É uma tendência mundial o uso de vidros transparentes e espelhados nas construções, porém ainda não temos consciência de como esse recurso arquitetônico tem tirado a vida das aves. Esta ameaça moderna não se restringe apenas aos grandes centros urbanos. Acidentes deste tipo ocorrem em cidades pequenas também. Especialistas alertam que as janelas de vidros são um dos maiores causadores de óbitos de aves.

Em Ilhabela, não tem sido diferente. Apesar de já termos abordado este tema em edições anteriores, resolvemos escrever mais sobre o assunto. A Área de Soltura Cambaquara recebe cada vez mais aves vítimas de colisão em vidros. Neste ano, entre abril e maio, em apenas 20 dias foram resgatados 12 papagaios-moleiros em estado grave. Somente um deles sobreviveu.

Muitas aves que colidem passam despercebidas e nem sequer são encontradas. Acabam sendo devorados por gatos, cachorros ou descartadas pelo serviço público de limpeza. Em outros casos, as aves deixam o local atordoadas e com lesões graves, como hemorragia cerebral, fraturas de asas ou rompimento de órgãos internos, voando mais alguns metros e morrendo nas proximidades.

 

As aves são incapazes de enxergar painéis e janelas de vidros sendo eles transparentes ou espelhados. Elas não distinguem a diferença entre uma imagem real e uma refletida. Essa incapacidade de perceber esses obstáculos é a causa mundial de milhões de mortes de aves. Só nos Estados Unidos cerca de um bilhão de aves morrem anualmente.

 

Com base no conhecimento científico adquirido durante as últimas décadas é fundamental que diretores de empresas, gestores públicos, responsáveis por empreendimentos imobiliários, engenheiros, arquitetos, paisagistas e demais profissionais ligados à construção civil incorporem em seus projetos ações com objetivo de prevenir ou minimizar a morte de aves por colisão. Cabe também ao poder público zelar pelo aprimoramento das leis e políticas públicas para atingir esse objetivo.

 

Afinal, qual é a solução para as colisões em janelas e vidros?

 

A resposta é simples e a solução envolve muito mais o engajamento e a vontade – tanto de autoridades, como de qualquer um de nós – em exercer a cidadania e agir para resolver este problema. Se as aves não enxergam as janelas e vidros, a solução é torná-las visíveis. De acordo com a instituição “American Bird Conservancy”, é possível incorporar alguns elementos às janelas de residências e edifícios, diminuindo o risco de colisão. Fixar ou desenhar silhuetas de aves nos vidros, como era recomendado por especialistas no passado, não evita as colisões.

 

Antes de construir:

 

  • Usar vidros especiais com estruturas visíveis apenas para as aves, vendidos no mercado internacional;
  • Incentivar o uso de vidros foscos ou jateados, ao invés dos translúcidos;
  • Aplicar uma película de controle solar no vidro, que além de tornar-se visível para os pássaros, diminui a incidência da iluminação e do calor;
  • Projetar o vidro inclinado. Uma inclinação de 20 a 40% voltada para baixo já pode resolver o problema, pois estes não vão refletir o céu, as árvores e nem outros pássaros.

 

Construções já prontas:

 

A dica é criar barreiras visuais, como por exemplo:

 

  • Instalar plantas com caimento, formando uma cortina natural;
  • Instalar “brisés” solares para varandas envidraçadas;
  • Aplicar fitas adesivas perfuradas* que tornam janelas opacas do lado de fora, mas, ainda transparentes do lado de dentro;
  • Aplicar películas, tintas ou decalque com UV do lado exterior;
  • Colocar cortinas;
  • Instalar redes ou fios de nylon na frente dos vidros;

 

Estas são algumas das soluções que criam barreiras visuais que permitem que as aves sejam capazes de detectar a presença de um obstáculo.

 

O Instituto Passarinhar, desde 2009 desenvolve um projeto de pesquisa para entender melhor como funciona a visão das espécies brasileiras e criar métodos para evitar acidentes deste tipo. O site dá várias dicas e pede a sua participação cidadã se você já foi testemunha de alguma colisão de ave em uma estrutura de vidro. Suas informações são essenciais para que os pesquisadores brasileiros possam entender melhor este fenômeno, propor soluções a empresas e governo, além de mapear todos os acidentes com aves no país. Visite agora a página do Programa Nacional de Monitoramento Contínuo de Colisões de Aves, ou o formulário digital em www.colisoesdeaves.com ou www.aveslivres.com e envie seu depoimento.

 

Para grandes projetos é recomendado que um especialista da área seja consultado. Estudos mostram que não são somente os edifícios altos os principais alvos das aves, as edificações de até quatro andares tem sido responsáveis por grande numero de morte de aves.

 

Em Ilhabela, o novo prédio da Prefeitura tem chamado a atenção, infelizmente, pela grande quantidade de colisões de aves em suas fachadas espelhadas. Sem dúvida, ter janelas grandes de vidro para desfrutar da paisagem e ter iluminação natural é desejo de todos, mas as aves pagam um preço alto pela ação do homem e cabe a nós minimizar as consequências.

 

Nos sites abaixo você vai encontrar muito mais informações e soluções fáceis para evitar estas mortes silenciosas:

http://conexaoplaneta.com.br/blog/o-predador-invisivel-que-ameaca-a-vida-de-milhares-de-aves/

https://abcbirds.org/program/glass-collisions/bird-friendly-window-solutions/

http://www.vogelglas.info/public/vogelkiller2en.pdf

http://www.birdwatchingdaily.com/featured-stories/15-products-that-prevent-windows-strikes/

https://abcbirds.org/get-involved/bird-smart-glass/

http://www.flap.org/residential_fr.php

http://www.passarinhar.org.br/