Quando a editora sugeriu esta matéria, nos encontrou atualizando o conteúdo de nossos seminários de Ginástica Funcional para o ano de 2006. Este pedido veio bem a calhar, pois nossa pesquisa está direcionada para o encontro de soluções que possam suprir a ausência de movimentos em virtude do sedentarismo característico da sociedade moderna. Qualquer organismo vivo, o humano incluso, para manter-se saudável precisa movimentar-se. Dada a complexidade da estrutura corporal humana, é preciso manter diariamente um repertório de movimentos que atenda a manutenção desta complexidade. 

Estamos vivendo em uma época na qual cada vez nos movimentamos menos. Para que o leitor tenha uma idéia do repertório motor atual basta observar os movimentos que você faz desde que levanta da cama de manhã até deitar-se novamente à noite.

A maioria das pessoas senta e levanta de cadeiras, entra e sai do carro, digita ou utiliza o mouse do computador, ou o controle remoto de aparelhos eletrônicos, e o máximo que caminham são alguns passos. Com a chegada do verão e das férias, vaidades afloram e estas pessoas resolvem entrar em forma. Vão para as academias e malham desesperadamente, vão para as ruas e correm como se estivessem fugindo de um predador, tal é a expressão de esforço e sofrimento estampada em suas faces vermelhas.

Sugiro a estes atletas de verão que sejam prudentes. O primeiro passo é consultar um médico de confiança e fazer os exames necessários para ter certeza de que seu sistema circulatório está bem. Em resposta as atividades sob calor intenso o trabalho do coração aumenta muito para atender a demanda circulatória, por isso convém monitorar a freqüência cardíaca. Se você não tem um destes aparelhos de pulso que monitoram a pulsação constantemente, há uma fórmula elaborada pelos fisiologistas do exercício que pode te ajudar. (vide Box). Conte o número de batimentos cardíacos colocando a mão sobre o peito na altura do coração. O número de batimentos percebidos durante 15 segundos deve ser multiplicado por quatro e você terá a freqüência cardíaca em 1 minuto. Compare com o resultado conseguido através da utilização da fórmula e observe se você está na faixa de segurança recomendada. Lembre-se que isto é um recurso de controle de intensidade da atividade, mas de maneira nenhuma substitui o exame e as recomendações do seu médico.          

Vá devagar! É necessário um período de aclimatação que de acordo com as pesquisas está entre 7 a 14 dias.     

Ao programar suas atividades considere que a temperatura corporal humana vai aumentando a partir da madrugada e atinge o seu pico no final da tarde. Como as temperaturas estão altas em Ilhabela no verão, sugiro que as práticas aconteçam nas primeiras horas da manhã, pois a temperatura ambiente somada à temperatura central do organismo, que aumenta no transcorrer da atividade, com certeza trará desconforto.

Nossa temperatura no nível da pele normalmente é menor do que a temperatura central (visceral), sendo um fator importante para o controle térmico. A evaporação do suor é o recurso mais eficiente que temos para resfriar a pele. Note bem, a evaporação do suor, e não a transpiração em si. Sob este aspecto é preciso que você entenda um outro fenômeno. Quando a umidade relativa do ar é muito alta o suor escorre pela pele e não evapora, diminuindo a eficiência deste recurso para o controle térmico e acarretando uma perda inútil de água.

A perda de liquido é muito grande, portanto, beba água (em torno de 350ml) 15 ou 20 minutos antes de iniciar e, se for possível, durante a atividade (a cada 15 ou 20 minutos). A água gelada é absorvida mais rapidamente e o manterá hidratado. Desidratação é coisa séria! Se não atendida a tempo e adequadamente pode ser fatal.

Lembre-se que não é pela quantidade de suor eliminado que você vai ganhar massa magra, portanto, nada de usar plástico ao redor da cintura nem abrigos pesados ou sintéticos. Deixe a maior área possível de pele em contato direto com o ar para facilitar a evaporação como explicamos acima. Use roupas claras que são mais frias por absorverem menos luz, o algodão é uma boa pedida ou então estes tecidos especiais que favorecem a evaporação do suor.

Use protetor solar, pois queimaduras pelo sol lesionam a pele e dificultam o processo da transpiração, além do risco de câncer de pele.

Bom senso, pois a inatividade prolongada traz como conseqüência perda de massa muscular, o que reduz a estabilidade/mobilidade articular, aumentando o risco de lesões ao realizar esforços mais intensos ou serem mais solicitadas por pisos irregulares. Aproveite para se libertar dos calçados e estimular as articulações e o senso de equilíbrio caminhando na areia e dentro da água do mar.

Tenha paciência e se puder procure orientação de um profissional habilitado para montar um programa adequado e direcionado para sua individualidade biológica. Um plano bem elaborado permite uma adaptação fisiológica gradativa e prazerosa. Está estória de que só se consegue bons resultados com sofrimento é uma grande falácia.      

Para você leitor que está sempre calçado, realiza suas práticas em aparelhos como esteiras ou similares e está em boas condições fisiológicas, sugiro muita atenção durante os primeiros dias de atividade em pisos naturais.

Caminhar ou correr em pisos naturais e irregulares exige do praticante uma capacidade adaptativa extremamente requintada das articulações, o que as fortalece e as tornam mais flexíveis.  

As atividades realizadas em pisos planos e regulares, com a utilização de calçados, oferecem pouquíssima estimulação sensorial, pois não há irregularidades que exijam adaptação dos pés ao solo, é o piso quem anda e o ritmo é determinado pelo aparelho.

Boas atividades!