Atividades de mergulho recreativo e passeio embarcado para observação da fauna serão conduzidos por operadores credenciados e seguirão as regras estabelecidas pelo Plano de Manejo da Unidade de Conservação

 

Em setembro do ano passado, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) promoveu uma cerimônia para celebrar um ano de criação do Refúgio de Vida Silvestre de Alcatrazes, e durante o evento, realizado em São Sebastião, anunciou a abertura oficial da Unidade de Conservação para o turismo de mergulho e visitação embarcada, com a assinatura da portaria de autorização e ordenamento da atividade. Na ocasião, a Instituto também firmou um acordo de cooperação com a Fundação SOS Mata Atlântica, que dará apoio à gestão local.

 

As visitas serão realizadas exclusivamente por meio de operadoras credenciadas pelo ICMBio, que deverão atender a uma série de pré-requisitos e exigências, além de passar por treinamentos e processos para emissão de licença, seguindo as regras estabelecidas pelo Plano de Manejo da UC, com o objetivo de garantir a proteção e preservação do local. A visitação autônoma, por embarcações particulares, permanece proibida. O desembarque nas ilhas também.

 

No início de fevereiro, o ICMBio concluiu o processo de seleção para o 1° Curso de Capacitação de Condutores de Visitantes do ICMBio Alcatrazes, que contará com a participação de dez condutores de turismo embarcado e 40 condutores subaquáticos. A formação acontecerá na primeira quinzena de março e a expectativa é que os roteiros comecem a ser operados ainda no primeiro semestre de 2018.

 

“O turismo em Alcatrazes é uma antiga reivindicação de vários setores locais, que possibilita a apropriação e a valorização pela sociedade desse importante patrimônio natural”, argumenta a chefe do Núcleo de Gestão Integrada de ICMBio Alcatrazes, Kelen Luciana Leite.

 

A demanda por visitação ao Arquipélago de Alcatrazes é histórica, remonta à década de 90, quando foram iniciadas ações em prol da criação do Parque Nacional Marinho dos Alcatrazes, que propunha o aumento da área marinha protegida e a implantação do ecoturismo como opção para o desenvolvimento sustentável regional. Apesar da expectativa para o turismo no arquipélago, atividades com esta finalidade nunca ocorreram devido a restrições relativas à Estação Ecológica (Esec) Tupinambás (categoria de unidade de conservação que não permite a visitação pública) em algumas áreas, bem como por determinação da Marinha do Brasil, que em função de seus exercícios militares (que atualmente ocorrem na ilha da Sapata), interditou a navegação na região de 1998 até 2008.

 

Roteiro terá dez pontos de mergulho

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O ICMBio também está licitando a instalação de 17 poitas para o Refúgio de Vida Silvestre de Alcatrazes, que serão utilizadas para o turismo de mergulho e observação contemplativa. As embarcações autorizadas a operar na região poderão apenas atracar nas referidas poitas. Serão disponibilizados 10 pontos para mergulho autônomo, sendo possível no máximo 20 mergulhadores em cada ponto por operação, havendo a obrigatoriedade de um condutor subaquático autorizado e capacitado pelo ICMBio Alcatrazes, a cada quatro mergulhadores. A exigência, que visa garantir tanto a segurança do mergulhador quanto preservação da natureza.

 

A mesma regra vale para o turismo embarcado para contemplação da fauna: é necessário um condutor (guia) para acompanhar o grupo. Ele será responsável pela orientação dos visitantes com informações sobre a unidade de conservação. Nestes passeios, poderá ser avistado um dos maiores ninhais de fragatas da América do Sul, além de golfinhos, baleias, tartarugas marinhas, dentre outras espécies.

 

As embarcações deverão atender a uma série de exigências para operar o turismo em Alcatrazes, como por exemplo, ter Certificado de Segurança da Navegação emitido pela Marinha do Brasil na categoria de transporte de passageiros em mar aberto.

 

Os operadores autorizados deverão passar aos visitantes as informações preliminares sobre as condições de visita, os riscos de atividades em área natural em mar aberto, e adotar medidas de segurança, conforto e bem-estar dos visitantes. Ainda será necessário o agendamento com antecedência para todas as visitas ao Refúgio, junto à administração da UC.

 

Segundo a chefe da Estação Ecológica Tupinambás e do Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, Kelen Luciana Leite, diante da relevância ambiental do arquipélago dos Alcatrazes, o ICMBio está propondo a abertura da visitação em caráter experimental com duas atividades prioritárias: visita embarcada e mergulho autônomo. Nesse período experimental as atividades só poderão ser desenvolvidas por autorizados pelo ICMBio. Também não haverá cobrança de ingressos pelo instituto.

