtando em informar ao idoso sobre os incômodos, desconfortos e expectativas sobre o resultado final da atividade proposta. A partir daí, muitas vezes se estabelece uma relação de colaboração e confiança no profissional ao qual foi entregue o tratamento ou cuidados pessoais.

Em um país como o Brasil, em que culturalmente o cuidado com os dentes permaneceu por muitos anos relegado ao segundo plano, resta à Odontologia resgatar uma dívida com a sociedade, em relação à orientação e preservação dos dentes por toda a vida do indivíduo. A importância dos cuidados odontológicos na terceira idade e as particularidades da saúde das pessoas nesta fase da vida é tal, que recentemente tornou-se reconhecida legalmente no Brasil a especialidade de Odontogeriatria.

Com os avanços que a Odontologia vem sofrendo, sobretudo nas últimas três décadas, com a criação de novas técnicas e materiais e/ou modificações daquelas já existentes, muito se pode fazer ao idoso portador de dentes naturais, prótese fixas, removíveis ou próteses totais, no intuito de elevar significativamente sua qualidade de vida, desenvolvendo condições para que possa  participar ativamente de um dos maiores prazeres da vida que é comer, com eficiência e conforto, devolvendo a possibilidade de manifestar suas alegrias através de um sorriso “natural”, estético e sem constrangimento, melhorando, inclusive sua comunicação com o mundo.

A todos nós profissionais, que temos nossas atividades desenvolvidas diretamente e na dependência do contato íntimo com o indivíduo, vale a advertência e o alerta de desenvolvermos maiores habilidades e conhecimentos sobre o idoso, da mesma forma que observamos com cuidados especiais a criança, pois com a diminuição da taxa de natalidade e o significativo aumento do contingente de idosos em praticamente todo o planeta, aquele que não se adequar e estiver preparado para esta nova realidade deverá deparar-se com inúmeras dificuldades no exercício da profissão, com grandes e sérios riscos de sucumbir profissionalmente. O respeito, dedicação e o carinho ao idoso devem partir de todos nós, e começa dentro de nossa própria casa, valorizando aqueles que acumularam experiências, alegrias e tristezas por toda a vida e deixaram como legado o conhecimento e o desenvolvimento que desfrutamos hoje até porque, um dia estaremos nesta mesma posição e seguramente poderemos ser alvo da discriminação, indiferença social e despreparo profissional impostos a estas pessoas, a quem devemos o “sagrado direito de envelhecer com dignidade”.

 

 

Prof. Dr. Sérgio Ourique.

Especialista e Mestre e Doutor em Prótese Dentária

Pós-graduado em estética dental pela New York University –EUA

Prof. livre docente pela American Wolrd University – EUA

Prof. Adjunto da Universidade de Guarulhos – UnG

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