O Pico do Baepi é a quinta montanha mais alta de Ilhabela, com 1.048 metros de altitude, e tem sua área protegida pelo Parque Estadual. A trilha que leva ao topo tem cerca de 3,5 quilômetros de extensão e requer 3 horas de caminhada morro acima, em terreno íngreme (bem íngreme!), misturado com trechos que exigem a ajuda de cordas e outros onde é preciso engatinhar sob bambuzais emaranhados.

 

A caminhada começa no bairro do Itaguaçu, e o início da trilha é sinalizado por uma placa que traz informações sobre a extensão, tempo de percurso e nível de dificuldade. O primeiro trecho corta uma encosta de sapê que, depois de alguns minutos, dá lugar ao frescor e à beleza da imponente Mata Atlântica. Em vários pontos da trilha, desde o sapezal até a mata, há degraus amparados por placas de madeira e pontaletes. Esta primeira parte dá a falsa sensação de que a aventura vai ser moleza… que nada! A subida continua, e só piora.

 

Vencido o primeiro trecho dentro da mata, uma placa educativa explica “Por que dentro da floresta é mais frio?” e orienta os visitantes sobre a importância de preservar nossos recursos naturais. Continuamos subindo.

 

Ao longo do caminho, a diversidade e beleza das espécies de árvores, plantas e flores e o barulho dos pássaros já valem o passeio, e apesar do cansaço, a vontade de vencer a montanha serve de combustível para continuar. Mais algumas placas trazem mensagens de conscientização ambiental e informam a quantidade de quilômetros percorridos.

 

À medida que o cume da montanha se aproxima, as dificuldades de percurso da trilha aumentam, e em alguns pontos, graças à experiência de nosso guia, contamos com o auxílio de uma corda para facilitar a subida. Em outro trecho crítico, um bambuzal emaranhado e muito próximo ao chão nos obriga a engatinhar por alguns minutos. É um daqueles momentos em que você pensa: “O que é que eu to fazendo aqui?”.

 

Passado o sufoco, uma extensa canaleta rochosa cercada por pedras irregulares e cobertas de musgo requer cuidado redobrado, e nos leva finalmente a placa que informa: “Parabéns! Você chegou ao Pico do Baepi”, seguida pela indicação de 3,5km. Como a placa foi instalada no final da trilha, ainda na mata, é preciso andar mais um pouco até chegar ao cume.

 

Saindo da mata, a primeira parada já é marcada por uma vista surpreendente da imensa reserva de Mata Atlântica que se esconde atrás das montanhas, seguida pela vista parcial do mar ao norte da ilha.

 

Mais alguns passos e uma pequena escalada sobre uma pedra, outra vez com a ajuda de uma corda, e estamos no topo do Baepi! A vista é deslumbrante, desde a face sul da ilha, com suas montanhas e pequenas praias, passando por toda extensão do canal de São Sebastião, com visão panorâmica da área urbanizada da ilha, até a face norte, onde se avista um longo trecho entre Caraguatatuba e Ubatuba e parte da Serra do Mar. Nas outras direções, há uma imensa área formada por montanhas de diferentes níveis cobertas pela densa Mata Atlântica. Não é possível ver nenhuma das praias do outro lado, nem mesmo o mar.

 

Depois de alguns minutos observando a paisagem e recarregando as energias, é hora de descer. São mais duas horas até chegar ao asfalto.

 

 

Ecoturismo

 

No final de 2002, um projeto desenvolvido pela ONG Sócio-ambientalista Ilhabela.org, com patrocínio da Natura, estruturou a trilha para a pratica do ecoturismo. A iniciativa incluiu a execução de estudo de capacidade de carga, projeto de adequação para evitar erosão e desmoronamentos que começavam a ser causados pelo efeito do pisoteamento e das chuvas, sinalização com placas que trazem informações sobre o percurso e conteúdo de educação ambiental, treinamento de monitores da comunidade local para abordar turistas na temporada e fazer levantamento do número de visitantes, e produção de material impresso com práticas de conscientização dos turistas e divulgação das empresas de ecoturismo locais habilitadas a guiar os turistas.

