SERGIPE –
PRAIAS, DUNAS, LAGOAS, MONUMENTOS HISTÓRICOS E O INCRÍVEL CÂNION DO XINGÓ
Sergipe é surpreendente. As suas belas praias se estendem desde a foz do rio Real, na divisa com a Bahia, até a do Rio São Francisco, em Alagoas. Aracaju é limpa, organizada e tranqüila. E foi escolhida a capital que tem maior qualidade de vida no Brasil. Ainda conta com o exótico Cânion do Xingó… Mesmo assim, ele é o Estado menos visitado do Nordeste.
A Orla de Atalaya, em Aracaju, dispõe de hotéis confortáveis e bons restaurantes. Fiquei hospedada no Celi Hotel, que fica perto dos principais pontos turísticos, num quarto com vista para o mar. Logo que cheguei fui dar uma volta por seus 6 km de extensão. Muitos quiosques, muita água de côco geladinha e muitas diversões infantis… E o ótimo Oceanário, onde existem mais de sessenta espécies de animais, mantidos pelo Projeto Tamar. É um grande centro de lazer a céu aberto. Para se chegar até a praia é necessário percorrer uma grande passarela de madeira. O mar nesse trecho é bem manso. Na parte rasa tem um tom amarronzado, mas depois da arrebentação a água é azul. Almocei no restaurante Pitú com Pirão da Eliane. O Pitú é divino! Tem um gosto bem pronunciado do camarão. O Pirão chegou fumegante à mesa.
O jantar foi no La Vecchia, um lugar super aconchegante. Comi um tortelli recheado com gorgonzola e molho de tomates frescos. Lembrou o que a minha mãe preparava durante toda a manhã de domingo. O perfume daquele molho invadia toda a casa. Doce lembrança… Um jeito muito bom de terminar o meu primeiro dia em Sergipe!
Sempre que viajo gosto de começar a conhecer o lugar pelo centro da cidade. A Praça Olympio Campos é onde está concentrada a arquitetura histórica. Visitei a Catedral Metropolitana, a Ponte do Imperador e lá pertinho, o Palácio do Governo, que ainda mantém móveis do século XVIII. Na parte de trás do prédio está o Café Palácio, ótima parada para uma água de coco e um cafezinho. Seguindo pela Avenida Beira Mar está o Museu da Gente Sergipana. Ele tem um funcionamento interativo. É possível interagir com um feirante negociando produtos, visitar a Sala de Biomas, que mostra animais típicos da região e conhecer mais sobre a culinária, agricultura e pecuária local.
O Mercado Central é o melhor lugar para comprar lembrancinhas bem originais. Livrinhos de cordel, temperos e cachaças locais. Aproveitei para almoçar no restaurante Caçarola, um lugar descontraído e alegre com vista para o rio.
Depois do Mercado fui até a Colina de Santo Antônio, o bairro onde a cidade foi fundada. Lá tem uma bela igrejinha, um mirante onde se avista grande parte da Aracaju antiga e uma sorveteria com sorvetes de frutas típicas. Tomei um de graviola super refrescante.
Outro lugar imperdível em Aracaju é a casa dos artistas Alfredo Mallet e Fátima Bastos. É daquelas que a gente não tem mais vontade de sair. Lá funciona o Ateliê 22, que abriga um restaurante e um ateliê. Os dois são cariocas, casados há 35 anos, e têm em comum a Arte. Ele com os pincéis, ela com a comida. Já faz um bom tempo que chegaram em Aracaju e abrem suas portas tanto para quem quer se hospedar, comprar as telas e bonecos do Alfredo ou apreciar a sofisticada Gastronomia da Fátima. Me deliciei com um Robalo Crocante e molho agridoce. Tomei uma bela caipifruta de Tangerina e outra de Pitanga com Pimenta Rubra. E eu que não sou de beber… Ainda provei um Maravilhoso Petit Gateau de Rapadura. Tudo isso regado com um bom papo. Saí de lá tontinha. Pela bebida, pela beleza do lugar e por tanto carinho dos dois…
Embora a Orla de Atalaya tenha tantas atrações, os sergipanos preferem curtir as faixas de areia ao longo da rodovia José Sarney – principalmente Náufragos e Refúgio.
