*Isabel Scisci

 

O Evento comemorou 30 anos de existência com 70 ambientes bacaníssimos para celebrar a vida. Dessa vez se escolheu como endereço o antigo prédio do ambulatório do Jockey Club, um exemplar Art Déco dos anos 1940, assinado pelo arquiteto francês Henri Sajous, que está em processo de restauração. O piso térreo foi destinado aos arquitetos consagrados e o primeiro pavimento aos novos talentos.

 

Atualmente, além de vinte capitais brasileiras, quatro países recebem a Casa Cor: Bolívia, Chile, Equador e Peru e em 2017 ela entra no mercado norte-americano com a primeira Mostra em Miami.

 

Já faz tempo que a casa deixou de ser apenas um abrigo para se transformar num lugar de prazeres e de trabalho. Queremos receber amigos em cozinhas Gourmets, assistir a um bom filme em uma poltrona confortável e trabalhar em um Home Office acolhedor. Aliar beleza com tecnologia, funcionalidade com o verde da natureza, sustentabilidade com harmonia e sofisticação com rusticidade.

 

Tudo isso foi contemplado nesta nova edição, que ofereceu uma viagem pela história da arquitetura e do design – da escola alemã Bauhaus (início do século 20), passando pelo Art Déco dos anos 30 até o design Modernista brasileiro das décadas de 40 a 70. Os espaços estavam mais fluidos, com menos paredes e ambientes multiusos. Fotografias de diversos tamanhos se espalhavam em prateleiras e pelo chão. Aliou-se o estilo escandinavo, com madeiras claras e cores sóbrias, às plantas tropicais. O mármore, em bancadas e pisos, ao cobre – nas luminárias e mesas laterais. O dourado escovado ou cromado criou um interessante contraste com as texturas rústicas. Evidenciou-se também os elementos naturebas como pedras e cristais, os veludos e as formas curvas nas poltronas e sofás, com uma leve pegadinha retrô.

 

Uma das principais atrações foi a Casa Acqua, da Inovatech Tecnologia. Projetada por Rodrigo Loeb e Caio Totto, ela chega pronta ao terreno e é erguida rapidamente, sem desperdícios. A construção é composta por quatro volumes independentes e prevê a anexação de outros módulos. Reaproveita água e se utiliza de placas para captação de energia solar. Simples e agradável, os ambientes exibiam mobiliário de pinus, cestarias, cerâmicas, objetos de barro e pedra sabão.

A Sala Íntima de Alexandre Dal Fabbro foi inspirada no Rio de Janeiro. Exibiu uma decoração leve e neutra, com tons de cinza e areia. Um móvel multifuncional, atuava como aparador, biblioteca, bar, lareira e até como apoio para o computador.

 

O Jardim Suspenso de Andrea Teixeira e Fernanda Negrelli, com ares de Gazebo de inverno, teve como inspiração a Natureza em suas diferentes fases do ano. As cores neutras com dourado fosco, o piso de mármore crema marfil e a marcenaria clara de carvalho americano, deram uma atmosfera de requinte e relaxamento. O paisagismo de Leda Jafet exibia terráreos, plantas nativas e orquídeas, distribuídas também em uma original estante flutuante. Uma grande lareira centralizada no espaço com bancos ao redor, convidava para um bate-papo perto do fogo.

 

O Living e o Jardim de Inverno de Dado Castello Branco foram pensados em clores claras como o branco, bege e cinza, com poltronas confortáveis do design moderno e contemporâneo, para compor um local de descanso, leitura, contemplação e também ideal para receber os amigos. Um belo arranjo de orquídeas se destacava no ambiente.

O Living da Praia, ambiente rústico do baiano David Bastos, integrou três ambientes com leveza e aconchego. Para criar uma atmosfera intimista e natural ele instalou balizadores de led nas paredes, despejou areia no piso e decorou com tapete de algodão, cortina de palha de dendê e sofás de linho. Acor branca predominava com alguns poucos elementos de azul e rosa bem suaves. Grandes fotografias em preto e branco se espalhavam pelo piso e paredes, imprimindo sofisticação ao estilo praiano.

