A idéia deste artigo surgiu de observações de pessoas caminhando e as expressões de esforço e sofrimento incabíveis para atividade tão prazerosa e natural para nós humanos. A estrutura corporal humana tem como base o esqueleto ósseo que é o componente mais sólido. Vamos imaginar este esqueleto como se fosse uma orquestra e cada osso um músico. Estes músicos se comunicam através das articulações e dos demais tecidos que nos constituem e precisam estar sintonizados para que a orquestra fique afinada. Se um dos músicos desafina a orquestra irá desafinar. O ritmo desta orquestra permite que uma pessoa percorra ao redor de 4 a 6 km por hora. Uma pessoa caminhando, a cada passo, transfere o peso de uma perna para outra compondo uma melodia. Durante a caminhada, ambos os pés estarão em contato com o chão apenas 25% do tempo total quando toda a orquestra estará em uníssono. Isto significa que a maior parte do tempo (75%), a pessoa estará apoiada com todo o peso sobre apenas uma das pernas, como se parte da orquestra estivesse em silêncio oferecendo suporte para a outra parte, em modulação constante criando uma harmonia. O ritmo é ditado pela amplitude e velocidade dos passos. Nós humanos por utilizarmos uma atitude bípede vertical para nos deslocarmos necessitamos para sermos eficientes, de um determinado alinhamento vertical entre os grandes segmentos corporais. A cabeça de um adulto que pesa em torno de 4 a 5 kg precisa estar centralizada sobre o tronco que por sua vez descarrega peso sobre a pelve (bacia) e o transmite para o pé de apoio. Dito desta forma parece uma tarefa complicada, mas, é simples, quando a pessoa que está caminhando encontra seu ritmo ideal ou sua velocidade ideal. É necessário levar em conta que, quanto mais a pessoa acelera a marcha mais este alinhamento relacional (eixo) será inclinado à frente (vide foto). Vamos considerar, portanto, que há um eixo adequado para a caminhada que é mais vertical e um outro eixo que é mais inclinado indicado para a corrida. Traduzindo,quanto mais rápido uma pessoa se desloca maior será a inclinação do eixo para frente. A maioria das pessoas, por desconhecerem esta regrinha, contraem-se exageradamente na tentativa de manter estabilidade e imaginam que assim procedendo estão se esforçando e tendo benefícios adicionais. Estão na verdade, impedindo de maneira voluntária que a orquestra se mantenha afinada. Uma sobrecarga articular, um encurtamento no tecido muscular seguido de fluxo de fluidos inadequado será a conseqüência desta atitude por excesso de tônus e haverá um desgaste prematuro do organismo e provavelmente dor. Está sendo bastante veiculado pela neurociência que atividades prazerosas desencadeiam no organismo a produção de neurotransmissores como a norepinefrina, dopamina e serotonina os quais tem sido o foco de atenção dos pesquisadores que estudam estados de ânimo, humor, ansiedade, agressividade, depressão moderada, stress e as repercussões conseqüentes no comportamento e qualidade de vida. Portanto, substitua as expressões de esforço e sofrimento por um sorriso, adequando seu ritmo à atividade que está praticando. Solo A estabilidade corporal humana é dinâmica podemos. Podemos dizer que caminhar é uma sucessão de desequilíbrios. Variar o tipo de solo onde se caminha enriquece as informações sensoriais e alimenta a capacidade adaptativa das articulações. Caminhe em diferentes pisos: grama, areia, pisos irregulares e regulares, para manter esta capacidade adaptativa eficiente. Esteira Se a pessoa utiliza a esteira, convém lembrar que a solicitação que irá encontrar quando caminhar em pisos diferenciados é muito mais rica, e precisa de uma capacidade adaptativa requintada. Na esteira o “chão” é que anda e determina o ritmo. O organismo se adequa a isto aprendendo a ser ineficiente para pisos diferenciados. Convém estar atento para o risco de contusões quando estas pessoas da esteira estejam no mundo real. Pés Os pés são a base e tem duas funções importantíssimas: a fase de contato com o solo, onde funciona como amortecedor de impacto, e a fase de propulsão, onde acontece a força para o deslocamento. A sola dos pés é riquíssima em sensores (mecanoreceptores) e fornece as informações que permitem que a pessoa adeque a pisada às variações do solo. As pessoas atualmente estão calçadas o tempo todo. Grande parte das informações de contato como o solo se perdem por causa do calçado. A sola oferece sempre a mesma informação, é sempre igual. A adequação ao solo deixa de ser elaborada pelos pés e passam direto para os joelhos, bacia e coluna. *José Augusto Menegatti é Professor de educação física formado pela Universidade de São Paulo. Foi preparador físico da equipe de voleibol masculina do Esporte Clube Banespa e da Seleção Brasileira. Durante 30 anos de trabalho com o esporte desenvolveu técnicas com resultados rápidos e eficientes. Um destes trabalhos começou em 1989 quando iniciou seus estudos sobre o Rolfing. Hoje como professor e instrutor formado pelo Rolfing Institute (Boulder, Colorado, USA) possui um Núcleo de Estudos em Fluência Corporal em Ilhabela/SP, que oferece cursos, aulas e sessões para pessoas interessadas na sofisticação de sua corporalidade, e para profissionais da área da educação e saúde interessados em aprimorar sua proposta de trabalho.