Situado a 45 quilômetros de São Sebastião, o Arquipélago de Alcatrazes é formado por um conjunto de ilhas, ilhotes, lajes e rochedos que constituem um dos mais importantes abrigos para diversas espécies de aves e animais marinhos, muitas delas ameaçadas de extinção, além de espécies endêmicas, só encontradas por ali, como a Jararaca-de-Alcatrazes e a Perereca-de-Alcatrazes.

Desde 1987, a área é protegida pela criação da Estação Ecológica Tupinambás, uma Unidade de Conservação Federal administrada pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que tem como focos principais o apoio e incentivo à pesquisa científica, preservação da natureza, educação ambiental, apoio ao desenvolvimento sustentável da região e fiscalização.

Em toda a área protegida pela Estação Ecológica (ESEC) não é permitida a visitação pública, a navegação com petrechos de pesca ou outras atividades que causem danos ao meio ambiente, a fim de resguardar um dos únicos locais totalmente preservados do nosso litoral, que serve de berçário natural e área de descanso para diversas espécies marinhas, abriga o maior ninhal de Fragatas do Brasil e a maior concentração de tartarugas marinhas juvenis do Estado de São Paulo.

De acordo com a Bióloga e Analista Ambiental Kelen Luciana Leite, que há dois anos e meio chefia a ESEC Tupinambás, atualmente há mais de 900 espécies catalogadas que têm sua sobrevivência ligada à preservação da região. Nos últimos anos foram registradas quatro espécies novas e há várias outras ainda em estudo a serem catalogadas. “Quando mais pesquisamos na área mais descobrimos coisas novas e interessantes”, comemora Kelen. 

Além da conservação direta das espécies que vivem no entorno ou utilizam a região para procriar ou descansar, pesquisas apontam que as áreas com restrição de pesca como o Arquipélago dos Alcatrazes são fundamentais para a manutenção dos estoques pesqueiros das áreas adjacentes, pois mantém populações viáveis de peixes que se reproduzem no local e têm suas larvas levadas pelas correntes colonizando as áreas vizinhas.

A fartura de alimentos e a tranquilidade das águas que cercam o arquipélago também atraem grupos de cetáceos, como golfinhos e baleias de diversas espécies, como as gigantes Baleias de Bryde, que chegam a medir 15 metros e a pesar 25 toneladas. Praticamente extintas na costa brasileira, elas são vistas com certa frequencia na região, que também recebe visitas esporádicas de espécies como a Jubarte, a Franca, a Minke e até Orca. Entre os golfinhos, são avistados bandos de Pintado-do-Atlântico, Nariz-de-Garrafa, Dentes-Rugosos e Boto Cinza.

“O Arquipélago dos Alcatrazes é um local ‘sagrado’ para o Litoral Norte. Desde os períodos pré-coloniais, existem indícios arqueológicos que apontam que o Arquipélago era usado pelos indígenas que aqui viviam nesta época para sepultar seus mortos em rituais sagrados”, lembra Kelen. Hoje, a área é considerada de alta relevância ecológica pelo Ministério do Meio Ambiente e está contemplada no programa de áreas prioritárias para conservação, devido a grande concentração de fauna, tendo algumas espécies exclusivas de Alcatrazes e protegendo cerca de 45 espécies ameaçadas de extinção.

Outro ponto importante do Arquipélago dos Alcatrazes é a sua beleza cênica, que encanta a todos que têm a oportunidade de conhecê-lo. O seu pico mais alto possui 316 metros de altura (80 metros menos que o Pão de Açúcar, um dos mais belos cartões postais do país) com enormes paredões de granito no meio do mar, paisagem que sempre impressiona. 

Tais características transformaram a região em um dos maiores paraísos naturais do nosso litoral, constituindo uma área que requer cuidados e atenção permanentes, além de estratégias de preservação capazes de sensibilizar a comunidade. “A melhor maneira de todos ajudarem na preservação ambiental é gostando da região. A partir do momento que o cidadão gosta e se sente parte do lugar em que vive, ele instintivamente cuida desse lugar”, explica Kelen, que também é uma das responsáveis pelo projeto que pretende transformar o arquipélago em um Parque Nacional Marinho.

A criação do Parque permitirá a visitação controlada, um antigo anseio da população do Litoral Norte, que sempre contempla as belezas do Arquipélago de longe, da costa. A visitação, se bem estruturada e regulamentada, pode servir como instrumento para sensibilizar as pessoas para a necessidade de conservação desse patrimônio natural único. “Acredito que não há possibilidade de proteção de um patrimônio natural se as pessoas diretamente envolvidas não o reconhecem como tal. Após a criação do Parque haverá um longo caminho pela frente para evitar que essa visitação seja descontrolada e cause impactos em um ambiente que se mantém bem preservado, apesar de estar em uma das regiões de maior desenvolvimento e densidade demográfica do país”, afirma a gestora da ESEC.

 

Expedições de Avistagem de Baleias e Golfinhos

Enquanto a criação do Parque Nacional não for concretizada, uma forma de conhecer as belezas do Arquipélago de Alcatrazes é participar de uma das expedições promovidas pela ESEC Tupinambás em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP e com os iate clubes de Ilhabela e Barra do Una.

