A ararinha azul mais rara do mundo ficou conhecida através do personagem Blue, no filme “Rio” (2011), de Carlos Saldanha. A animação conta a história de uma arara solteira, encontrada nos Estados Unidos, que era incapaz de voar. Ao retornar ao Brasil ela encontra um único outro exemplar sobrevivente da sua espécie, uma fêmea chamada Jewel. Juntas, as duas araras do filme combatem traficantes de animais selvagens e iniciam uma pequena família.

 

O filme foi inspirado em fatos reais… A ararinha-azul tinha o nome de Presley e viveu em Denver, Estados Unidos por volta de 20 anos, até que um dia ele foi descoberto por um veterinário local, que procurou às autoridades locais e a ONG World Parrot Trust, que atua em mais de 22 países ajudando na conservação de psitacídeos. Ao confirmar que se tratava de um exemplar da arara mais rara do mundo (chamada de ”Spix”), muitos esforços foram feitos pela ONG para devolver a espécie ao Brasil. Finalmente, em 2002, Presley consegue retornar ao seu país de origem.

 

Ficou sob os cuidados do zoológico de São Paulo por volta de três anos e depois viveu por 9 anos na Fundação Lymington − centro de conservação localizado no interior de São Paulo, aos cuidados do casal de americanos residentes no Brasil desde 1961, Linda e Bill Wittkoff. Foram feitas várias tentativas de reprodução em cativeiro, mas sem sucesso. Os espermatozoides de Presley tinham problemas morfológicos, consequência de complicações cardíacas e idade avançada da ave.

 

Presley apresentava saúde frágil e já não se alimentava mais sozinho. Estava com cerca de quarenta anos e morreu no hospital veterinário da UNESP de Botucatu, em 25 de junho de 2014.

 

Ele foi o exemplo vivo do desastre ambiental perpetuado pelo tráfico de animais silvestres: retirado de seu habitat natural, foi vendido como animal de estimação nos Estados Unidos, até virar alvo de iniciativas oficiais de conservação, que conseguiram trazê‐lo de volta ao Brasil (mas não à natureza) 20 anos depois.

 

A ararinha­azul (Cyanopsitta spixii) foi declarada extinta na natureza após o desaparecimento do último macho da espécie, no ano 2000.

 

Atualmente, há 128 ararinhas-azuis em cativeiro no mundo – a maioria em criadouros e centros de preservação do Catar e da Alemanha, que nos últimos anos vêm trabalhando em parceria com o governo brasileiro para reproduzir a espécie e reintroduzí-la na natureza. No Brasil, a instituição responsável por guardar e reproduzir ararinhas-azuis é o criadouro Fazenda Cachoeira, em Minas Gerais, mas seu endereço não é divulgado por segurança.

 

A ararinha­azul (Cyanopsitta spixii) é um dos animais mais ameaçados do planeta e tornou-se símbolo mundial da importância de preservação da biodiversidade.

 

O verdadeiro local de origem da ararinha-azul, diferente do que aparece no filme Rio, não é a Mata Atlântica e nem tão pouco a Amazônia, para onde eles viajam no filme “Rio 2”e sim uma região da caatinga no norte da Bahia, chamada Curuçá.

 

Um esforço coletivo tem sido feito junto ao “Projeto Ararinha Azul na Natureza” para devolver esta espécie à caatinga brasileira, com a implementação de ações, atuando nas políticas públicas, pesquisa científica e educação ambiental. A intenção é criar condições necessárias para conservar o habitat da ararinha, espécie endêmica* da região. A criação de uma unidade de conservação (UC) seria o primeiro passo. Desde 2012, o projeto está presente em Curuçá, fazendo um trabalho de campo que envolve educação ambiental, sensibilização da população local, criação e restauração de áreas protegidas.

 

A ideia é acelerar as reproduções em cativeiro no país e no exterior, para, se tudo der certo, fazer as primeiras reintroduções na natureza em 2019. Todas as 128 ararinhas de Spix espalhadas pelo mundo estão em programas de reprodução em cativeiro, mas o desafio é grande, pois a população é muito pequena, vulnerável e com defeitos genéticos causados pela endogamia**.

 

O sucesso dessa reintrodução depende de muitos esforços e de minimizar todos os possíveis problemas que possam acontecer neste longo percurso. Vamos torcer para que essa realidade seja bem sucedida. Na versão 3 do filme “Rio” as ararinhas-azuis retornam a seu local de origem, um verdadeiro oásis na caatinga baiana. Junte-se à nossa torcida para que isso vire realidade!

 

Para saber mais:

http://www.icmbio.gov.br/cemave/pesquisa-e-monitoramento/ararinha-azul.html

http://piaui.folha.uol.com.br/materia/presley-nao-morreu/

 

Espécie endêmica*: Uma espécie endêmica é aquela espécie animal ou vegetal que ocorre somente em uma determinada área ou região geográfica. O endemismo é causado por quaisquer barreiras físicas, climáticas e biológicas que delimitem com eficácia a distribuição de uma espécie ou provoquem a sua separação do grupo original.

Endogamia** é um sistema em que os acasalamentos se dão entre indivíduos aparentados, relacionados pela ascendência, ou seja, é a união de indivíduos mais aparentados do que a média da população. Isso, diminui a variabilidade genética, podendo causar problemas nos descendentes.

 

*Silvana Davino, bióloga, trabalha na Área de Soltura Monitorada Cambaquara, em Ilhabela.