Estive em São Paulo ansiosa para conferir de perto duas das mais importantes Mostras de decoração do país – a Casa Cor e a Mostra Black.

Fui primeiro na Mostra Black, que iniciou em 28 de maio e termou no dia 09 de julho. Na sua terceira edição teve uma pegada mais cosmopolita ao se concentrar em cinco andares de uma das torres do shopping JK Iguatemi.

O endereço é um dos mais exclusivos da cidade, com uma vista espetacular e impactante… E foi interessante observar como os arquitetos se apropriaram da paisagem emoldurada… Não faltaram obras de arte, peças de design consagradas e projetos de iluminação incríveis… Mas esperava encontrar mais ousadia e novidades…

Apesar de que inovar na decoração é condição para se estar na Black (os participantes não pagam para participar), foram poucas as propostas conceituais… Uma exceção, por exemplo, foi a dupla Fernanda Abs e Fred Benedetti que apostou em um ambiente totalmente branco, bem clean e cheio de simplicidade, seguindo a velha máxima que menos é mais…

 

 

 

Na maioria dos ambientes a cor cinza prevaleceu e os espaços, até mesmo pela limitação das características do edifício, mostravam elementos repetitivos como a profusão de lareiras, estantes e quadros em preto e branco…

 

A Mostra Black, idealizada por Raquel Silveira, teve a curadoria de Sergio Zobaran, com trinta espaços ambientados por um mix de renomados arquitetos e novos talentos, vindos de diversos estados do Brasil. Ela reuniu profissionais como João Armentano, Roberto Migotto, Dado Castelo Branco, Gilberto Elkis e alguns designers como Jader Almeida, Guto Requena e Zanini de Zanine para customizar dez bicicletas que foram leiloadas em caráter beneficente.

 

Claro que todos esses nomes descolados nunca decepcionam e, de qualquer forma valeu a pena admirar o bom gosto e o luxo da maioria dos ambientes… Mesmo em meio ao cinza foi possível encontrar beleza, estilo e elegância.

 

Destaco o ambiente multifuncional e cheio de sofisticação criado por Débora Aguiar, que propôs quase que uma outra exposição dentro da própria mostra.

O espaço teve uma seleção criteriosa de materiais de acabamento, além de móveis e luminárias desenhados pela própria arquiteta, inspirada nas últimas tendências de Milão… Tudo em tons neutros. Em uma estante com nichos vazados ela espalhou desde obras chinesas da dinastia Ming até outras de artistas como León Ferrari, Geraldo Barros e Victor Brecheret, além de livros e objetos raros. A paisagem das janelas foi ladeada por grandes poltronas e sofás em tons terrosos e não faltou um amplo jardim.

 

 

Outro espaço que colocou as obras de arte como protagonistas foi o do estreante na Mostra, mas super experiente, Fernando Piva. Ele selecionou um generoso acervo de várias épocas, obras de artistas como Burle Marx, Di Cavalcanti e Miguel Rio Branco, para compor um loft de 65 m², cercado de ponta a ponta por uma magnífica vista da cidade. O resultado foi de muito charme e requinte.

 

A Triplex Arquitetura esbanjou jovialidade e inovação no espaço Estar Contemporâneo, evidenciados por intervenções modernas e cheias de bossa e nos móveis desenhados exclusivamente para a Mostra pelas arquitetas Adriana Helú, Carolina Oliveira e Marina Torre lobo. Elas apostaram em peças multiuso, tons pastéis e luz difusa. E tiveram a grande sacada de colocar um pórtico de madeira emoldurando a janela e o skyline da cidade…

 

 

 

A Casa Cor, que já está na vigésima sétima edição, este ano priorizou o Morar Bem. Abandonou as antigas subdivisões como a Casa Hotel e Casa Office e apresentou 78 ambientes amplos e integrados, resultando assim mais compacta. Ela se realizou novamente no Jockey Club, começando no dia 28 de maio e terminando no dia 21 de julho.

 

Eu gostava mais quando a cada ano ela se apresentava em um local diferente… Ela já ocupou mansões, hospitais e escolas. Os arquitetos também pareciam mais empenhados em criar e propor coisas novas…

 

O arquiteto Roberto Migotto, que já participou de vinte edições da Mostra, este ano é destaque com a Casa de Praia, um espaço de 500 m² cheio de tonalidades de azul, bem fresh and cool… E um Karmann Guia de 1968 estacionado no jardim… Logo na entrada se destaca um piso de ladrilho hidráulico com formas geométricas que se projeta na parede… Poltronas com design renomado se misturam com luminárias dos anos 50 e telas e fotografias de artistas como Tomie Ohtake, Carlito Carvalhosa e Alain Burgier.

 

 

 

O espaço assinado por Ana Maria Vieira Santos reuniu mobiliário contemporâneo a obras de arte e objetos clássicos garimpados em antiquários. Logo na entrada se podia avistar uma mesa de bilhar nada convencional – preta com pés de metal – sob o pé direito de dez metros de altura. E chamava a atenção o grande painel envidraçado que dava para um belo jardim… Ela se inspirou na vida moderna de um homem que coleciona coisas antigas para criar um ambiente cool e despojado… Os itens que preenchem o ambiente levam a assinatura dos irmãos Campana, Jaqueline Schor e Marília Razuk, entre outros. A arquiteta investiu em materiais como nanoglass, madeyra vecchia e ebanizada que fecharam a decoração com muito estilo e aconchego.

 

 

 

As principais tendências que se pôde notar, tanto na Mostra Black como na Casa Cor, foram: a ênfase numa iluminação cênica, a valorização do design retrô, do acrílico, da fórmica nas cozinhas, do papel de parede que também foi usado para revestir armários e tetos, além das texturas naturais espalhadas nos sofás, almofadas, tapetes e cortinas. Os algodões, as sedas, linhos e lãs definitivamente estão em alta… E também o veludo, o couro e as peles… Não faltaram também móveis multifuncionais e objetos de decoração em forma de animais que estavam por toda parte…

 

A Mostra Black, pode-se dizer que é uma versão mais elitista da Casa Cor, que tem um apelo mais comercial, mas ambas estão à quilômetros de distância da maioria dos brasileiros… Podemos considerá-las como uma espécie de “passarela” do design, onde se pode aprender como harmonizar um ambiente brincando com a simetria, a luminosidade, a tonalidade das cores, a fusão de estilos… E, claro, dá para se inspirar nos ambientes, mesmo que alguns deles sejam inatingíveis.

 

*Isabel Scisci é paulistana, formada em Psicologia pela PUC, mora em Ilhabela há sete anos e atualmente escreve o seu primeiro romance. Depois do teatro, onde atua, escreve e dirige, a sua segunda paixão é a arquitetura. Já produziu reportagens visuais e escreveu matérias para as revistas Casa e Jardim, Reforma Fácil, Palco e Platéia  e Psicologia Atual, entre outras.