A construção civil é a atividade humana que mais consome recursos naturais do planeta. Consumo que não deve ser pensado apenas quando da construção, mas ao longo de todo o ciclo de utilização da edificação. Assim, uma edificação pode ser considerada sustentável mesmo que não tenha sido construída segundo preceitos ecológicos, bastando que se assuma a economia de recursos naturais como um fator determinante no seu uso.

A água, que já foi tida como um recurso infinito, é considerada como o mais importante recurso para a manutenção da vida. Sua escassez já afeta pessoas em diversas regiões do planeta, incluindo o Brasil, contudo, podemos facilmente minimizar seu consumo a partir de um uso mais criterioso.

Ilhabela, apesar de inserida numa das regiões de maior pluviosidade do país, não está livre da ameaça de escassez de água, já que as características físicas de seu território não favorecem sua retenção no subsolo, o que associado a uma distribuição desigual das chuvas ao longo do ano pode promover escassez localizada a médio e longo prazo.

A redução das reservas de água aliada a uma demanda crescente nos obriga a pensar sobre um uso mais eficiente ou racional da água, controlando perdas, evitando desperdícios, minimizando o consumo da água limpa e reduzindo também a produção de esgotos.

As perdas e o desperdício podem ser evitados através da eliminação de vazamentos e pelo uso mais consciente da água, enquanto a diminuição do consumo pode ser proporcionada pelo uso de equipamentos como os redutores de fluxo de água; pelo reuso das chamadas águas cinzas; ou ainda pela captação e utilização de águas de chuva.

O reuso das águas cinzas, provenientes de lavatórios e chuveiros, já vem sendo praticado em diversos países, sendo ainda pouco difundido no Brasil, em parte por uma questão cultural. Serve para diminuir a demanda sobre os mananciais, liberando água de boa qualidade para usos como o consumo humano e a produção de alimentos, além de reduzir a sobrecarga nos sistemas de coleta e tratamento de esgoto. Seu uso é mais indicado em construções novas ou em edificações que passem por reformas mais radicais e cuja utilização justifiquem seu emprego.

 

A captação de água de chuva

 

Os sistemas de captação e reservação de águas de chuva são outra alternativa bastante viável para diminuirmos a demanda sobre a água tratada. Têm como vantagem a possibilidade de implantação em construções já existentes a um custo relativamente baixo, principalmente se aproveitarmos telhados e calhas pré-existentes como parte do sistema.

Tais sistemas servem ainda como auxiliares na diminuição dos impactos de enchentes causadas pela excessiva impermeabilização do solo urbano, sendo objeto de legislação especifica – Lei Estadual 12.526/2007 – que obriga a captação e retenção de águas pluviais em lotes que tenham área impermeabilizada superior a 500 m2.

O uso da água de chuva se presta aos mais diversos fins, com aplicação em edifícios residenciais e comerciais, na indústria, na agricultura e em outros segmentos produtivos. Dos usos não potáveis poderíamos destacar: rega de jardins, descarga de vasos sanitários, lavagem de roupas, abastecimento de piscinas, lavagem de veículos e calçadas, dentre outros. Sua utilização para consumo humano também pode ser considerada viável, desde que devidamente tratada e monitorada.

Ilhabela, com indicie pluviométrico médio entre 1.300 e 1.500 mm anuais, apresenta um bom potencial para implantação de sistemas de captação e reservação de água de chuva para a complementação dos sistemas públicos de abastecimento.

 

Os sistemas de captação

 

Os sistemas de captação de água de chuva podem ser instalados em edificações em construção ou já construídas. A criação de uma rede hidráulica separada da de água potável, permite o uso do sistema em seu potencial pleno.

Mesmo que não se queira, ou seja inviável, alterar as instalações pré-existentes, ainda se pode aproveitá-la de forma simples, em jardins, piscinas, na limpeza geral e lavagem de veículos, reduzindo significativamente o consumo. O que pode ser bastante vantajoso em residências de veraneio, clubes, pousadas e hotéis, principalmente naqueles com grandes áreas verdes.

Há varias formas de captar a água da chuva, desde sistemas mais simples, constituídos por equipamentos convencionais, até sistemas mais elaborados, que utilizam equipamentos projetados para esta finalidade. A principal diferença, além do custo, está na capacidade dos sistemas mais sofisticados em facilitar sua operação e manutenção, trazendo mais garantias e maior eficiência no processo.

De forma sintética podemos dizer que a chuva que atinge o telhado é captada a partir das calhas e dirigida para um sistema de filtragem, que retira folhas e outros detritos, seguindo para um reservatório onde a água é estocada ao abrigo da luz e do calor, para evitar a proliferação de algas e de bactérias. 

A primeira água, aquela que “lava” as impurezas do telhado, deve ser descartada pela possibilidade de carregar microorganismos e poluentes atmosféricos. Normalmente, poucos minutos após o início das chuvas a água já adquire características de pureza suficientes para o seu aproveitamento.

Dependendo da configuração do sistema, a água da cisterna pode ser encaminhada para um tratamento complementar, e a partir daí utilizada por gravidade, bombeada para um reservatório elevado, ou pressurizada para uso direto.

Antes da instalação de um sistema de água de chuva é recomendável que sua viabilidade seja analisada por um profissional habilitado, que avaliará a capacidade de captação do telhado, as instalações existentes, o perfil de utilização da edificação e o dimensionamento ideal da área de armazenamento.

Em nosso escritório temos registrado um aumento da procura por estes sistemas em construções novas, sendo ainda relativamente baixa a demanda para construções já existentes. Acreditamos que isto se dê em parte pela crença na dificuldade na implantação destes sistemas e também pela ideia de que os custos envolvidos sejam sempre elevados.

De maneira geral podemos afirmar que estes sistemas oferecem uma boa relação custo/benefício, com o custo de implantação se pagando em um tempo relativamente curto. Custo que fica ainda mais reduzido se considerarmos o custo ambiental do uso e, principalmente, do desperdício da água proveniente dos sistemas públicos de abastecimento.

Acreditamos que estes fatores, associados a um aumento da consciência ambiental, poderão levar um número cada vez maior de pessoas a buscar alternativas para um uso mais criterioso da água, sem nos esquecermos que os pequenos gestos podem fazer toda a diferença na manutenção deste valioso recurso para as gerações futuras.

 

 

Giselle Bahiense

Arquiteta (UFF), Especialista em Conforto Ambiental e

Eficiência Energética (USP) e Titular da Oficina de

Criação de Espaços Sustentáveis em Ilhabela.

 

Leonardo Cunha

Arquiteto e Urbanista (UFF), Especialista em Planejamento

Ambiental (UFF), Mestre em Ciência Ambiental (USP) e Titular

da Oficina de Criação de Espaços Sustentáveis em Ilhabela.