Escavações arqueológicas realizadas recentemente na Ilha da Vitória, extremo leste do arquipélago de Ilhabela, revelaram novas informações sobre o modo de vida das populações indígenas que ali viveram há quase mil anos. Os trabalhos de escavação recentemente desenvolvidos pela arqueóloga Cintia Bendazzoli apenas iniciaram e já apresentam informações surpreendentes sobre o modo de vida das populações sambaquieiras que ali estiveram.  A ação faz parte do Projeto de Gestão e Diagnóstico do Patrimônio Arqueológico de Ilhabela, promovido pela Prefeitura por meio da Secretaria da Cultura.

 

Os povos sambaquieiros foram os primeiros a ocupar o arquipélago. Segundo a arqueóloga, os estudos realizados até o presente momento permitem assegurar que esta população permaneceu na região num período compreendido, pelo menos, entre 2.060 e 800 anos atrás. Esta população tinha como prática a realização do sepultamento de seus entes em meio às conchas e ossos de animais, acumulados intencionalmente de forma constante, formando pequenos montes denominados sambaquis.

 

Recentemente, um desses sambaquis existente na Ilha da Vitória, o Sambaqui Abrigo Sul, foi alvo de estudos mais detalhados que revelaram a existência de rituais e cerimônias de sepultamento com a presença de fogueiras. Os estudos em laboratório que estão sendo realizados com o material retirado das escavações já apresentam dados inéditos sobre o modo de vida dessa população indígena tão antiga. Os ossos de peixes encontrados durante a escavação foram higienizados e analisados, revelando informações sobre a pesca e a dieta desses povos.

 

Segundo Cintia, a população sambaquieira que ocupou a Ilha da Vitória se alimentava basicamente de pescado, complementado pelo consumo de moluscos e de outros animais marinhos, além de aves. Os peixes mais consumidos pelo grupo que realizou as práticas funerárias no Sambaqui Abrigo Sul foram o Xarelete, Sargo, Bonito e Sernambiguara, além do Cação. Foram também encontrados vestígios do consumo de arraias e tartarugas marinhas, além de outros vestígios de mamíferos e aves ainda não identificados.

 

Além da identificação dos aspectos alimentares dessa população, as escavações arqueológicas localizaram um pingente feito com um dente de mamífero, que foi encontrado junto ao sepultamento e às fogueiras escavadas. Apesar de levemente fragmentado o pingente estava em boas condições, sendo possível visualizar com clareza a perfuração feita no dente para que se pudesse passar um cordão para pendurá-lo. “É bastante provável que este pingente pertencesse ao indivíduo enterrado, e tenha sido colocado intencionalmente junto aos vestígios humanos durante a realização do sepultamento, pois esta era uma prática comum entre as populações indígenas do passado” informou a arqueóloga. “A realização das medidas de preservação e mitigação de danos causados no passado aos sítios arqueológicos de Ilhabela também fazem parte do escopo dos trabalhos arqueológicos realizados no município, que vêm contribuindo para a preservação do nosso patrimônio”, aponta o prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci.

 

Segundo o secretário da Cultura, Nuno Gallo, a localização desse tipo de vestígio revela o imenso potencial arqueológico do arquipélago que carece ser estudado e preservado para as futuras gerações. Nesse sentido, os trabalhos continuarão a ser realizados no arquipélago e, ainda este ano, deverão abarcar novos sítios na Ilha de São Sebastião e Ilha dos Búzios.

Durante os trabalhos realizados na Ilha da Vitória também foi identificado um novo sítio arqueológico com vestígios de um sepultamento humano encontrado previamente impactado. Contudo, os trabalhos realizados no local permitiram a recuperação de vestígios do sepultamento existente no local e que deverá passar por análises laboratoriais e também por datação.