*Patrick Inácio Pina

 

O verão vem se aproximando e o movimento de turistas de veraneio no Litoral Norte começa a ser percebido. Uma praia um pouco mais cheia, muita gente na praça, uma espera maior na padaria, a balsa que demorou um pouco mais… “Daqui a pouco vai ser a alta temporada!”. Pode parecer surpreendente se você nunca reparou muito nas aves ao seu redor, mas o mesmo está acontecendo com a população delas. Algumas chegam com a primavera, e no verão uma miscelânea de cores, vozes – com diferentes sotaques, e movimentos enchem o céu.

Você também pode se surpreender com quantos paralelos podem existir entre o cotidiano das aves e o nosso aqui no litoral.

“Bem, seriam ‘pássaros de veraneio’?” Pode se dizer que sim. A badalação que acontece nas praias e bares do litoral, também acontece nos seus jardins, pomares e nas matas. Diversas espécies vêm de bem longe, e também de perto, e passam a ocupar os ambientes que lhes aprazem.

De fato algumas espécies fazem visitas tão regulares que receberam nomes como “verão” e “primavera”. Essas viagens que elas realizam são chamadas genericamente de migrações. E em determinadas espécies apenas uma parte da população local realiza migração. Digamos que nem todos gostam muito de viajar. Mas os que viajam podem, periodicamente, habitar os mesmos ambientes que a população local. Ou seja, você pode estar observado um bando de andorinhas, da mesma espécie, mas entre as andorinhas paulistas podem estar também as mineiras e até as estrangeiras. Juntas e misturadas!

Outro bom exemplo é a tesourinha. Uma ave de 40 cm de tamanho, e uma longa cauda bifurcada de 30 cm. Migram em grandes grupos (excursões) e ao chegaram iniciam uma dança cerimonial para atrair parceiros. Em sua fascinante coreografia deixam-se cair, numa espiral, com a cauda largamente aberta e a posição das asas lembrando um pára-quedas.

Outro visitante, o suiriri, é considerada a ave mais pontual. Em Itapema/SC um morador registrou o dia de chegada e de partida de um casal de suiriris por oito anos consecutivos. Chegavam sempre na primeira semana de outubro e partiam na primeira semana de abril. Durante um verão mais quente, o casal chegou um mês mais cedo – e aproveitaram mais!

Os tesourinhas e os suiriris que migram possuem as penas das asas mais pontudas o que é interpretada como uma adaptação à voos mais longos.

Você certamente deve ter visto ou ouvido o bem-te-vi. Mas no verão aqui também chegam os seus primos conhecidos como “bem-te-vis-rajados”. Existem três espécies, que além de ser muito parecidas, frequentam os mesmos ambientes, migram para os mesmos locais e na mesma época. São eles: o bem-te-vi-rajado, o bem-te-vi-pirata e o bem-te-vi-peitica, conhecido também apenas pelo seu último nome. O rajado é o maior de todos, e come principalmente insetos que apanham em voo a partir de um poleiro. O pirata também é insetívoro, e o peitica é o vegetariano do grupo, é também o único que constrói o próprio ninho. Os outros “alugam” os ninhos desocupados das aves locais. Tentar diferenciá-los é uma atividade divertida, que lembra aquele Jogo-dos-7-erros.

Sempre há aqueles que preferem fugir da alta temporada na região e sobem a serra pra visitar familiares. Acredite, algumas aves fazem o mesmo! As saíras, os saís e os gaturamos são espécies que em geral realizam o que chamamos de migração vertical, subindo e descendo serras em busca do clima que mais lhes agrade ou alimentos que só vão encontrar lá em cima. Ou aqui em baixo.

Talvez tudo que você tenha lido acima sejam informações novas, mas as migrantes mais conhecidas são as andorinhas. Que também vem aos mesmos locais todos os anos para se reproduzirem. Os apreciadores de uma boa música sertaneja podem se lembrar de um clássico do Trio Parada Dura, que dizia: “As andorinhas voltaram, e eu também voltei a pousar no velho ninho que eu aqui deixei”. E dizia mais: “Nós somos como andorinhas que vão e que vem à procura de amor”. Elas também se lembram daquele amor, daquele verão. Quem não?

Mesmo com tanta muvuca e aglomeração, muitas pessoas e aves vem pra cá todos os anos. “Porque?” – “Ah, porque vale a pena!”. Talvez – e literalmente – as aves possam dizer o mesmo.

 

 

*Patrick Inácio Pina

Biólogo e Ornitólogo

Responsável Técnico da ASM Cambaquara