por Isabel Scisci
A maior ilha fluvial do planeta, com cerca de vinte mil quilômetros quadrados, fica na bacia do rio Araguaia em Tocantins, faz parte da Amazônia e é classificada pela UNESCO como reserva da Biosfera. No meio de imensa floresta e bananais silvestres vivem cerca de quinze mil pessoas. Duas mil são os índios Karajás, Javaés e o pequeno grupo de Avá-Canoeiros, que rejeita qualquer tipo de contato com a civilização.
Se você quiser visitar uma aldeia indígena precisará da autorização da Funai… O acesso à ilha é bem difícil e controlado pelo Ibama. Bem melhor escolher a Agência CCTreKking e ela cuidará de tudo para você. Foi assim que eu conheci esse pedaço do paraíso.
O passeio começa pela Lagoa da Confusão, município a 230 km de Palmas. No espelho d’água que deu nome à cidade existe uma grande pedra que parece se deslocar conforme o ângulo que é vista. Alguns dizem que é apenas uma ilusão de ótica. Outros preferem acreditar numa explicação mais sobrenatural… Mas todos concordam que a lagoa é linda, rodeada de rica vegetação e praias de areias finíssimas. Só não dá para se arriscar a nadar em suas águas onde os jacarés circulam livremente… A cidade oferece boas acomodações em pousadas e uma gastronomia à base de muito peixe.
A Pousada em Caseara é simples e aconchegante. Atrás dela ficava o barco que nos levava para passeios deliciosamente surpreendentes! O clima na região é o tropical quente e semiúmido e duas estações são nitidamente demarcadas. Na estação chuvosa, que vai de novembro a abril, tudo fica completamente inundado. O Rio Javaés chega a subir dez metros invadindo grande parte da floresta. Na estação seca, de maio a outubro, surgem grandes bancos de areia nas margens dos rios.
Acordávamos cedinho e saíamos pelos igapós ao som dos gorjeios de sabiás e bem-te-vis… Garças sobrevoavam os campos encharcados… Nos galhos dos arbustos os biguás espreitavam as próximas vítimas, que seriam abatidas em certeiros mergulhos… Orquídeas, samambaias e ipês davam o colorido e perfumavam o gigantesco espaço de noventa mil hectares do Parque Estadual do Cantão, unidade de conservação de proteção integral e considerado o santuário ecológico mais importante do país, com biomas do cerrado, pantanal e floresta amazônica.
Lá existem 55 espécies de mamíferos, 453 de aves, 63 de répteis e 301 de peixes. E se pode pescar o pirarucu, o tucunaré e o surubim… Avistar gaviões, tuiuiús e o boto-cor-de-rosa… Ou até mesmo dar de cara com uma onça-pintada! Nós tivemos a sorte de ver um lobo-guará…
Que alegria navegar pelos rios do Coco, Araguaia e Javaés, sentindo o vento no rosto e ouvindo o barulho do barco deslizando… Em janeiro é época de piracema, quando não se pode pescar… Então os rios ficavam só para o nosso pequeno grupo! O Seu Peninha, nosso barqueiro, cantava boleros… “Quem eu quero não me quer, quem me quer mandei embora…” Às vezes parávamos numa prainha para relaxar e tomar um banho refrescante… Ou então à sombra de uma árvore para observar pássaros raros, como o Pica-pau dourado… O Luciano, nosso simpático guia, carregava um livro com todas as espécies da região e nos mostrava com todos os detalhes… E o Seu Peninha dizia: “Ah, como é bom uma sombrinha… E ainda tem gente que quer acabar com as árvores!” Na Trilha da Ferrugem é possível observar a transformação da Floresta Amazônica para o cerrado. A paisagem cheia de árvores altas se transforma em uma terra seca com vegetação rasteira.
Na ilha do Bananal fomos recepcionados pelos índios Javaés, que nos apresentaram a aldeia e nos contaram histórias. Eles recebem cerca de cem visitantes por ano, que costumam comprar colares feitos pelas índias. Conversar com eles e entender os seus problemas me fez pensar em questões que estamos distantes como a valorização de sua cultura tradicional e as influências, nem sempre benéficas, da televisão e do celular.
A CCTrekking é a única agência com permissão para operar roteiros na região, comandada pelo dedicado e sempre prestativo carioca Leonardo Azevedo – (63) 98405-5011.