Quando chegou em Ilhabela, na década de 70, o arquiteto Miguel Forte encontrou na Praia do Pinto uma pacata aldeia de pescadores que, praticamente abandonada, suja e com pouca vegetação, chamou sua atenção. Após passar alguns finais de semana hospedado na casa de um amigo, Miguel começou a negociar a compra dos terrenos e deu iniciou ao projeto que deu vida nova a Praia do Pinto. Baseado em um claro conceito de preservação, não só do meio ambiente, mas também da história e da cultura local, Miguel Forte desenvolveu um projeto muito especial, que preservou as casas de pescadores existentes, apenas incorporando novos espaços, que foram cuidadosamente elaborados para que se integrassem ao contexto original de uma vila de caiçaras. O resultado foi o desenvolvimento de uma arquitetura muito simples, que privilegia os recursos naturais, mas nem por isso abre mão do conforto e da funcionalidade. Filho de imigrantes italianos, Miguel Forte nasceu em São Paulo, onde se formou e iniciou sua carreira. Arquiteto talentoso, fez projetos primorosos, especialmente de residências, que eram minuciosamente detalhadas. Por mais de trinta anos, lecionou arquitetura na Universidade Mackenzie. Na Praia do Pinto, em Ilhabela, projetou oito casas, incluindo a sua. Faleceu em outubro de 2002, aos 86 anos, deixando um legado de amor e respeito por tudo que se relaciona ao mundo arquitetônico. Em 2003, a casa da Praia do Pinto foi vendida para um amigo da família. Passou por um minucioso processo de restauração que, atendendo às exigências do novo proprietário, manteve todas as características originais da casa. No projeto de Miguel Forte, a casa de pescadores existente no terreno foi ampliada, ganhando novos ambientes. Para manter as características originais, todas as paredes foram pintadas com cal, e os caxilhos e portas receberam tinta náutica nas mesmas cores utilizadas pelos caiçaras na pintura de suas canoas. Logo à frente da casa principal, uma espécie de galpão que era utilizado para guardar os barcos de pesca ganhou uma churrasqueira e um forno a lenha, cuidadosamente integrados à estrutura de mais de cem anos, que foi preservada pelo novo proprietário. Toda a parte externa do terreno, de cerca de quatro mil metros quadrados, foi reestruturada, ganhando novas escadas e caminhos mais funcionais. O projeto é de Davidson, um dos principais alunos do professor Miguel Forte, que foi escolhido justamente por conhecer profundamente o estilo de seu mestre. Um pequeno muro de pedras localizado no meio do terreno era utilizado pelos pescadores para limitar as áreas de cada um, e foi mantido por ser considerado um dos marcos históricos da Praia do Pinto. No jardim, plantas como as palmeiras que Miguel ganhou do amigo Burle Marx foram preservadas, enriquecendo o projeto paisagístico da Pau Brasil, que usou espécies nativas da região. Na decoração, executada pela Arte Markante, os tecidos coloridos trouxeram graça e leveza aos ambientes. Os estofados, cadeiras e espreguiçadeiras ganharam tecidos especiais, de alta resistência e fácil manutenção, e os móveis de madeira receberam pintura em pátina. Nos quartos, foram utilizadas cortinas leves, que dão privacidade sem interferir na iluminação natural. Para cobrir os armários existentes, a solução encontrada também foi a instalação de cortinas, que substituem as portas de madeira e permitem maior ventilação. As colchas e almofadas foram feitas em tecidos naturais, que por serem mais leves permitem maior ventilação das peças e evitam problemas com umidade. Karin Killingsworth é decoradora e proprietária da Arte Markante, empresa responsável por todo o projeto de decoração e ambientação da casa.