Acessível apenas por uma trilha – que só pode ser percorrida a pé -, ou pelo mar, o Bonete abriga uma das últimas comunidades isoladas da região, onde vivem cerca de 320 pessoas que sobrevivem da pesca e de algumas atividades ligadas ao turismo. Não há rede de energia elétrica (apenas um gerador que serve toda a comunidade), a água consumida é captada das cachoeiras (cada família é responsável por sua própria captação), a base da alimentação é o peixe trazido pelos pescadores (todas as famílias tem pelo menos uma pessoa envolvida na atividade), e a farinha de mandioca, que também é produzida pela comunidade. Algumas famílias plantam feijão. Todos os outros itens consumidos são trazidos da “cidade” nas canoas dos pescadores que, aliás, também são produzidas no Bonete, em uma tradição que passa de pai para filho há muitas gerações.
Embora não haja nenhum documento ou registro que transcreva sua colonização, as histórias contadas pelos boneteiros mais antigos, as características físicas dos moradores e alguns aspectos da cultura e tradição locais, revelam que a formação do povoado teve influência indígena, que deixou resquícios como a tradição da fabricação artesanal de farinha de mandioca, e inglesa, através dos corsários que se refugiavam na região enquanto planejavam seus ataques aos vilarejos da costa (o mais famoso deles foi Thomas Cavendish), e que ainda hoje pode ser notada na pele clara, nos cabelos loiros e nos olhos azuis de muitas crianças da comunidade.
Trilha
São quase quatro horas caminhando em meio a Mata Atlântica, em uma trilha que começa no extremo sul da ilha, exatamente onde termina o asfalto! Na mochila, apenas o extremamente necessário. Um bom par de tênis nos pés e repelente em todas as partes descobertas do corpo. Olhamos para os lados, respiramos fundo e fomos envolvidos pela “magia” que habita o interior da mata. Embora a praia esteja há 13 quilômetros, o Bonete começa aqui, quando você põe os pés na trilha.
Caprichosamente inseridas a cada uma hora de caminhada, três cachoeiras garantem agradáveis (e necessários!) minutos de descanso. Uma pausa para contemplação e um banho energizante renovam o fôlego para continuar a viagem. Durante todo o caminho, animais nativos como pássaros, tucanos, papagaios, diversos tipos de lagartos e até macacos nos observam curiosos, escondidos entre a vegetação.
Depois de alguns minutos nos perguntando “mas esta trilha não termina nunca?”, encontramos uma das maiores recompensas da caminhada: a vista da praia! Uma larga faixa de areia muito branca, envolta por um mar verde esmeralda profundamente cristalino. Ao fundo, o mesmo verde da vegetação presente em todo o caminho. Neste momento já concluímos: o esforço valeu a pena! Com os ânimos renovados pela paisagem, caminhamos mais alguns minutos, passamos pela última cachoeira, e finalmente chegamos à praia.
Cansados, fomos direto para a pousada, que nos recebeu com um carinhoso e terapêutico escalda-pés.
Praia
Diferente de todas as outras praias da ilha, o Bonete tem uma faixa de areia larga e bastante extensa, que termina no ponto onde o Rio Nema se encontra com o mar. Cristalino, cercado por areia e muitas pedras, o rio serve de abrigo para as canoas, já que o mar do Bonete é “bravo”, o que impede que embarcações pernoitem por ali com segurança. Ao longo de toda a praia, “Chapéus de Sol” oferecem sombra, para uma pausa entre um mergulho no rio e outro no mar.
No início da manhã e no final da tarde há “trânsito” de canoas, que vão e voltam de suas atividades rotineiras. Enquanto algumas trabalham na pesca, outras transportam os turistas que optaram por não encarar a caminhada.
Depois da trilha, a viagem de canoa é a opção mais utilizada pelos turistas que chegam ao Bonete. São cerca de uma hora e trinta minutos de navegação, apreciando, na maior parte do caminho, a beleza de diferentes tipos de formações rochosas. É uma boa escolha, mas acredite, a trilha é parte integrante do destino turístico, e se você optar por não percorrê-la, vai perder uma parte importante do passeio. Ir andando e voltar de canoa (ou vice-versa) é o ideal para quem quer conhecer os dois lados da viagem.
Muito cristalinas, as águas da Praia do Bonete são ideais para a prática de mergulho livre, pois além de boa visibilidade, há uma grande variedade de espécies marinhas nas pedras e encostas que cercam a região. O lugar também é freqüentado por surfistas, e é uma das únicas praias da ilha que oferece boas condições para a prática do esporte.
Os restaurantes caseiros servem uma comida simples, porém saborosa, e esperam pelos clientes com um peixe sempre fresquinho.
Pousada
Completamente inserida no contexto e na paisagem, a Pousada Canto Bravo é, sem dúvida, um dos bons motivos para visitar o Bonete.
Desde o primeiro contato telefônico até a hora da despedida, é possível perceber que se trata de um lugar especial, onde a atenção, o carinho e o minucioso cuidado com os detalhes fazem da sua viagem uma experiência inesquecível.
O primeiro passo é explicar para o hóspede o que é o Bonete, com todos os seus encantos, mas também com todas as suas limitações. É muito importante que o visitante entenda exatamente como é o lugar para onde está indo, para que não haja nenhum tipo de desconforto ou frustração. Afinal, a praia é paradisíaca, mas fica em uma comunidade isolada, que não tem as facilidades às quais a maioria das pessoas está acostumada e que, dependendo das condições climáticas pode, por exemplo, inviabilizar a volta pelo mar, restando apenas a opção da trilha.
Realizada a reserva, o hóspede recebe um breve descritivo do destino e todo o roteiro da viagem. A pousada conta com amplo serviço de transfer em embarcações de diferentes tamanhos (sempre sujeitos às condições do mar e do tempo) e serviço de bagagem desacompanhada. No entanto, a recomendação dos proprietários é levar apenas o essencial. “Quanto mais leve, mais alto voa o pássaro” é um dos lemas do local. Leve sempre uma lanterna e nunca entre na trilha após as 13hs.
Terminada a caminhada, o check-in na pousada é seguido pela oferta de um escalda-pés, antiga tradição que surte bons efeitos no dia seguinte “O escalda-pés faz toda a diferença. Notamos isso depois de comparar os relatos dos hóspedes que fizeram e dos que não aceitaram”, afirma Daniel Rodrigues, gerente da Canto Bravo.
Com o objetivo de integrar a arquitetura à natureza, o projeto da pousada é simples, mas muito rico em detalhes. As cores da fachada são inspiradas nas multicoloridas canoas, que representam um dos símbolos mais tradicionais do Bonete. Os apartamentos são arejados e confortáveis, a decoração é de bom-gosto e os banheiros oferecem banho quente (possível graças à implantação de placas de energia solar). O café-da-manhã tem frutas, sucos naturais, pães, bolos e outras iguarias que saem do fogão à lenha. A culinária é exótica, baseada em ingredientes e temperos simples e em muita criatividade. À noite, tochas e velas são responsáveis por um clima romântico e muito aconchegante. É um lugar onde pouco é mais que suficiente. Onde é possível descobrir, de verdade, todos os prazeres da simplicidade.
Maiores informações no site: www.bonete.com.br, ou através da Central de Reservas: (12) 3896-5111.