Projeto monitora a presença de cetáceos em nossa região e colabora com a preservação de espécies em extinção

 

O Projeto Baleia à Vista nasceu da paixão do experiente navegador Júlio Cardoso pelo mar e, em especial, pelo Litoral Norte de São Paulo, região que frequenta há mais de 20 anos e por onde já navegou mais de 5 mil horas. Tudo começou em 2002, durante um torneio de pesca oceânica, quando em alto mar ele e sua tripulação perceberam a presença de dois animais enormes passando sob o barco. Pensaram ser marlins gigantes, até que viram emergir duas fantásticas e raras Baleias-Minke, que os observaram por algum tempo e voltaram a mergulhar.

 

Esta experiência mudou definitivamente a relação de Júlio com o mar e desde então ele encontrou um novo motivo para colocar o barco na água. “As pessoas que navegam com frequência geralmente têm um objetivo específico, que pode ser pesca, competição, cruzeiro ou lazer, entre outras. Chegou um momento que nenhuma destas atividades me entusiasmava muito e então descobri na avistagem de baleias e outros cetáceos uma boa razão para estar no mar”.

 

MapaBaleias_FF_04-01O primeiro encontro com as baleias ficou registrado apenas na memória, pois naquele dia nenhum dos integrantes do barco tinha uma câmera para clicar as ilustres visitantes. “A partir deste dia, nunca mais fui para o mar sem levar meu equipamento fotográfico”, diverte-se Júlio. Em 2004, ele fez seu primeiro registro oficial ao fotografar uma Baleia-de-Bryde, perto da Ilha de Búzios, no arquipélago de Ilhabela.

 

No mesmo ano, estabeleceu uma parceria com a bióloga e especialista em cetáceos Shirley Pacheco de Souza, com quem aprendeu técnicas de avistagem e métodos de registro, passando a fazer saídas regulares com o objetivo de monitorar a incidência de baleias, golfinhos e aves marinhas nas regiões de Ilhabela e São Sebastião.

 

De lá para cá, foram 115 registros de 191 baleias das espécies Bryde, Minke, Jubarte e Franca, além da famosa Orca, que na verdade é a maior espécie da família dos golfinhos, tão grande quanto uma baleia. Também integram a lista centenas de golfinhos e aves, consolidando um importante banco de dados da fauna marinha do Litoral Norte de São Paulo.

 

Em 2016, ao lado de Arlaine Francisco, bióloga e fotógrafa de natureza, Júlio Cardoso, que também é Diretor de Meio Ambiente do Yacht Club de Ilhabela e Conselheiro da Estação Ecológica Tupinambás, oficializou a criação do Projeto Baleia à Vista, formando uma robusta rede de troca de informações, por meio de parcerias com instituições de pesquisa, grupos acadêmicos e projetos voltados ao estudo e à conservação de cetáceos.

 

Mais que observar a beleza e os hábitos destes animais fascinantes, o objetivo da iniciativa é contribuir com a preservação destas espécies, algumas criticamente ameaçadas de extinção, levantando e compartilhando dados, apoiando projetos de pesquisa, disseminando conhecimento e promovendo educação ambiental. “Acreditamos que estas parcerias, que chamamos de ciência cidadã, são fundamentais para obter informações sobre espécies pouco estudadas e conhecidas, seu comportamento e incidência nesta região”, ressalta Júlio.

 

 

Projeto registrou Orca identificada há 24 anos

 

Um exemplo da importância deste trabalho foi o registro recente de uma Orca macho avistada em 1993 no Rio de Janeiro. A descoberta foi possível graças à parceria do Projeto Baleia à Vista com pesquisadores do Instituto Argonauta e do Projeto Baleias & Golfinhos, do Rio de Janeiro.

AlmiranteNa manhã do último dia 30 de setembro, Júlio recebeu um chamado informando que um grupo de Orcas estava perto da Praia do Curral, em Ilhabela. Ele não estava por aqui, mas prontamente acionou sua tripulação, que preparou o barco e recebeu a bordo as pesquisadoras do Instituto Argonauta. Os registros feitos por elas foram enviados ao Projeto Baleias & Golfinhos, que identificou que um dos animais do grupo havia sido fotografado em setembro de 1993, no Rio de Janeiro.

