DA BRASILIDADE À ARQUITETURA SUSTENTÁVEL
Por Isabel Scisci*
Os grandes temas dessa edição foram a Brasilidade e a preocupação com o Meio Ambiente. A Mostra aconteceu de 26 de maio a 12 de julho no Jockey Club e contou com mais de setenta ambientes assinados por grandes nomes da arquitetura, design e paisagismo.
Os profissionais tiveram uma nítida preocupação em incorporar a Natureza nos projetos apresentados, além de investir em medidas ecológicas. Abusaram dos elementos naturais nos revestimentos, como pedras, palhas e madeiras, espalharam quadros da Mata Atlântica e com imagens de praia pelos ambientes, celebraram o artesanato brasileiro, apostaram em plantas que necessitam de pouca água, aderiram ao uso de LED na iluminação, resgataram toras, raízes e galhos para a confecção de móveis e cuidaram dos resíduos gerados pelas obras… Mas acima de tudo, os temas estavam presentes no nosso jeito despojado e criativo de morar.
O primeiro ambiente já colocava o visitante em contato com os conceitos da Mostra. A Casa da Gente, de Marina Linhares, teve como ponto de partida uma casinha simples que havia no local. A sala de estar, repleta de móveis de design contemporâneo, convivia harmoniosamente com o fogão a lenha , o piso de seixos, a parede de madeira reflorestada, os tapetes de tear e os quadros indígenas, resultando num ambiente iluminado e acolhedor.
Os jardins tropicais marcaram presença, com suas árvores, folhagens e flores exóticas, que criaram um oásis de verdes, formas e texturas únicas. O Bosque Tropical, criado por Gilberto Elkis, encantou quem caminhava pelo deque feito de madeiras reaproveitadas de uma antiga ponte desfeita no litoral da Bahia. Lindos exemplares de fênix, clorofitos, plumérias e palmitos se alternavam com samambaias pendentes em um paredão de 3 metros de altura. A luz suave que penetrava devagarzinho pelas folhas, a visão dos peixes coloridos que se destacavam sobre um fundo de seixos pretos e a exuberância das espécies proporcionaram uma experiência única e emocionante.
A Casa do Bosque, do baiano David Bastos, se destacou com um projeto inusitado em que a construção não tem paredes, nem teto. Ele se utiliza de vidros e uma estrutura de madeira com aletas reversíveis que, além de proporcionar um frescor agradável, permitem a visão do jardim circundante e deixam entrar a luz natural.
O banheiro, originalíssimo, tem a ducha ao ar livre, sem qualquer cobertura… O chuveiro e a torneira são negros, com o design das peças arrojados e contemporâneos… Uma feliz mistura de simplicidade e sofisticação na medida certa. A ideia foi fazer uma construção de fácil montagem que pudesse se adaptar em qualquer lugar do Brasil.
A Casa Container, construída em menos de 15 dias, é um projeto totalmente sustentável , barato e ecológico. Os arquitetos Daniel Kalil e Karinna Buchalla se interessaram pelos contêiners descartados no Porto de Santos e resolveram utilizá-los em toda a estrutura do ambiente. O projeto conta com quatro contêinser de 12 x 2,50 m, que formam os espaços internos e mais dois de 6 x 2,50 m, onde ficam a piscina e o deque. O forro de gesso possui um revestimento térmico e acústico especial, feito de lã de garrafas PET.
O arquiteto Roberto Migotto, em seu Espaço Brasil, soube unir com maestria a prosaica técnica do pau a pique com materiais de alta tecnologia como o Silestone. Ele compôs um ambiente ao mesmo tempo rústico e elegante com tons terrosos, arranjos de cactos e bromélias, tapetes artesanais com imagens de plantas e tucanos, móveis icônicos dos anos 1950 e um acervo precioso de arte com peças de grandes nomes como Sérgio Matos, Joaquim Tenreiro e Sérgio Rodrigues .
O Home Gourmet de Adriana Consulini e Izilda Moraes, encanta pelo uso de materiais naturais, cores suaves em tons de branco e palha e confortáveis sofás, que trazem luminosidade, charme e bem estar. Elas conseguiram unir beleza e funcionalidade ao espaço, além de capricharem na escolha das obras de arte com temas abstratos.
A Casa Flamboyant, de Dado Castello Branco, também privilegiou o uso de materiais naturais e a vista para a paisagem. Ela ficou pronta em sete dias e contou com uma armação de perfis de aço que elevou a construção a 55 cm do terreno, aproximando-a da copa das árvores. Chapas cimentícias compunham as paredes, protegidas externamente por um mosaico de pedras. Enormes esquadrias de alumínio permitiam a ventilação cruzada, dispensando o uso de aparelhos de ar condicionado. O arquiteto usou cores neutras e espalhou obras de arte pelos ambientes, como a obra de Vik Muniz, localizada no living.
Nessa edição arquitetos, decoradores e paisagistas reinventaram os espaços com a intenção de criar ambientes inovadores, atraentes, sustentáveis e com um quê de Brasil. Paredes de pau a pique, pisos de bambu, lareiras ecológicas, mármores rústicos, cestarias indígenas, madeiras de resgate, poltronas de papelão e lustres de Baccarat … A arte e o artesanato nacionais se misturaram à tecnologia de ponta e ao requinte. Tudo isso resultou em soluções que não prejudicam o meio ambiente e deixaram a Casa Cor mais Verde e Amarela e Glamourosa do que nunca!
*Isabel Scisci é paulistana, formada em Psicologia pela PUC e mora em Ilhabela há quase dez anos. Depois do teatro, onde atua, escreve e dirige, a sua segunda paixão é a arquitetura. Já produziu reportagens visuais e escreveu matérias para as revistas Casa e Jardim, Reforma Fácil, Palco e Platéia e Psicologia Atual, entre outras.