Com o objetivo de promover a pesquisa científica e a educação ambiental, as expedições são uma forma de conscientizar os participantes sobre a importância da preservação do local e de ampliar as possibilidades de estudo e pesquisa na região, já que cada embarcação inscrita leva a bordo um monitor treinado, que além de auxiliar na avistagem, também faz a identificação e registro das espécies.

Para participar é preciso inscrever a embarcação e todos os tripulantes em um dos iate clubes, que vão informar a data da próxima saída, os detalhes e todas as regras da expedição, que incluem a assinatura de um Termo de Compromisso, onde cada participante assume a obrigação de não retirar nada da área, não deixar absolutamente nenhum lixo, não alimentar os pássaros, não levar nenhuma tralha de pesca e não ancorar em fundo de pedra/cascalho para não danificar os preciosos corais da região.

Cada barco participante também deve obedecer a uma rota específica, traçada pelos organizadores. Desta forma, as embarcações percorrem trajetos paralelos garantindo a cobertura de toda a região, permitindo maior área de abrangência às pesquisas e ampliando as possibilidades de avistagem.

Depois de navegar por dezenas de quilômetros e, com sorte, avistar baleias, grupos de golfinhos e cardumes de diversas espécies de peixes, a chegada à Alcatrazes é anunciada por bandos enormes das cerca de 20 mil Fragatas (também conhecidas como Alcatrazes) que vivem por ali. A quantidade de aves é impressionante e em alguns momentos do dia elas cobrem o céu em revoadas que reúnem centenas delas.

Também presentes em grande quantidade, os Atobás estão por toda parte da ilha, cuidando de seus ninhos, alimentando seus filhotes ou buscando alimento no território que dividem com outras espécies, como gaivotas, albatrozes, trinta-réis e diversas aves migratórias.

 

A Estação Ecológica Tupinambás e a importância da criação do Parque Nacional Marinho

A Estação Ecológica Tupinambás possui duas áreas, uma em Alcatrazes e outra nas ilhas de Cabras, Palmas e Laje do Forno, em Ubatuba. 

A posse do Arquipélago dos Alcatrazes é dividida com a Marinha do Brasil, que têm posse da Ilha principal, Sapata e Farol, sendo que estas áreas militares têm proibição de desembarque. Em toda a área Delta da Marinha, conforme delimitado em carta náutica, também é proibida e pesca e o fundeio. Há interdições temporárias de navegação em época de exercícios de tiro no local e fora desses períodos a navegação é permitida, desde que as embarcações não portem petrechos de pesca ou qualquer outra material que possa causar dano ao meio ambiente. 

As demais formações do Arquipélago, como os parcéis do Nordeste e Sudoeste, Ilha do ratório, Laje Negra, Ilha do Paredão, Ilhote do Paredão, Ilha Abapotissanga, Ilha Guaratingaçu, Ilha Carimacuí e Ilha Cunhambebe são de posse da Estação Ecológica Tupinambás. Além disso, a ESEC Tupinambás/ICMBio e o  IBAMA são responsáveis pela proteção ambiental de todo o Arquipélago dos Alcatrazes, desenvolvendo ações para minimizar os impactos humanos e garantir condições para a regeneração natural naquele ambiente. O ICMBio possui dois planos de ação para proteção de espécies ameaçadas no Arquipélago dos Alcatrazes: um para a herpetofauna insular (jararacas e pererecas) e outro para proteção das tartarugas marinhas, além de um terceiro plano de proteção da Toninha, uma das espécies de cetáceos mais ameaçadas do mundo, que ocorre nas áreas da ESEC em Ubatuba. O ICMBio também está propondo a criação de um Parque Nacional nas áreas contíguas da ESEC em Alcatrazes, para aumentar a área marinha de proteção do Arquipélago e possibilitar o ecoturismo controlado.

“O nosso papel como gestores ambientais da área e do entorno é oferecer informação e oportunidade para que as pessoas saibam das condutas corretas para evitar impactos ao meio ambiente, mas temos também que estimular essas pessoas a perceberem esse ambiente. Nós temos a maior biodiversidade do mundo aqui no Litoral Norte de São Paulo e muitas pessoas vão para fora do país para ver o que temos aqui. Temos que aprender a valorizar o que é nosso, pois sem isso não aprenderemos a cuidar, e não há proteção ambiental sem a participação da população local. O melhor fiscal é o cidadão. Temos tentado envolver as pessoas em alguns projetos que estimulem esse olhar diferente para o ambiente, e um desses projetos é a avistagem de baleias e golfinhos que desenvolvemos com apoio do setor náutico e de voluntários. O objetivo maior desse projeto é permitir que as pessoas se identifiquem com Alcatrazes, vejam sua beleza e vivenciem o ambiente, para que possam perceber a importância de se preservar esse patrimônio, além de contribuir para o conhecimento científico do Arquipélago”, completa a bióloga Kelen Leite. 

 

Interessados em participar as Expedições de Avistagem devem entrar em contato com o Iate Clube de Barra do Una e Iate Clube de Ilhabela para inscrições: www.yci.com.br | www.icbu.com.br