Capital da Vela, paraíso ecológico, maior ilha do litoral brasileiro… Há muitas formas de classificar Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. Para muitos, porém, uma única palavra basta para descrevê-la: lar. Esse é o maior significado de Ilhabela para as 16 comunidades tradicionais de caiçaras que vivem na região, cujos hábitos vêm sendo capturados com carinho pelo olhar atento do fotógrafo Rodolfo Tucci.

Esse trabalho já soma mais de 4 mil fotos, das quais 80 foram selecionadas para compor a exposição Almar – Um Retrato do Isolamento, que poderá ser vista de 12 a 31 de maio, na Secretaria de Cultura de Ilhabela, com entrada franca.

Embora não seja nativo, Rodolfo também pode chamar Ilhabela de lar. Abrindo mão de uma bem-sucedida carreira de diretor de arte de publicações importantes do mercado editorial brasileiro, ele se mudou com a família para a ilha em 2004 e, desde então, vem se dedicando exclusivamente à fotografia autoral.

Em março de 2006, munido de suas câmeras, Rodolfo passou dias convivendo com os caiçaras que moram na praia do Bonete, acessível somente pelo mar ou por uma trilha de terra que exige de três a quatro de caminhada. De lá para cá, esse tipo de “aventura” tornou-se parte da rotina do fotógrafo, que decidiu registrar o estilo de vida de uma cultura que, pouco a pouco está desaparecendo.

Rodolfo já fotografou o cotidiano e os moradores de sete das 16 comunidades tradicionais,
como são chamados os povoados de caiçaras que ainda vivem como seus pais, avós, bisavós…
Para ter acesso a essas comunidades, o fotógrafo muitas vezes “pega carona” na Ambulancha, uma lancha de 28 pés adaptada como UTI que leva assistência aos recantos mais inacessíveis de Ilhabela, incluindo as ilhas de Búzios e Vitória.

A exposição vai retratar, sob o olhar sensível de Rodolfo, o jeito de ser caiçara. “Quando conheci o trabalho de Rodolfo, fiquei muito feliz. Suas fotos não apenas retratam como captam a alma do caiçara. Acho que ele realmente se apaixonou pela nossa cultura”, afirma Maria Sônia Ferreira Dias, secretária municipal de Cultura de Ilhabela. Essa paixão é perceptível em cada uma das imagens de Almar – Um Retrato do Isolamento. As 80 fotos preto e branco e coloridas descortinam o cotidiano dos caiçaras respeitosa e carinhosamente, sem invadi-los. Retratos de pessoas simples e suas vidas simples, mas ricas de natureza e tradição. “A cultura caiçara está indo embora, como a Mata Atlântica”, diz Rodolfo. “Por isso decidi registrá-la cuidadosamente”.

O fotógrafo usará a exposição para arrecadar fundos que serão usados em benefício das comunidades mais carentes. A entrada é gratuita, mas serão vendidos postais e fotos. Promovida pela Secretaria de Cultura, a exposição abre a Semana da Cultura Caiçara, que contará ainda com outros eventos realizados entre os dias 12 e 18 de maio, entre eles a congada e a festa de São Benedito, duas das principais manifestações culturais da tradição caiçara.