A Praia dos Náufragos é linda e quase deserta. Como num oásis se encontra o Duna Beach, um lugar super relaxante. A decoração é leve e agradável, a música bem selecionada e a comida muito saborosa. Um italiano, o Max, é o chef. Ele combina delícias italianas com um toque tropical. Comi um Casarecce Alla Vegetariana, acompanhado de uma bela salada. Um arraso! Ainda tomei um delicioso sorvete de coco na própria casca da fruta. Fiquei horas, estirada na cadeira, só olhando para o mar…
O famoso restaurante Parati, emoldurado por coqueiros, fica na Praia do Refúgio. O lugar é bem agradável, com uma boa estrutura e a comida bem diversificada. Eu experimentei o Peixe Vermelho, preparado no forno… Uma delícia! E ainda conversei longamente com o Harry, o holandês proprietário do lugar. Bom demais.
A praia mais rústica é a do Saco, que fica a 70 km da capital. Ela foi eleita por uma revista francesa uma das dez mais belas do Brasil. Eu fiz todos os meus passeios em Aracaju com a Farol Tur, que fica na orla de Atalaya. O guia Roberto foi explicando tudo pelo caminho e tirando todas as dúvidas. Passamos em frente à casa do Zé do Baião. Um sergipano que morava com sete mulheres, todas amantes. Inclusive a sogra e duas irmãs. Elas viviam cada uma em um quarto anexo a casa. E uma vez por semana, entravam na casa principal. Ele teve cinqüenta e sete filhos. Inacreditável. Mas essa história é verdadeira… A Praia do Saco tem coqueirais, dunas, rios, manguezais e um mar azul esverdeado e sem ondas. O passeio de bugue dura uma hora e meia, com paradas para banhos e fotos. Na Ponta do Saco, encontro do rio com o mar, as águas são calmas e mornas. Passeio imperdível!
Da Praia do Saco, atravessando de balsa o Rio Real, fica Mangue Seco. O pequeno vilarejo, entre Sergipe e Bahia, inspirou Jorge Amado a escrever Tieta do Agreste. O acesso até lá é muito mais fácil e rápido por Aracaju do que por Salvador. O passeio de bugue passa por Dunas e Vales, com parada para esquibunda… E termina numa praia cercada por coqueiros e dunas, que se estende por 45 km. Lá tem um quiosque para almoçar e se jogar numa rede diante do mar. Ainda deu tempo de conhecer o povoado e tomar um sorvete na casa da Tieta da novela global.
São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil. Fica a 25 km de Aracaju. O conjunto arquitetônico da Praça de São Francisco foi declarado Patrimônio Histórico da Humanidade e foi tombado pela UNESCO. Ladeiras de pedras e igrejas guardam a Memória do Brasil Colonial.
O Parque dos Falcões fica na Serra de Itabaiana. Ele abriga centenas de aves que sofreram maus tratos. O responsável, José Percilio, desenvolve um trabalho pioneiro em técnicas de implante de penas e reprodução. Ele diz que adestra os animais através do amor e carinho. E dá para perceber isso na sua relação com eles. Ele conversa, beija e controla docemente até os mais agressivos. Um verdadeiro Encantador de Aves. O parque é uma referência no mundo inteiro, mas não recebe nenhuma ajuda do Governo. Os 120 kg de carne necessários para alimentar as aves num mês, são sustentados pelos turistas que visitam o local.
A Crôa do Goré é um Banco de Areia no rio Vaza-Barris. Ganhou esse nome por causa do crustáceo que existe naquelas bandas. É uma delícia ficar numa palhoça tomando uma cervejinha. Ou no meio do rio. Fiquei um bom tempo naquela água morninha… Nem dá vontade de sair. Até que o barco apitou chamando para o embarque. Aí fomos para a ilha dos Namorados. Uma faixa de areia estreita e muito comprida. O mar sem ondas, mas com uma grande correnteza. Tinha até uma rede para ajudar ainda mais no relaxamento. A ilha é banhada de um lado pelo rio e de outro, pelo mar. Uma paisagem rara e bela.
A melhor forma de se conhecer o emblemático encontro do Rio São Francisco com o mar é com a agência Farol da Foz Ecoturismo, que fica em Piaçabuçu. O passeio começa num super bugue. No caminho, coqueirais sem fim, restingas ricas em biodiversidade e dunas douradas que redesenham diariamente a paisagem. Que sensação gostosa ficar na parte de cima do bugue sentindo o vento… Que delícia escorregar pela areia num esquibunda… Que lindo vislumbrar o Encontro do São Francisco com o oceano… Depois de um bom banho voltamos de barco, margeando o mangue e ainda deu para apreciar o Pôr do sol.
