No dia 7 de Junho, os moradores da comunidade tradicional do Bonete foram surpreendidos com a visita de uma tartaruga marinha, de espécie ainda não identificada, que escolheu as areias da praia para depositar seus ovos. O relato da desova foi feito por moradores da comunidade aos biólogos do Instituto Dharma, que afirmam que este é o primeiro registro de uma ocorrência deste tipo na região. “O Litoral Paulista não é reconhecido como área de desova de tartarugas marinhas e sim como área de alimentação. O registro que tivemos na praia do Bonete é incomum, conhecido como desova esporádica, que ocorre quando os animais estão em rota de migratória, longe das suas devidas áreas de nidificação”, explicam Paula Rosa do Prado e Marcello Casoni – Biólogos do Instituto Dharma. Preocupada com o futuro dos pequenos filhotes, a comunidade tratou de proteger a área onde estão os ovos, que está sendo monitorada. “Nossa equipe técnica também está acompanhando o ninho para que, num período de 45 a 70 dias, possamos registrar os possíveis nascimentos dos filhotes e identificação da espécie”, afirmam Paula e Marcello. Eles lembram que este fato raro pode estar diretamente relacionado ao aquecimento global que esta causando enormes alterações em nosso planeta e manifestam a preocupação com a eclosão dos ovos em um local que não faz parte da rota de “berçários” das tartarugas. “Existe a possibilidade dos filhotes não conseguirem chegar à superfície do ninho, por não termos as condições climáticas favoráveis para tal nascimento”, completam. Mas se depender da torcida, as tartaruguinhas da praia do Bonete vão nascer bem e logo encontrar o caminho para o mar, juntando-se às tantas outras que têm sido avistadas com frequência em Ilhabela. O Instituto Dharma também fez um levantamento histórico das ocorrências de desovas esporádicas em nosso litoral e constatou aproximadamente 10 desovas distribuídas entre as cidades de São Sebastião e Norte do Rio de Janeiro. De acordo com eles, embora ainda não existam estudos que apontem oficialmente tal possibilidade, o aumento e a persistência destas incidências podem transformar a região em uma nova área de desova para as tartarugas. Parque Nacional Marinho Desde 2010 o Instituto Dharma vem desenvolvendo pesquisas científicas e atividades de educação ambiental no Parque Municipal Marinho conhecido como santuário ecológico da Ilha das Cabras, com o objetivo de preservar o local, que constitui uma importante área de alimentação de tartarugas juvenis, avistadas com frequência por ali. O Instituto vem tentando regularizar o parque municipal junto aos órgãos públicos competentes, ressaltando a importância de sua preservação e da conservação das tartarugas e das inúmeras outras espécies que vivem em seu entorno, como cavalos marinhos e diversos tipos de peixe. Em um documento que integra o pedido de criação do parque, as principais associações e ONGs de Ilhabela manifestaram seu apoio à iniciativa, reconhecendo a importância de sua regulamentação, fato que pode, inclusive, transformá-lo em um destino de turismo científico, atraindo pesquisadores e estudantes em busca de informações sobre sua biodiversidade. Um vídeo com imagens captadas no local está disponível no site: www.institutodharma.org.br