 

 

Algumas das proibições estabelecida pela Portaria de Visitação

 

  • Utilizar produtos de higiene e cuidados pessoais tais como sabonetes, xampus, cremes de cabelo, óleos bronzeadores e outros, excetuando-se aqueles destinados à proteção solar

 

  • Portar petrechos de pesca, salvo aqueles destinados à salvaguarda da vida humana, assim considerados pela Marinha do Brasil

 

  • Descartar qualquer tipo de resíduo sólido ou líquido, inclusive orgânico, bem como descartar diretamente efluentes sanitários ou acionar bombas e sistemas de esgotamento de tanques de retenção de efluentes das embarcações

 

  • Acionar buzinas e outros sinais sonoros, bem como utilizar equipamentos sonoros coletivos e instrumentos musicais diversos dentro do perímetro de uma milha náutica (1,8 km) das ilhas, exceto em condições necessárias à segurança de navegação, como visibilidade restrita.

 

  • Preparar alimentos que possam atrair as aves das unidades de conservação, a exemplo de churrascos

 

  • Alimentar a fauna silvestre

 

  • Desembarcar em qualquer ilha ou formação do arquipélago

 

  • Tocar nos costões rochosos, perseguir, tocar ou apanhar quaisquer organismos marinhos, retirar ou coletar qualquer material (conchas, pedras, dispositivos de pesquisa experimental etc.)

 

  • Mergulhar com cetáceos ou outros animais marinhos que possam oferecer risco ao visitante

 

Para saber mais, visite a página: www.facebook.com/icmbioalcatrazes

 

 

Refúgio de Vida Silvestre

 

O Refúgio foi criado em 2 de agosto de 2016 e abrange todo o arquipélago dos Alcatrazes, sendo composto por suas ilhas e expressivo entorno marinho, totalizando uma área de 67.409 hectares. É a maior Unidade de Conservação Marinha de Proteção Integral das regiões Sul e Sudeste do país, e a segunda maior do Brasil. Sua gestão é feita de forma compartilhada com a Estação Ecológica Tupinambás, compondo o Núcleo de Gestão Integrada ICMBio Alcatrazes, e nas duas unidades foram registradas 1,3 mil espécies, das quais 93 sofrem algum grau de ameaça de extinção.

 

O arquipélago abriga, ainda, espécies endêmicas (exclusivas do local) e possui a fauna recifal mais conservada e biodiversa do Sudeste e Sul do Brasil, além de ser uma área de reprodução e crescimento de espécies de valor comercial para o setor pesqueiro. Regionalmente é reconhecido como patrimônio natural, referência de paisagem para a população, além de abrigar sítios arqueológicos e importante patrimônio histórico.

 

Dentre as espécies marinhas ameaçadas de extinção, protegidas pela unidade, estão a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), a tartaruga-verde (Chelonia mydas), o tubarão-martelo (Sphyrna lewini), o cação-anjo (Squatina guggenheim), a raia-viola (Rhinobatos horkelii), a raia-manta (Manta birostris), além de alguns invertebrados.

 

Na região há ocorrência de baleias e golfinhos, sendo ao todo 10 espécies registradas para o arquipélago, com destaque para a baleia-de-Bryde (Balaenoptera edeni), baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) e o golfinho-pintado-do-atlântico (Stenella frontalis).

 

Dentre as espécies insulares terrestres endêmicas, estão a jararaca de Alcatrazes (Bothrops alcatraz), a perereca de Alcatrazes (Scinax alcatraz) e a rã de Alcatrazes (Cycloramphus faustoi), criticamente ameaçada de extinção.

 

O Refúgio abriga também um dos maiores ninhais do país com nidificação de fragatas (Fregata magnificens), atobás (Sula leucogaster) e gaivotões (Larus dominicanus). Foram registradas 91 espécies de aves, sendo que 37 delas são residentes, entre aves oceânicas, insulares costeiras, migrantes de longo percurso (praieiras), aquáticas costeiras, terrestres e florestais. Dentre elas, 12 espécies estão ameaçadas de extinção, sendo seis são residentes, que dependem exclusivamente de Alcatrazes para procriação.

 

A vegetação do arquipélago é caracterizada por áreas de mata atlântica e campos rupestres. A ilha de Alcatrazes tem como espécies vegetais endêmicas um antúrio (Anthurium alcatrazensis), uma begônia (Begonia venosa).

 

As características únicas e o status de conservação do arquipélago dos Alcatrazes fazem com que o refúgio seja referência para estudos científicos sobre ecossistemas marinhos, sendo considerado um dos “laboratórios naturais” mais importantes do país.

 

Para saber mais, visite a página: www.facebook.com/icmbioalcatrazes