A maioria das pessoas opta por conhecer as cidades de Penedo e Piranhas ficando hospedados em Aracaju. Mas eu preferi evitar o cansaço de muitas horas na estrada e passar uns dias em cada lugar.
Penedo foi o primeiro povoado de Alagoas. Foi fundada no século XVI às margens do São Francisco. Fiquei no Hotel São Francisco que está localizado bem no Centro Histórico. A sua edificação modernista contrasta com a arquitetura colonial do século XVII do restante da cidade. Na sua construção, nos anos 60, havia também um cinema. Aliás, Penedo abrigou o Primeiro Festival de Cinema nacional, antes do famoso em Gramado. O quarto é bem espaçoso e confortável e tem uma varanda com uma vista incrível para o São Francisco. Que maravilha tomar o café da manhã contemplando o rio…
É muito bom caminhar pelas suas ruas de paralelepípedos. Comecei o passeio pela igreja de Santa Maria dos Anjos. Ela reúne belíssimas peças de arte sacra. Depois fui para a Casa do Penedo, que é considerada a guardiã das tradições da cidade, com um rico acervo bibliográfico e preciosos objetos de arte. O Museu do Paço Imperial conta a história da visita do Imperador D. Pedro II. A igreja Nossa Senhora da Corrente, com seus azulejos portugueses e altar folheado a ouro, é uma verdadeira obra de arte. Ela tem uma passagem secreta que servia de abrigo para os escravos fugitivos.
A parada para o almoço foi no restaurante Oratório. Comi uma bela tilápia, com direito a um visual maravilhoso para o rio. Ainda fui conhecer a igreja de São Gonçalo e o teatro Sete de Setembro, um dos mais antigos do Brasil. O Forte da Rocheira também é um ótimo lugar para contemplar o Velho Chico…
Piranhas, vizinha de Penedo, é porta de entrada para quem quer fazer os passeios do Cânion do Xingó e a Rota do Cangaço. Eu fiquei na Pousada do Imperador, super bem localizada, no Centro Histórico. Ela está instalada num antigo casarão, confortável e acolhedor. À noite a cidade fica com um clima romântico irresistível. Os barzinhos colocam mesinhas num pátio central e tem sempre música ao vivo.
A Cachaçaria Altemar Dutra é a mais movimentada. O nome é em homenagem ao famoso cantor, que adorava compor suas serestas navegando pelo Velho Chico… Lá tem comida típica, pizza, sushi, forró, xaxado, alegria… E, claro, um montão de cachaças…
Passei uma manhã inteira curtindo a Prainha de Canindé de São Francisco. Depois, almocei no Lontras a melhor moqueca de camarão da minha vida. Preferi comer a sobremesa do lado de fora. Mais perto da vista para o rio. Provei um maravilhoso petit gateau de doce de leite com sorvete.
A Usina Hidroelétrica de Xingó está instalada no Rio São Francisco. É uma das maiores do Brasil. Ela abastece com energia elétrica grande parte do Nordeste, além de desenvolver projetos de irrigação da cidade de Canindé. Mas atualmente ela não está trabalhando com toda a sua capacidade. Simplesmente porque o rio reduziu consideravelmente de volume, na maior seca que o Nordeste vem enfrentando nos últimos tempos.
A pausa para o almoço foi no restaurante Caboclo D’água. Almocei com o Marcelo Ximenes, o meu querido Guia da Xingó Adventure. Ele me conduziu por toda parte. De Piranhas a Canindé de São Francisco… Comemos uma saborosíssima tilápia. Ai, meu Deus, estou ficando viciada nesse peixe… Depois seguimos para o Museu de Arqueologia. Ele foi criado após os achados durante a construção da Usina. O seu acervo contém diversos utensílios, ferramentas e esqueletos humanos.
