Seja uma grande casa de veraneio para reunir a família e amigos nas férias ou finais de semana, um pequeno refúgio para fugir do stress ou uma residência, já que cada vez mais pessoas abandonam as grandes cidades em busca de sossego e qualidade de vida, a compra ou construção de um imóvel na praia requer uma série de cuidados, pois é preciso levar em conta desde as peculiaridades da legislação local até a redução de impactos ambientais, escolha correta de materiais e adaptação do projeto ao terreno e à paisagem.

“Costumo dizer que trabalhar com arquitetura também é participar da realização dos sonhos das pessoas. Na maior parte das vezes, a construção de uma casa é um projeto antigo da família, que requer anos de trabalho e investimento. É o lugar onde essas pessoas vão viver, ou ao menos passar boa parte do seu tempo, e o arquiteto tem a missão de encaixar todas essas vontades ao orçamento, ao terreno, ao local escolhido, de forma que, depois de pronta, a casa possa atender a todas essas expectativas”, conta o arquiteto Rogério de Lucca, que trabalha há 21 anos na ilha e já projetou mais de 200 casas por aqui.

Conforto com vista para o mar

Essas foram as exigências dos proprietários desta casa ao contratar o arquiteto Rogério de Lucca para fazer o projeto.  “Neste caso, tive a sorte e a alegria de poder trabalhar com um casal de grandes amigos, que me deram liberdade para fazer o projeto. Como conhecia bem os dois, também foi mais fácil fazer sugestões que se encaixassem as necessidades da família”, afirma.

O primeiro ponto levado em conta foi o fato de que a família mora aqui. Como as necessidades de uma casa de veraneio são bem diferentes das de uma residência, tudo precisa ser pensado desde o início, para que a construção possa ter o estilo praiano com o conforto e a praticidade que uma residência requer em seu dia-a-dia.

O segundo ponto foi a vista. Como a localização do terreno não era muito alta, foi necessário elevar todo o projeto, adequando a construção à legislação local, que não permite, por exemplo, o levantamento de 3o pavimento, ou seja, as casas não podem ter mais do que dois andares.

Destinado ao convívio social, o piso inferior foi projetado para integrar todos os ambientes, sem paredes entres as salas de estar, jantar e home theather, e com grandes janelas e portas de vidro voltadas para a varanda e a área da piscina. A cozinha também foi integrada à churrasqueira e a área externa ganhou um banheiro para que a parte interna da casa possa permanecer seca quando a piscina for utilizada.

No piso superior foram construídas quatro suítes e um hall. Na suíte do casal, além de um closet e um pequeno home office, foi instalada uma banheira de hidromassagem, que adentra o quarto e se integra ao banheiro através de um vidro.

Outra característica deste projeto que merece destaque é que, com exceção das esquadrias de PVC, todo o material utilizado na obra foi comprado em Ilhabela e toda a mão-de-obra, desde o alicerce até o acabamento e o paisagismo também é local. “Sempre que possível, procuro utilizar em meus projetos os produtos e serviços disponíveis na cidade. Valorizar e incentivar as empresas e os profissionais locais é importantíssimo para o desenvolvimento da atividade e da economia da região”, completa Rogério.

Integração com a natureza

Esta é a proposta desta casa de veraneio, que passou por uma reforma para atender às necessidades da atual proprietária. Para ampliar a área social e aproveitar melhor a deslumbrante vista para o mar que o terreno oferece, a varanda ganhou grandes decks de madeira e a pequena piscina foi substituída por uma maior, projetada para formar um espelho d’água com o mar.

 

Também foi construída uma nova cozinha, integrada à área da churrasqueira e ao deck da piscina através de grandes janelas de madeira e vidro e de uma mesa que sai da cozinha e adentra o deck unificando os dois ambientes.

Para os dias chuvosos e noites frias, a sala da lareira foi readaptada e se transformou em um salão de jogos, com bilhar e carteado. No piso superior, onde ficam os quartos e uma sala de TV, também foi instalado um novo deck de madeira, criando mais uma varanda para relaxar e curtir a vista.

Com o objetivo de evitar o descarte e desperdício de materiais, todo o entulho da reforma foi reaproveitado na própria obra, e as poucas plantas que precisaram ser retiradas foram replantadas no novo projeto paisagístico, executado para compor a paisagem nativa. Nenhuma árvore foi retirada do terreno e houve inclusive o tratamento e recuperação das espécies existentes, como é o caso do coqueiro que atravessa o deck da piscina e hoje recebe a visita constante de esquilos nativos.

 Encaixado nas pedras e desníveis do terreno para minimizar os impactos no entorno, e executado com materiais como madeira e vidro, o projeto original ganhou vida nova após a reforma, executada pelo arquiteto Rodrigo Zaniolo, mas manteve as características originais, respeitando a proposta inicial de integrar a construção à paisagem.

