Desde meados do ano passado temos observado em Ilhabela a presença de uma praga, que atinge principalmente coqueiros e palmeiras, deixando suas folhas esbranquiçadas. Vários clientes nos consultaram também sobre o mesmo problema. No início, achávamos que era uma espécie de cochonilha. Porém, após pesquisa realizada, inclusive junto à EMBRAPA, concluímos que tratava-se da mosca-branca.

Segundo Howard (2001), quarenta e três espécies de moscas-brancas são listadas em palmeiras, e destas, cerca de 80% em coqueiro, por ser cultivado em extensas áreas e também nos trópicos.

Consideradas uma das mais importantes pragas agrícolas no mundo, as moscas brancas têm causado, no Brasil, sérios prejuízos a várias culturas de relevante importância econômica.  E mais recentemente, têm sido observadas também na cultura do coqueiro (Cocos nucifera L.), planta bastante suscetível, principalmente, ao ataque da espécie Aleurodicus pseudugesi.

Somente após dois anos pode-se observar o reflexo do ataque desta praga sobre a produção do coqueiro, pois seu ciclo produtivo, do florescimento à colheita dos frutos, é de aproximadamente 24 a 32 meses.

A infestação desta espécie é a mais severa já registrada e vem ultimamente danificando coqueiros na região Nordeste, nos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba e Ceará, no Norte no Estado do Pará e no Sudeste do Estado do Rio de Janeiro.

A mosca branca completa no coqueiro todo seu ciclo de vida, que compreende as fases de ovo, ninfa (4 estádios) e adulto, e dura cerca de 22 dias.Quanto mais quente e seco o clima, menor é o tempo entre a fase de ovo e adulto. A parte inferior dos folíolos das folhas do coqueiro é o local de postura preferido das fêmeas de A. pseudugesii, onde os ovos são colocados formando pequenas espirais.

Entretanto, há espécies em que os ovos ficam presos ao folíolo por um pedúnculo curto. As ninfas, translúcidas e de coloração amarelo-clara, sugam a seiva da planta e secretam uma camada branca cerácea que as protegem. E assim permanecem durante todo o seu desenvolvimento na parte inferior dos folíolos.

A capacidade reprodutiva de algumas espécies de mosca-branca (100 a 300 ovos/fêmea) e a rapidez de multiplicação são tão grandes que chegam a produzir até 16 gerações por ano. A movimentação das moscas adultas acontece tanto à noite quanto nas horas mais frescas do dia. O vento é considerado o principal fator de sua disseminação.

O principal sintoma do ataque da mosca branca A. pseudugesii em coqueiro é caracterizado por um embranquecimento na coroa foliar, que é consequência de uma camada branca cerosa que a praga secreta na face inferior do folíolo, servindo de proteção para as ninfas.

Outro sintoma é uma fuligem preta um pouco pegajosa, denominada fumagina, que cobre a face superior dos folíolos das próprias plantas atacadas, bem como das demais que estão embaixo ou próximas dela. Plantas sujeitas à alta infestação ficam com a face inferior dos folíolos coberta por inúmeros fios alongados translúcidos e açucarados que se dissolvem ao serem tocados.

Essa camada, bem como os fios ou os flocos produzidos pelas ninfas para se protegerem e a camada de fumagina são barreiras físicas que interferem no processo de fotossíntese da planta, e consequentemente, na redução da produção. À medida que o ataque progride e que as folhas vão sendo colonizadas, as posturas passam a ser feitas nas folhas cada vez mais novas e até nos frutos.

Nas bananeiras são encontrados todos os estádios de desenvolvimento da espécie A. pseudugesii, razão pela qual, é considerada também como importante planta hospedeira dessa praga. Tem-se observado também a presença da praga em helicônias e alpínias.

A grande questão é: como combater a mosca-branca?

As maiores dificuldades no controle dela são: a não disponibilização de equipamentos compatíveis com o porte das plantas que chegam a atingir, na sua fase produtiva, mais de 15 m de altura; a velocidade de propagação e de multiplicação da praga; a densidade populacional elevada em que é encontrada na planta, chegando a povoar mais de 90% da coroa foliar; a barreira física formada pela camada branca cerosa na face ventral do folíolo que protege suas ninfas; sua ocorrência em áreas povoadas, incluindo residências, chácaras e condomínios, entre outros.

Em plantios ainda jovens e em mudas, a praga pode ser combatida com uma mistura de óleo óleos vegetais emulsionáveis que se encontram disponíveis no mercado a 2%, e detergente neutro a 1%. É necessário fazer pulverizações quinzenais, sempre nas horas mais amenas, com menos vento e dirigidas para a face inferior dos folíolos das folhas infestadas, para eliminação dos adultos emergentes.

Já em plantas de porte alto, ainda, não foi constatada a eficiência do uso dos óleos vegetais, devido, principalmente, aos pontos acima mencionados.

Produtores de côco estão usando produtos registrados para controle da mosca em outras culturas na tentativa de proteger a produção de sua lavoura. Infelizmente tais produtos agrícolas não podem ser usados em área urbana.

Já temos disponível um produto natural a base de extratos vegetais, sem restrições de uso, que de acordo com o fabricante tem alta eficiência no controle da mosca-branca e de outras pragas.

Antes da pulverização de qualquer produto, outras medidas simples podem ser adotadas, tais como: remoção das folhas mais velhas, e, em coqueiros mais baixos, uma lavagem com lavadora de alta pressão (tipo WAP) na face inferior das folhas remove boa parte da camada cerosa, ninfas e ovos.

Devido a rapidez com que a mosca-branca está se espalhando em Ilhabela, é necessário que haja uma preocupação de todos, inclusive do poder público, no sentido de combater a praga e divulgar o assunto,  alertando a comunidade sobre este problema.

Se cada um fizer a sua parte, aproveitando o inverno, período em que a reprodução da mosca-branca é menor, talvez consigamos exterminá-la de uma vez por todas de nossa cidade.

 

 

Fonte: EMBRAPA Tabuleiros Costeiros