O passeio da Rota do Cangaço começa no atracadouro de Piranhas às 9 horas. A navegação pelo rio São Francisco leva ao Eco Parque. Lá se pode andar à cavalo, tomar um banho de rio ou simplesmente ficar estirado na rede. Eu quis fazer a trilha que leva à Grota do Angico, onde Lampião e seu bando sofreram uma emboscada e foram decapitados. Demora uns trinta minutos para chegar. É necessário chapéu, muito protetor solar e água para aguentar um calor de 40 graus. Mas vale à pena. Na volta, só um mergulho na água para amenizar a quentura. E um gostoso almoço à sombra de uma árvore, com a brisa esfriando o corpo. Comi um saboroso surubim que compensou todo o cansaço. Na volta escolhi ficar na parte de cima do barco, onde o vento bate mais forte. Uma experiência inesquecível a vista para o São Francisco, ouvindo o Gonzagão cantar: “Minha vida é andar por esse país”… Fechei os olhos por um instante para sentir melhor o momento. Delicia de música. Delícia de brisa. Que delícia esse Velho Chico…
O Cânion do Xingó surgiu após o represamento das águas do São Francisco para a construção da Usina Hidroelétrica. Antes, essa região era coberta pela caatinga e o rio que circundava Canindé praticamente seco. Com o represamento das águas o leito do rio São Francisco subiu quase 100 metros e o topo das montanhas formaram o Cânion. O corredor de água verde- esmeralda, espremido entre rochas de arenito avermelhadas com 90 metros de altura, estende- se por 60 km. Um catamarã, operado pela MF Tur, faz a navegação no cânion até chegar a uma piscina natural. Depois, um barquinho leva para bem pertinho das rochas. Um espetáculo deslumbrante! Eu ainda fiz o sobrevôo com o helicóptero. E aí sim dá para ver a dimensão e toda a beleza do Cânion.
Em Piranhas, todas as tardes a orquestra ensaia no Conservatório e suas músicas se espalham pela cidade. Muito bom passear pelas ruazinhas de pedra, entre casinhas coloridas, com uma trilha sonora de fundo. Muito bom ir até Prainha tomar sorvete de rapadura. Muito bom subir os 250 degraus até a igrejinha, ver a cidade em panorâmica e o Pôr do sol no Rio São Francisco. Ah, Piranhas… Piranhas… Muito bom te conhecer…
Depois ainda passei uns dias em Aracaju, antes de voltar para São Paulo. E para me despedir em grande estilo, escolhi jantar no Muratto. Um lugar refinado, super agradável e que oferece um cardápio bem variado, incluindo comida japonesa. Eu degustei um maravilhoso combinado, acompanhado de um bom saquê. Não resisti e pedi um petit gateau, com calda de goiaba de sobremesa… Um dos melhores restaurantes da cidade. Vou guardar boas lembranças. Do restaurante e de Sergipe.
Onde ficar:
Celi Hotel – Av. Oceânica, 500, Atalaya – tel. (79) 2107-8000
Hotel São Francisco – Av. Floriano Peixoto, 237 – Penedo – tel. (82) 3551-2273
Pousada do Imperador – Rua Antonio Rodrigues, 89 – Piranhas – tel. (82) 3686-3407
Mapa Gourmet:
Restaurante Pitú com Pirão da Eliane – SE-100, 957, Atalaya – tel. (79) 3243-4747
Restaurante La Vecchia – Av. Guilhermino Resende, 346 – tel. (79) 3214-6070
Restaurante Caçarola – Av. Ivo do Prado, 532 – tel. (79) 3211-4079
Restaurante Ateliê 22 – Rua Sargento José Valença Santos Leite, 22 – tel. (79) 3243-3107
Restaurante Duna Beach – Av. Inácio Barbosa, 3411, Mosqueiro – tel. (79) 3227- 2233
Restaurante Parati – Av. Inácio Barbosa, 9201, Mosqueiro – tel. (79) 3227-2100
Restaurante Oratório – Av. Beira Rio, 304, Penedo – tel. (82) 3551- 2985
Cachaçaria Altemar Dutra – Rua Antonio Rodrigues, Piranhas – tel. (79) 99869- 6428
Restaurante Lontras – Piranhas – tel. (79) 99869- 6428
Restaurante Caboclo D’Água – Lago de Xingó, Piranhas – tel. (79) 99869- 6428
Restaurante Muratto – Rua Dr. Bezerra de Menezes, 22, Coroa do Meio – (79) 3255- 2376
Passeios:
Farol Tur – Se-100, 630 – Atalaya – tel. (79) 3011-2644
Farol da Foz Ecoturismo – Av. Conselheiro Ulisses Guedes, 228 – Piaçabuçu/Alagoas – tel. (82) 3552-1298 – faroldafoz@hotmail.com
Xingó Adventure – Rua Antonio Rodrigues, 0013 – Piranhas – reservas@xingoadventure.com.br
MF Tur – Ponto de embarque Restaurante Karranca”s