“O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro
E o tempo futuro contido no tempo passado…” T.S. Elliot

 

Este ano, o Dança e Movimento completou sua vigésima edição e pôde ao mesmo tempo sentir o sabor de suas origens, e se abrir para o novo, o inusitado. Realizado pelo Espaço Cultural Pés no Chão, ele teve o apoio exclusivo da Prefeitura de Ilhabela, através da Secretaria Municipal de Cultura e FUNDACI e a colaboração da Alugtendas.

 

Tudo começou com “Brinquedo… Brincadeiras… Brincadança”, um espetáculo lúdico e sensível de artes integradas que remeteu a equipe do Pés no Chão às suas raízes, e encantou toda a plateia. A alegria dos palhaços, Carmelaa e Luciano Draetta, foi levada e compartilhada entre centenas de alunos de escolas municipais. Que festa!

 

O Ballet Sopro, de Roberto Amorim, voltou ao evento depois de alguns anos. Foi um re-encontro amoroso com alguém que faz parte da história do Dança e Movimento. Em “sEnÃoÉaMoR”, ele reverenciou a paternidade, (a dele), e mostrou a força de um sentimento que dá sentido e rumo à vida.

 

Intrigante, arrojado, esse foi o mundo apresentado em “Quero ser preto” do Núcleo Arcênico, um espetáculo que rendeu muita conversa no saguão, após a apresentação! O pós é precioso no Dança e Movimento. Outro trabalho que impactou o público foi o solo de Thiago Sancho, “Melodia onde o tempo não existe”. Mas o tempo causou sim… uma polêmica!

 

A Cia. Claudia de Souza se vestiu de preto e criou um ritual no palco, unindo a feminilidade dos corpos de suas bailarinas às religiões afro-brasileiras no espetáculo “Roda de Pólvora”. Na umbanda, o Circulo de Pólvora tem a função de afastar, limpar e dispersar energias negativas.

 

A Raça Cia. de Dança fez um grande espetáculo, que arrebatou, encheu o palco, invadiu todos os sentidos de quem estava na plateia, e fez cada um sentir os saltos de seu próprio coração.

 

Nas três noites destinadas às instituições, estavam previstas duas, subiram ao palco bailarinas e bailarinos amadores de diferentes idades, origens, tendências, falando a linguagem que a dança propõe ou sugere, mostrando a diversidade, a criatividade, e a multiplicidade de ações cênicas às vezes arrojadas, mas que invariavelmente arrebatam o público. Subir ao palco é preciso. Todos são um sucesso!

 

A apresentação do espetáculo “Devolve 2 horas da minha vida” do Projeto Mov_oLA começou com um pedido insólito: mantenham seus celulares ligados. Nosso mundo hiperconectado foi o tema desse trabalho, que contou com a interação do público através de seus celulares. Ao final, as pessoas foram convidadas a entrar no palco para passear com seus celulares encaixados em dispositivos de realidade virtual fornecidos pela companhia.

 

A Cie “à fleur de peau” fechou o 20º Dança e Movimento. Chamados de franceses porque moram na França há muitos e muitos anos, o alemão Michael Bugdahn e a brasileira Denise Namura conquistaram não apenas um espaço único no universo da dança, como também um público apaixonado em Ilhabela. Mestres em uma linguagem original que transita entre o simples e o abstrato, entre a emoção e o burlesco, entre o trágico e o cômico, seu grande aliado é o público, com o qual estabelece uma intensa relação de troca e cumplicidade.

 

A essência do Dança e Movimento é exatamente essa mistura, essa língua sem palavras que acolhe e que provoca, instiga e desafia, às vezes obriga a falar, botar pra fora, outras vezes, deixa sem palavras.

 

Inês Ferreira da Silva Bianchi

 

Fotos: Ruben Bianchi