A Bahia é absurdamente bela. Os cenários deslumbrantes, a boa comida e o povo acolhedor fazem dela um dos destinos mais procurados do Nordeste. A capital, Salvador, recebe três milhões de turistas por ano. Grande parte chega no Carnaval para seguir atrás dos trios elétricos, uma legítima invenção baiana. Fiquei hospedada no América Towers. O hotel está a 19 km do aeroporto e tem uma excelente localização, bem do lado do Shopping Salvador. Um ótimo custo-benefício.

Cheguei a Salvador numa terça-feira. Terça é para o Candomblé como o domingo é para os católicos, um dia festivo. Por isso logo que cheguei fui para o Centro, reconhecido como Patrimônio Histórico da Humanidade e onde existe a maior concentração de festa por metro quadrado. Comecei o meu roteiro pela cidade baixa, no Mercado Modelo, o principal centro de artesanato da América Latina. Ele já foi local de negociação de escravos. No subsolo ainda existem calabouços onde eles eram alojados até sua venda. Lá se pode encontrar verdadeiros achados, do clássico ao brega. Tudo junto e misturado. Desde bugigangas de madeira e berimbaus até bordados e rendas.

O Forte de São Marcelo fica bem em frente ao Mercado, dentro do mar. Um barquinho no terminal leva até ele pelo custo de R$ 10,00. E de lá se tem uma linda vista da cidade alta, que rende ótimas fotos.

Conheci a Basílica da Conceição da Praia, que é voltada para o mar e tem um interior ricamente decorado. Depois subi o Elevador Lacerda às margens da Baía de Todos os Santos. E de onde se tem uma das melhores vistas da cidade. Ele foi construído em 1.610 pelos jesuítas. O sistema rudimentar, de roldanas, içava mercadorias e passageiros do porto até o alto. A renovação ousada em Art Déco foi feita décadas atrás. Hoje milhares de pessoas usam o sistema para transitar entre a Cidade Alta e Baixa. A Praça Castro Alves guarda a estátua e o túmulo do poeta. É o marco do Centro Antigo, palco do encontro dos trios elétricos, que encerra o Carnaval de Salvador.

O Centro Histórico é um museu a céu aberto e guarda riquezas do tempo de Tomé de Souza. Em suas ladeiras com calçamento pé de moleque espalham-se construções em estilo barroco português, típicas do Brasil Colônia. Abrigam a maioria das igrejas e dos museus de Salvador. Os casarões e sobrados ganharam cores vivas e se transformaram em bares, hotéis, lojas, restaurantes e centro culturais. Andar pelas suas ruas é vivenciar a atmosfera que serviu de inspiração para a obra de Jorge Amado, Dorival Caymmi, Caetano Veloso e muitos outros.

Eu visitei a igreja e o museu da Misericórdia, um dos mais importantes espaços culturais da Bahia. O museu possui em seu acervo obras que contam um pouco da história do país. Ele está instalado no antigo prédio da Santa Casa de Misericórdia, que foi erguido no século XVII. A igreja é considerada um marco da arte portuguesa e um dos mais belos monumentos religiosos de Salvador. A imagem de Jesus Cristo em marfim foi esculpida numa única e grandiosa peça.

Na saída, ao lado, fica o Monumento da Cruz Caída, onde se pode contemplar a Baía de Todos os Santos até o infinito do horizonte. Uma ótima parada para fotos.

 

A Praça da Sé é o lugar para se descansar, comprar artesanato e fazer tererê nos cabelos. Um aroma intenso de temperos exóticos escapa dos restaurantes e capoeiristas dançam com sua energia frenética. Mas toda aquela alegria encobre um passado sombrio. Neste lugar homens, mulheres e crianças eram vendidos na triste época da escravidão.

Almocei no restaurante Villa Bahia, um charme de lugar. A decoração é de bom gosto, o astral incrível e a comida maravilhosa. Comi um filé de peixe com uma crosta de castanhas saborosíssimo. Acompanhado de um purê de mandioquinha e aspargos. E de sobremesa um petit gateau delicioso. O responsável pelo banquete foi o chef Guto Lago. Amei cada minuto desse almoço super especial.

