A princípio parece estranho abordar o potencial natural de um lugar que é conhecido nacional e internacionalmente como um melhores lugares turísticos balneários deste país, com destaque para o turismo náutico, como é o caso de Ilhabela, mas o tema é também de suma importância turística, como veremos.

Estivemos ultimamente por duas vezes nesta bonita ilha para, além de apreciar suas inegáveis belas praias, conhecer, estudar e observar suas belezas naturais e, principalmente, observar a sua avifauna. Surpreendeu-nos seu potencial natural, em especial na área de serra, onde ainda é possível encontrar aves endêmicas e raras representativas da Mata Atlântica. Por enquanto, constatamos a ocorrência de cerca de 120 espécies de aves, em algumas horas de observação sistemática, onde prevemos existir cerca de 250 espécies, tomando-se por base nossa experiência. tomando-se por base nossa experiE Ainda é possível encontrar aves interessantes como o assustado e alegre papagaio-moleiro (Amazona farinosa), uma espécie rara em sua restrita área de distribuição, mas que sobrevoa em ruidosos bandos as matas locais, inclusive freqüenta algumas áreas arborizadas da cidade. O espetacular tié-sangue (Ramphocelus bresilius), considerada por muitos birdwatchers como uma das cinco aves mais bonitas do mundo, mostra o dom da arte da natureza representada em sua cor vermelha. Já os periquitos conhecidos por tiríbas (Pyrrhura frontalis), são freqüentemente vistos em frenéticos bandos “vasculhado” as árvores a cata de comida. Constatamos o incomum beija-flor-fada (Heliothrys auritus), raríssimo de se ver, mas que deslumbra o observador com seu colorido verde e branco. A flora também é riquíssima, conforme pode-se observar pelas diferentes colorações das formações arbóreas.

Há várias trilhas que permitem acesso a belíssimos ambientes naturais, bem como é possível trafegar em estradas de terra que, serpenteando a grande parte da ilha, possibilita a contemplação de paisagens realmente deslumbrantes. Sem contar a Trilha da Água Branca e a estrada de terra que atravessa o Parque Estadual da Ilhabela até a praia de Castelhanos, ambas de real beleza cênica e potencial ornitológico.

Portanto, além do potencial da sua fauna alada, Ilhabela possui belas paisagens e uma grande beleza cênica, lembrando que a paisagem é o conjunto daquilo que podemos visualizar naquele momento, podendo trazer sensação desagradável ou agradável. Já a beleza cênica natural pode ser definida como “o resultado visual e audível harmônico agradável formado pelo conjunto dos fatores naturais de um local ou paisagem” ou ainda “o resultado da representação cênica da Natureza”. É formada assim pelo cenário harmônico criado pelos bens da Natureza, que compreendem os bens visíveis e invisíveis como os sons, já que um pode completar o outro formando uma sensação única harmoniosa daquele local. A beleza cênica é, portanto, um dos atributos da paisagem e um dos fatores determinantes de sua valorização e utilização principalmente pelo ramo turístico.

Também é bom lembrar que o ecoturismo em todas as suas modalidades vem se desenvolvendo muito nos últimos anos, principalmente em países que possuem ainda grandes áreas naturais, como é o caso do Brasil, já que devido a crescente degradação em âmbito mundial do meio ambiente, decorrente de inúmeros fatores, locais outrora naturais e de beleza cênica estão sendo poluídos ou mesmo desaparecendo, prejudicando assim a prática do ecoturismo, que depende muito das características físicas naturais originais. Este processo degradatório valoriza ainda mais os últimos remanescentes com tais características, pois cada vez mais é difícil encontrar locais de grande beleza para ser admirado. A sensação de beleza e raridade da paisagem ou da cena natural acabam sendo fatores atrativos, ao mesmo tempo em que valorizam o local, pois os turistas acabam procurando-o por isto, gerando fontes de renda direta ou indireta.

            Enfim, Ilhabela tem um grande potencial para o desenvolvimento do turismo de observação ou de contemplação da natureza, por possuir muitos recursos naturais ainda preservados, com uma rica avifauna e paisagens deslumbrantes, que podem oferecer aos turistas uma prazerosa estadia, aliando esportes náuticos a exploração turística de seu patrimônio natural. Mas para isso, o poder público local, os estabelecimentos comerciais, notadamente os hoteleiros e agentes turísticos, devem se reunir e estipular estratégicas de exploração desta nova forma de turismo, dando à região um “plus”, que com certeza só acrescentará renda e preservação ambiental. Pensem nisso.

 

ANTÔNIO SILVEIRA RIBEIRO DOS SANTOS

Criador do Programa Ambiental: A Última Arca de Noé (www.aultimaarcadenoe.com)