Não há uma fórmula padrão para a uma construção sustentável, sendo possível aplicar, para qualquer obra, soluções que levem a um uso mais sustentável da edificação, de acordo com o uso previsto, com o perfil da obra, do cliente e das condicionantes ambientais e paisagísticas do local onde se insere.

As intervenções em edificações já existentes ganham nomes específicos de acordo com os objetivos propostos, como reabilitação, renovação, restauro ou retrofit. Para a maioria das pessoas a expressão reforma continua a ser a mais usual. A idéia de reforma está associada ao resgate da qualidade de algo, que o tempo ou o excesso de uso, ajudou a deteriorar. Com relação às edificações, significa recuperar total ou parcialmente um imóvel, trazendo de volta a qualidade, que por algum motivo, se perdeu.

 

Desgaste dos materiais e equipamentos, mau uso, mudança nos padrões de consumo, infiltrações, moda…   Muitas são as causas que podem levar um espaço a perder sua qualidade, mesmo que não tenha havido uma efetiva degradação física dos ambientes. A necessidade de se reformar um espaço, pode se dar simplesmente por ele deixar de atender as necessidades dos seus usuários.

 

 

Nas reformas, de maneira geral, os usos são mantidos ou sofrem modificações que implicam na alteração moderada de suas dimensões. Ações de menor vulto associadas a mudanças de revestimentos, na cor dos ambientes e no padrão do mobiliário. Não implica necessariamente na reformulação de seus sistemas e sim em ações de manutenção. Busca devolver a edificação a um estado similar ao original, visando principalmente resgatar seu valor imobiliário ou prolongar sua vida útil. 

 

Quando a necessidade de mudanças atinge proporções mais drásticas, como quando objetivamos mudar o próprio conceito de utilização dos espaços ou da edificação como um todo, a ideia de reforma passa a ser insuficiente, surgindo a necessidade do que chamamos tecnicamente de Retrofit.

O conceito de Retrofit, bastante difundido nos meios acadêmicos, começou a disseminar entre o grande público nos últimos cinco anos. Ganhou notoriedade e ultrapassou os muros da academia a reboque dos conceitos de Arquitetura Sustentável, passando a ser aplicado a edifícios residenciais, hotéis, centros empresariais e comerciais ou prédios públicos de função variada. São menos comuns em edificações de menor porte, salvo quando associados a mudanças de uso.

 

Parte do seu destaque na mídia é devido a um número significativo e ao impacto causado pelo retrofit de prédios públicos e privados de importantes cidades do país e do mundo, como o da Biblioteca Mário de Andrade, o da Sala São Paulo e o do Hotel Jaraguá, todos no centro de São Paulo e que objetivaram ganho de eficiência, mudança de uso, ou valorização imobiliária, trazendo impactos positivos inclusive às regiões onde se inserem.

 

Podemos definir Retrofit como a remodelação ou a modernização do edifício e de seus sistemas através da incorporação de novas tecnologias ou conceitos, visando adequá-lo ou não a novos usos, ao aumento de sua vida útil, melhoria de sua eficiência operacional, em especial em aspectos relativos ao conforto ambiental e eficiência energética, todos concorrendo para uma efetiva valorização comercial do imóvel.

 

Difere de uma reforma pela profundidade das transformações pelas quais a edificação irá passar, sendo comum a perda de suas características originais para adequá-lo a conceitos como o da necessidade de conservação de recursos naturais. Normalmente é precedido por um diagnóstico feito por especialistas que avaliam diversos aspectos relativos ao uso da edificação, como o consumo de água ou de energia, a eficiência de seus sistemas de iluminação e de climatização, entre outros, antes do desenvolvimento do projeto. 

 

 


É capaz de transformar uma edificação considerada obsoleta e decadente em um espaço novo, vibrante e plenamente adequado aos ideais de sustentabilidade de nossos dias.

 

Já o conceito de reforma sustentável ou ecológica é relativamente novo. Pode ser entendida como uma espécie de “meio do caminho” entre a reforma e o retrofit. Nada mais é que uma reforma que busca, além de requalificar os espaços, adequar a edificação aos preceitos da arquitetura sustentável. Uma reforma sustentável também deve ser precedida por algum tipo de diagnóstico, no qual a edificação será analisada segundo os diversos aspectos que podem tornar o seu uso mais eficiente e menos impactante a paisagem e ao meio ambiente. Difere do retrofit, principalmente, em razão da escala da intervenção, sendo mais indicada para edificações residenciais ou comerciais de menor porte.

 

Nas reformas ecológicas visamos redirecionar determinados aspectos de uma  construção já existente para um viés sustentável, melhorando sua eficiência a partir da racionalização das instalações elétricas e hidrossanitárias, proporcionando economia de energia e da água, através da gestão do seu uso e da destinação de resíduos.

 

Este tipo de reforma pode também ampliar o aproveitamento de recursos naturais já disponíveis, através de sistemas passivos de iluminação e de ventilação, que buscam otimizar o aproveitamento da luz natural e das brisas que sopram constantes em nossa região, minimizando a necessidade de sistemas eletromecânicos como ventiladores e condicionadores de ar e de iluminação artificial.

 

 


Dentro do conceito de construção sustentável o processo da obra em si também deve ser menos impactante possível, o que só é viável com um criterioso processo de planejamento da obra, incluindo a gestão no uso de materiais e da mão-de-obra e no cuidado com o descarte de resíduos da construção, que devem ser minimizado a níveis extremos.

 

Em nossa atuação profissional procuramos difundir esses conceitos objetivando que cada vez mais pessoas incorporem preocupações ambientais às suas vidas e que busquem construir ou a reformar seus imóveis, assumindo preocupações com a paisagem e o ambiente.

 

O esforço e as despesas em geral valem a pena, principalmente se considerarmos que a economia proporcionada pelas intervenções ajuda a abater parte dos investimentos feitos e mais, quando contabilizamos a diminuição dos impactos ambientais gerados por estas ações. Algo ainda mais significativo num município como Ilhabela, que tem na natureza o seu maior patrimônio.

 

Giselle Bahiense

Arquiteta (UFF), Especialista em Conforto Ambiental e Eficiência Energética (USP) e Titular da Oficina de Criação de Espaços Sustentáveis em Ilhabela.

 

 

 

Leonardo Cunha

Arquiteto e Urbanista (UFF), Especialista em Planejamento Ambiental (UFF), Mestre em Ciência Ambiental (USP) e Titular da Oficina de Criação de Espaços Sustentáveis em Ilhabela.