Pequeno refúgio

Com apenas 32 metros quadrados, este pequeno refúgio foi projetado pelos arquitetos Alan Chu Silveira e Cristiano Arns Kato para privilegiar a paisagem. Com uma vista deslumbrante para o canal de São Sebastião, o terreno íngreme já abrigava outros projetos da mãe de Alan, a arquiteta Chu Ming Silveira (1941-1997), que sempre freqüentou Ilhabela e já construiu várias casas por aqui.

Para não destoar do conjunto arquitetônico já existente, as linhas externas da casa, construída sobre pedras, com madeira, vidro e telhado cerâmico, seguiram o visual rústico característico dos projetos de Chu Ming, mas recebeu toques modernos e descolados no interior e no acabamento, como bancadas de concreto, piso de cimento com tapetes de ladrilho hidráulico, portas e janelas de correr de madeira e vidro e revestimento de pastilhas de vidro no banheiro. A área do quarto foi ampliada por um deck de madeira e, para adaptar o projeto ao terreno, a casa tem pequenos desníveis que seguem o declive natural da área.

“Para construir em um local como Ilhabela, é fundamental considerar as características do terreno e do entorno, integrando o projeto ao cenário. Uma boa saída é espalhar a casa em pequenos blocos, encaixando-os de acordo com os desníveis”, afirma Alan.

Ousadia

Quando decidiu construir a casa onde mora, em Barequeçaba, na costa sul de São Sebastião, o arquiteto e jornalista Zé Américo Câmera tomou uma decisão ousada: fazer toda a parte estrutural da casa com vigas de ferro aparentes. “Queria uma casa com estilo moderno e resolvi, depois de consultar um engenheiro estrutural, desmistificar a história de que casas de praia não podem ser construídas com ferro, por causa da oxidação”, comenta.

Toda a parte estrutural da casa foi feita em Aço Corten, escolhido por conter em sua composição elementos que melhoram suas propriedades anti-corrisivas, tornando-o três vezes mais resistente à corrosão que o aço comum. A manutenção é feita com pintura periódica (cerca de uma vez por ano). “Dá o mesmo trabalho que cuidar das vigas de madeira, que também precisam ser envernizadas periodicamente”, afirma Zé Américo.

Para sustentar o piso superior, que abriga os quartos, o arquiteto utilizou estruturas de concreto armado e toda a parte térrea recebeu piso de cimento queimado com detalhes em ladrinho hidráulico. As paredes foram feitas com tijolo ecológico, material que leva este nome porque não precisa ser cozido, fator que dispensa a queima de madeira, e não necessita de assentamento com areia e cimento, apenas de rejunte, pois são produzidos em grandes peças que se encaixam.

Na hora de comprar uma casa ou terreno, alguns cuidados são essenciais para que o sonho não se transforme em pesadelo!

Mais de 80% do território de Ilhabela está dentro de um Parque Estadual, parte dos imóveis não tem escritura definitiva, apenas documento de posse, e alguns deles possuem parte de suas áreas próximas a APAs (Áreas de Proteção Ambiente). Recentemente, a legislação local foi alterada pela instituição do novo Plano Diretor de Desenvolvimento Socioambiental, que dispõe, entre outras coisas, sobre a Lei de Uso e Ocupação do Solo. Por isso, antes de iniciar a compra de um imóvel, é fundamental contar com ajuda especializada.

Segundo Antônio Carlos Monteiro, sócio da Ilha Imóveis, empresa que atua há mais de trinta anos no mercado imobiliário de Ilhabela, comprar um imóvel por aqui não é uma tarefa complicada, dede que sejam observados os seguintes cuidados:

¨      Procure sempre um corretor credenciado, que conheça bem as características locais.

¨      Solicite ao seu corretor uma verificação minuciosa da documentação do imóvel.  Se houver escritura definitiva, que é o registro da casa ou terreno no Cartório de Registro de Imóveis, o titular transfere ao comprador a propriedade. No caso de documento de posse, haverá a transferência do direito possessório ao comprador, que posteriormente deverá entrar com processo para requisição da escritura definitiva. Seja qual for o caso, só a análise detalhada dos documentos poderá dizer se a compra é ou não viável.

¨      Solicite ao departamento de obras da Prefeitura uma Certidão de Diretrizes do imóvel, que informará o que pode ser edificado no terreno em função de zoneamento, declive, etc.

¨      Em caso de proximidade com cursos d’água ou Áreas de Proteção Ambiental, também é preciso fazer esta verificação junto ao DPRN.

¨      Desconfie de “oportunidades” e evite fechar negócios sem auxílio profissional.