 

O destaque do Estúdio Jabuticaba do baiano Nildo José, estreante na Casa Cor, foi um banco de concreto que percorria todo o loft. Logo na entrada ele servia como apoio para bolsas e chapéus. Depois se transformava em aparador, prateleira, banco de mesa de jantar, apoio de lenha da lareira, criado-mudo e terminava como porta-toalhas na área do banheiro. Uma jabuticabeira suspensa por cabos de aço e envolvida pela técnica japonesa Kokedama, foi usada para dividir sala e quarto, valorizada como uma escultura. Uma grande caixa preta se transformou em banheiro, exibindo a bela banheira Amalfi, da Doka. A luz embutida e a madeira clara no piso trouxeram conforto ao ambiente clean e cheio de bossa.

 

Celebrar a dois era o intuito da arquiteta Paola Ribeiro quando projetou o Loft no Campo. O resultado foi um ambiente confortável e intimista, que uniu o clima campestre ao estilo contemporâneo. A única divisória do loft era de vidro espelhado, escondendo o banheiro. A bancada de madeira com laca verde percorria toda uma parede, começando como apoio de cooktop até se destinar ao home office. Fotografias com a temática da natureza e o verde das plantas e flores completavam o clima serrano.

 

O Tributo aos Trinta, de Roberto Migotto fez alusão aos anos da Casa Cor, ao tempo de sua carreira e à década de 1930, do emblemático designer francês Jean-Michel Frank. O ambiente era dividido em escritório e sala de estar por um hall no centro. Tudo absurdamente chique e elegante. O glamour estava presente nos tons de nude e nas diversas peças do mobiliário, incluindo uma cadeira de Salvador Dali. A maioria dos móveis de linhas curvas fazem parte da nova coleção do arquiteto, lançada na mostra. O ambiente era todo revestido de pergaminho, onde se destacavam as obras da dupla EMME2.

Um dos ambientes mais festejados foi o Unidade Shoji 04, da Yamagata Arquitetura, estreante na Mostra. Paloma Yamagata, Bruno Rangel e Aldi Fiosi propuseram um Japão sem folclore, remetendo aos pequenos e aconchegantes espaços nipônicos. O quarto, banheiro e cozinha eram compartimentados por painéis de treliça, os shoji da cultura oriental, que organizavam os espaços ao mesmo tempo que deixavam a luz entrar. Urbano e atemporal, o loft transmitia um clima zen de paz e delicadeza em seus tons de branco e madeira clara. Nas paredes se usou um papel com aspecto descascado, referência à filosofia Wabi-sabi, onde se valoriza a beleza das imperfeições.

O arquiteto Léo Shehtman saiu do convencional e projetou um lounge dentro de um vagão de trem de 1945, da antiga Estrada de Ferro Sorocabana. Isso representou um grande desafio, já que ele estava bem deteriorado. Ele constuiu em seu interior uma estrutura de madeira, ganhando amplitude e deixando o espaço homogêneo. Buscou resgatar a essência do Movimento Art Déco desenhando grande parte do mobiliário. No lado externo o vagão foi coberto por um grafite colorido que atraía olhares para o espaço. O resultado foi sensacional, um exemplo de obra sustentável transformada em verdadeira arte.

 

A Casa Cor São Paulo 2.016 soube muito bem celebrar. Celebrou a Natureza, a Sustentabilidade, a Criatividade, o Bem Estar, a Originalidade, a Beleza e a Ousadia. Celebrou ambientes para acolher os amigos, compartilhar lembranças, contemplar estrelas, se emocionar, ler, sonhar, rir, silenciar, beber, dançar, curtir, cantar, ouvir música, brindar. Celebrou a alegria de estar vivo e poder usufruir e dar significado a tudo isso. Afinal, somos muito jovens em qualquer idade e não temos tempo a perder. O que conta de verdade não é o tempo passado, mas quanto desse tempo usamos com sabedoria e prazer. E o prazer é coisa muito séria. Tim-Tim!

 

*Isabel Scisci é paulistana, formada em Psicologia pela PUC e mora em Ilhabela há quase dez anos. Depois do teatro, onde atua, escreve e dirige, a sua segunda paixão é a arquitetura. Já produziu reportagens visuais e escreveu matérias para as revistas Casa e Jardim, Reforma Fácil, Palco e Platéia e Psicologia Atual, entre outras.