Torben Grael e a tripulação do Brasil 1 já estão em terra firme, após 7400 km velejando entre Brasil e Portugal. O veleiro de 70 pés deixou o Rio de Janeiro no dia 20 de agosto e atracou nesta quinta-feira em Cascais, na região de Lisboa.


“A travessia foi um sucesso. O Brasil 1 se portou valentemente nas condições difíceis. Foram pouquíssimos problemas e todos sem gravidade, apesar do susto da baleia. A lista de tarefas a serem efetuadas no barco cresceu, mas isso é sinal de que aprendemos muito sobre o barco e sabemos o que podemos melhorar e aprimorar”, disse o comandante Torben Grael.


A viagem durou 20 dias e serviu para qualificar o barco para a Volvo Ocean Race. A organização da regata exige que todos os barcos inscritos façam uma travessia de pelo menos 2000 milhas náuticas para autorizar a participação. Além disso, a velejada serviu também como principal etapa de treinamento da tripulação antes da largada da regata de volta ao mundo, em novembro.


“É pouco tempo de treinamento e temos de aproveitar ao máximo. Na travessia, a tripulação se entrosou muito bem e mostrou potencial. Os brasileiros, mesmo sem experiência, podem terminar a regata melhores do que nós, estrangeiros”, elogiou o espanhol Roberto Bermudez de Castro, o Chuny, com duas Volvo Ocean Race no currículo.


Aventura

Testes e sustos não faltaram na primeira grande viagem do Brasil 1. Nos primeiros quatro dias, entre o Rio de Janeiro e Fernando de Noronha, na costa de Pernambuco, os velejadores enfrentaram ventos fortes e atingiram a maior velocidade já marcada no veleiro: 30 nós, mais de 55 km/h. Os barcos Volvo 70, classe do Brasil 1, foram projetados para velejar a uma velocidade máxima de 35 nós.


Após Fernando de Noronha, o Brasil 1 partiu para a última parte da travessia. Ao cruzar o Equador, alguns dos tripulantes passaram pelo tradicional trote de quem nunca tinha velejado pela linha que divide os dois hemisférios. Junto com o Equador chegaram também as zonas de calmarias equatorias, os Doldrums, marcadas pela ausência de ventos e o forte calor.


“O calor é muito grande e, às vezes, fica difícil dormir dentro do barco. A comida não está sendo um problema para a tripulação, mas a água, um pouco salgada, é bem ruim e difícil de engolir”, relatou André Fonseca.


Um dos maiores sustos da tripulação aconteceu um dia depois de cruzar o Equador, no começo da noite do nono dia no mar, quando o Brasil 1 colidiu com uma baleia. “O barco andava a 10 nós e eu acabara de assumir o leme quando senti um leve toque levantando a proa, seguido de uma brusca colisão. Olhei para o lado e vi uma baleia bem juntinho ao Brasil 1, contorcendo-se. Acho que ela estava dormindo e foi acordada por nossa proa, seguida de uma bordoada com a quilha”, contou Torben Grael.

 

No incidente, um dos tripulantes, João Signorini, acabou se machucando. Ele foi jogado nas cavernas do barco e contundiu as costelas. Ele foi medicado e alguns dias depois já estava trabalhando no barco, sem fazer força.


O restante da viagem seguiu sem problemas. Após dias sem vento já no hemisfério norte, o Brasil 1 encontrou algumas rajadas no 12º dia, mas na direção contrária ao destino. Com isso, velejaram a última parte da travessia no contravento. “Nos últimos dias, nos sentimos como motoristas de trator, de tanto que o barco balançava e batia contra as ondas”, escreveu o proeiro neozelandês Andy Meiklejohn no diário de bordo do Brasil 1 (www.brasil1.com.br/blog).


Ao chegar, todos os velejadores estavam mais do que felizes por reencontrar comida fresca e beber algo diferente da água dessalinizada. “A cada dia a comida seca perde o gosto. Tudo parece igual, mesmo que o rótulo diga que é diferente”, fala o irlandês Damian Foxall.


O Brasil 1 é patrocinado por VIVO, Motorola, QUALCOMM, ThyssenKrupp, NIVEA Sun, Ágora Senior Corretora de Valores e Governo Brasileiro através da Apex (Agência de Promoção das Exportações do Brasil), Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, Ministério do Turismo e Ministério dos Esportes e apoio especial da Varig.


A equipe terá seis concorrentes de cinco países: os barcos holandeses ABN Amro 1 (comandado por Mike Sanderson/NZL) e ABN Amro 2 (Sebastien Josse/FRA); Ericsson Racing Team (Neil McDonald/ING), da Suécia; Piratas do Caribe (Paul Cayard/EUA), dos Estados Unidos; Movistar (Bouwe Bekking/HOL), da Espanha; e Premier Challenge (Grant Wharington/AUS), da Austrália.


A Volvo Ocean Race terá oito meses e os competidores navegarão por 31.250 milhas náuticas, mais de 57 mil quilômetros. A regata começa em 5 de novembro, com uma prova local em Sanxenxo, na Espanha. A primeira perna terá largada em Vigo, também Espanha, no dia 12 de novembro. A regata de volta ao mundo passa ainda por Cidade do Cabo (África do Sul), Melbourne (Austrália), Wellington (Nova Zelândia), Rio de Janeiro (Brasil), Baltimore, Annapolis e Nova York (Estados Unidos), Portsmouth (Inglaterra), Roterdã (Holanda) e Gotemburgo (Suécia)