 

“Registrar um animal deste porte, que nada pela nossa costa há pelo menos 24 anos é uma conquista importante, mas também um sinal de que precisamos nos unir para conhecer melhor e preservar esta e outras espécies”, destaca Júlio.

 

Para comemorar a descoberta, um concurso virtual para escolher o nome da Orca foi promovido em uma página de avistadores de golfinhos e baleias. Depois de vários dias de votação, ficou decidido que o enorme e agora famoso golfinho será chamado de Almirante, em homenagem a Ibsen de Gusmão Câmara, um dos principais ambientalistas brasileiros, que dedicou sua vida e história à conservação da natureza.

 

Outra constatação importante do Projeto Baleia à Vista é que o número de baleias na região vem aumentando, especialmente nos últimos três anos. Isso explica porque tantas pessoas têm relatado avistagens de baleias e golfinhos e reafirma a importância de projetos de conscientização, pesquisa e preservação. “Além do aumento do registro de Baleias-de-Bryde, que são as mais comuns na região, observamos um crescimento expressivo de avistagens de Baleias-Jubarte, que passam por aqui em rota de migração. Este fenômeno pode ser explicado por várias possibilidades, como o aumento da população, a escassez de comida em suas fontes de alimento originais e até a influência de atividades como o pré-sal. Mais uma vez, são os projetos de estudo e pesquisa que vão responder estas questões para que possamos entender e proteger esta importante espécie”, completa Júlio Cardoso.

 

 

Viu uma baleia ou golfinho? Veja como se comportar!

 

Molestar baleias e qualquer outra espécie de cetáceo é Crime Ambiental, sujeito às penalidades determinadas pela Lei nº 7643, de 18 de dezembro de 1987, que prevê pena de dois a cinco anos de reclusão e multa. Se presenciar qualquer ato ilegal ou atitude suspeita contra a fauna marinha, não hesite: denuncie!

 

E se estiver navegando pela região e encontrar estes animais, confira quais são as regras para uma avistagem segura. Lembre-se que ter estas espécies por aqui é um grande privilégio e que a sua preservação depende da nossa consciência. Por isso, respeite as normas!

 

BaleiaO ideal é observar de longe, para não perturbar ou estressar os animais e evitar acidentes. Navegue ao lado do grupo, a uma distância mínima de 100 metros, nunca vá em rota de colisão e nunca cerque baleias ou golfinhos com várias embarcações. Se presenciar uma situação como esta, afaste-se e avise as demais pessoas que esta é uma prática proibida, orientando que cada barco aviste e se afaste antes de outro se aproximar.

 

 

 

É expressamente proibido às embarcações que operem em águas jurisdicionais brasileiras:

 

  • Aproximar-se de qualquer espécie de baleia com o motor engrenado a menos de 100m de distância do animal mais próximo, devendo o motor obrigatoriamente ser mantido em neutro;

 

  • Reengrenar o motor para afastar-se do grupo antes de avistar claramente a(s) baleia(s) na superfície ou a uma distância de, no mínimo, 50m da embarcação;

 

  • Perseguir, com motor ligado, qualquer baleia por mais de 30 minutos, ainda que respeitadas as distâncias estipuladas;

 

  • Interromper o curso de deslocamento de cetáceo de qualquer espécie, tentar ou alterar seu curso ou ainda dispersar o grupo;

 

  • Aproximar-se de um indivíduo ou grupo de baleias que já esteja submetido, no mesmo momento, à aproximação de outras embarcações;

 

  • É vedada a prática de mergulho ou natação com qualquer espécie de baleia

 

  • É proibida a aproximação de quaisquer aeronaves aos cetáceos em altitude inferior a 100m sobre o nível do mar.

*Texto adaptado da Portaria Nº 117, d

 

Para saber mais sobre o projeto Baleia à Vista visite o site: www.projetobaleiaavista.com.br ou curta a página: www.facebook.com/projetobaleiaavista