 

“Nosso trabalho pretendeu levantar o número ideal de turistas na trilha, através do estudo de capacidade de carga, e aferir quantas pessoas, efetivamente, a frequentavam. Tudo com o intuito de subsidiar a direção do Parque para um futuro Plano de Manejo da área”, afirma o ambientalista Ricardo Anderáos, diretor da Ilhabela.org e um dos idealizadores do projeto.

 

Sete anos depois, a estrutura implantada pelo projeto continua recebendo visitantes e tornou-se exemplo para o desenvolvimento do ecoturismo na região. O trabalho com os jovens guias da comunidade foi interrompido em 2006 pelo Parque Estadual, mas há empresas de turismo da cidade que oferecem passeios guiados pela trilha.

 

Recuperação da mata

 

Depois de fazer a regularização do traçado da trilha e iniciar o trabalho de monitoramento e educação ambiental dos visitantes, a ilhabela.org desenvolveu um projeto de recuperação florestal da Mata Atlântica na área do sapezal, no início da trilha. A área, de 25 hectares, é frequentemente devastada por incêndios ateados na região do Morro dos Mineiros, que fica aos pés do Baepi. No meio desse sapezal também há duas vossorocas, grandes áreas de erosão que podem no futuro provocar perigosos desabamentos.

 

O projeto desenvolvido pela ilhabela.org, que contou com a supervisão técnica de voluntários da Cetesb e Instituto Agronômico de Campinas, levou quase dois anos para ser aprovado pelo Instituto Florestal. Ele prevê a coleta de sementes no interior do Parque e recomposição da área devastada com um conjunto de técnicas que incluem a recomposição natural, transposição de serrapilheira da floresta adjacente e plantio de mudas.

 

Como o Instituto Florestal não autorizou a ONG a montar o viveiro de mudas dentro da área do Parque, a ilhabela.org buscou primeiro uma parceria com a prefeitura, para assumir a coordenação técnica do Viveiro Municipal de Mudas Aroeira. As negociações começaram na gestão do prefeito Manoel Marcos e se estenderam até o atual, Antonio Colucci. Como a Prefeittura não apoioou o projeto, a ONG buscou outras parcerias. Há cerca de dois meses o projeto de um viveiro em área provada foi aprovado pelo Centro de Experimentação em Desenvolvimento da Sustentabilidade, com recursos da Petrobras em parceia com a Unisantos. O viveiro, que está sendo edificado, começa a produzir mudas no próximo ano, quando o projeto de revegetação da trilha será retomado.

 

 

Antes de se aventurar

 

A trilha do Baepi é bem marcada e conta com boa estrutura. Há placas indicativas e educativas ao longo do percurso, degraus nos trechos de maior aclive e até um ponto de descanso, com troncos para sentar. Apenas no final da trilha, alguns trechos de maior dificuldade exigem cuidado e atenção para evitar acidentes.

 

No entanto, é preciso considerar que a trilha é classificada com nível alto de dificuldade e por isso é indispensável o acompanhamento de um guia que conheça o caminho e tenha experiência na atividade.

 

Dicas importantes:

 

Contrate um guia: a não ser que você seja um expert em trilhas, a ajuda de um profissional vai tornar seu passeio mais fácil, seguro e divertido.

 

Consulte a previsão do tempo: a caminhada só deve ser feita sob sol e bom tempo. Além do risco oferecido por uma eventual chuva ou tempestade, tanto na mata quanto no topo, de nada adiantará o esforço se você não puder curtir a vista.

 

Saia cedo: O ideal é entrar na trilha por volta de 7h da manhã, para ter tempo de fazer o passeio com calma e voltar antes de entardecer.

 

Use roupas e sapatos apropriados: o ideal é ir de calça e camiseta de manga comprida, para evitar os arranhões e picadas de insetos, e é fundamental usar um bom par de tênis, que ofereçam conforto e ajudem a proteger os pés e articulações durante o longo trajeto.

 

Leve água: não há água disponível na trilha e as cinco horas de caminhada são puxadas e vão exigir hidratação extra.

 

Preste atenção: durante todo o percurso, observe atentamente os lugares onde pisa e apóia as mãos.

 

Não deixe nada, não leve nada: óbvio, mas sempre bom lembrar – leve consigo todo o lixo que produzir e não retire nada da trilha ou da mata.