*Silvana Davino

Os saguis são pequenos primatas que pesam entre 240 a 450 gramas. Possuem garras eficientes, o que garante movimentos rápidos. São habilidosos ao pular de galho em galho (ou fios e telhados) e para escalar troncos de árvores. São conhecidos popularmente como mico-estrela. Existem duas espécies: o sagui-do-tufo-branco Callithrix jacchus, oriundo da região Nordeste do Brasil e o sagui-de-tufo-negro Callithrix penicillata, do cerrado brasileiro. Podem ocorrer cruzamentos destas duas espécies, gerando filhotes híbridos. A dieta deles inclui pequenos invertebrados, néctar, flores, frutos, insetos e sementes. São grandes predadores de anfíbios, filhotes de aves e seus ovos.

Esses pequenos primatas foram introduzidos pelo homem em várias áreas de Mata Atlântica do sudeste brasileiro, onde os saguis são considerados espécies exóticas invasoras, porque estão fora de sua área original. Provenientes do tráfico ilegal ou comprados em criadouros legalizados, são adquiridos pelas pessoas como pets, mas a maioria deles se torna agressiva quando adultos (já que são animais silvestres, e não domésticos) e acabam sendo soltos ou fugindo para as matas e parques das cidades.

A perda da diversidade biológica nativa nas áreas invadidas pode ser irreversível, principalmente em ilhas como no caso da Ilhabela, dificultando a recuperação de ciclos naturais e provocando a eliminação de espécies nativas, podendo em casos extremos levar até a extinção de algumas delas.

Além disso, os saguis podem ser potenciais transmissores de doenças para os seres humanos, como a raiva, Herpes B, Varíola dos macacos, resfriado, poliomielite, sarampo, febre amarela, dengue, dentre outros (KINDLOVITS, 1999; ARAÚJO et al., 2008; AGUIAR et al., 2012).

Como são bonitos e simpáticos, quando encontrados soltos, são alimentados por pessoas com o intuito de ajudá-los, mas por ignorância, acabam interferindo no equilíbrio da natureza. Esses animais ficam superalimentados e acabam se reproduzindo mais, sendo uma grande ameaça para as outras espécies nativas que convivem com ele.

É de grande importância a educação ambiental junto à população de Ilhabela neste processo, conscientizando sobre os problemas de alimentar os saguis e evitando que novas reintroduções ocorram.

Em março de 2017, percebendo o aumento crescente dessa espécie no nosso município, o Parque Estadual de Ilhabela (Peib) criou um Grupo de Trabalho: “GT Sagui” com a participação de funcionários da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), Instituto Florestal (IF), Departamento de Fauna do Estado de São Paulo (DeFau), vereadores, veterinários e ONGs voltadas à conservação no município.

O grupo resolveu fazer um levantamento dos pontos de avistamento, um registro das quantidades avistadas nesses pontos e dos impactos ecológicos causados. Este trabalho está sendo feito por dois funcionários do Peib e dois da SMMA. Uma vez finalizado o levantamento, as informações serão analisadas e tabeladas, e servirão de base para discutir e propor a melhor solução, com apoio de instituições ambientais nacionais, estaduais e municipais.

Muitos especialistas defendem a erradicação dos saguis. O processo de remoção é complexo e levanta diversas questões éticas. As instituições não têm recursos e não há estudos suficientes nem investimentos em pesquisas. A erradicação pode ser pela castração ou pela remoção definitiva, no primeiro caso os resultados virão a longo prazo e os impactos acima mencionados como “irreversíveis” poderão acontecer, no segundo caso os resultados virão no curto prazo, mas haverá questões sobre o destino desses animais: eutanásia, criadouros ou centros de pesquisa. Cada uma destas alternativas envolve decisões orçamentárias, captação de parceiros e discussões com a comunidade ambientalista.

As leis de crimes ambientais abre espaço para a possibilidade de extermínio de uma espécie num determinado habitat em seu artigo 37, desde que ela seja classificada como nociva por algum órgão competente. Como não há pesquisa suficiente sobre o impacto causado pelos saguis, a polêmica pode durar anos.

Contamos com a sua ajuda para preservar nossa fauna local, fornecendo qualquer informação a respeito dos saguis em Ilhabela, fotos e locais onde foram avistados. Contate o Peib no telefone 12 3896-2660 nos dias úteis, no horário das 08:00 às 17:00h.

 

 

NÃO alimente os saguis. NÃO chegue muito perto.

Animais silvestres podem ser agressivos, morder e transmitir doenças.

*Silvana Davino, bióloga, trabalha na Área de Soltura Monitorada Cambaquara, em Ilhabela.