Depois fui visitar Ordem Terceira de São Francisco. O templo abriga preciosas obras de arte sacra, como a escultura do Senhor morto, de autoria de Francisco das Chagas Xavier, em que as gotas de sangue são representadas por rubis. Na Capela e no Claustro pinturas em quase cinqüenta mil azulejos mostram a vida de São Francisco. A quantidade de ouro e a riqueza de detalhes fazem com que essa igreja seja considerada a principal representante do Barroco na Bahia. Ela foi construída pelos escravos em 1.723. E a sua verdadeira beleza vem de um simples ato de resistência. Os artesãos africanos escravizados que esculpiram o seu interior, fizeram distorções intencionais nos rostos dos querubins. Totalmente desproporcionais parecem desconectados de todo o esplendor dos revestimentos em ouro e do gigantesco lustre de prata.

Fiquei deslumbrada com a igreja de São Francisco e suas toneladas de ouro. Depois ainda deu para visitar o Memorial das Baianas, o Solar do Ferrão para ver uma exposição de Arte Sacra e esculturas africanas e a Catedral Basílica Terreiro de Jesus, onde os altares são ricamente ornados com entalhes dourados, misturando colunas renascentistas e anjos barrocos.

No Largo Terreiro de Jesus vibrei com a capoeira e experimentei a cachaça com cravinho, bem típica do lugar. Fui à missa com tambores na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho. O largo tem esse nome porque ali ficava uma coluna de pedra chamada Pelourinho, onde os escravos e criminosos eram castigados em público. Dancei pelas ruas do centro histórico, acompanhando os grupos de percussão e fiquei perambulando até o anoitecer. Que beleza… Que colorido… Que alegria… Fiquei encantada. Viva Salvador! Viva a Bahia!

No dia seguinte fui à igreja Nosso Senhor do Bonfim. Ela é o símbolo do sincretismo religioso. A tradição da lavagem de suas escadarias é mantida até hoje e acontece todo ano, na segunda quinta-feira do mês de janeiro, desde 1754.Outra marca registrada são as famosas fitinhas do Bonfim. Elas surgiram em 1792. Possuíam o tamanho da medida do braço do Senhor do Bonfim e, por isso eram chamadas “medidas”. Feitas de tecidos nobres traziam frases e imagens de Jesus. A fita deve ser amarrada no pulso com duas voltas e três nós, um para cada pedido. Eles só se realizam quando a fita cai. Uma procissão de milhares de pessoas converge para esta minúscula igreja neoclássica. A congregação, vestida de branco, começa a cantar e jogar as mãos para o céu. As fitas com as cores do arco-íris nos pulsos flutuam na dança. Esse espetáculo periódico homenageia Nosso Senhor do Bonfim para que responda às suas preces.

Depois fui caminhando até a Ribeira. Tomei o famoso sorvete na sorveteria mais antiga da cidade e corri para a casa de Jorge Amado no Rio Vermelho. Lá dá para se ver filmes de suas viagens, cartas escritas para celebridades e entender um pouco mais da vida dele e suas opções. A casa é cercada por um jardim bem agradável. Fiquei imaginando como ele e a Zélia Gattai foram felizes naquele lugar. Cada cantinho traz a marca dos dois. Até a cozinha, que ilustra a paixão pela comida baiana…

WhatsApp Image 2018-04-26 at 18.02.07A Praia do Rio Vermelho funciona como atracadouro para os pescadores locais. É de onde partem os barcos cheios de oferendas em homenagem à Iemanjá. Possui uma agitada vida noturna e é um ótimo lugar para se degustar os acarajés nos diversos quiosques das baianas. Eu escolhi comer no da baiana mais famosa, a Dinha. Para quem não conhece, o acarajé é um salgado de massa feita com feijão preto, temperos e camarão. Quando uma baiana te perguntar se você gosta dele quente ou frio, prefira no máximo morno. Ela está falando de pimenta. E, mesmo morno, ele já fica bem ardido!

O que não falta em Salvador são opções gastronômicas. São tantas comidas típicas gostosas que talvez não dê para se provar todas em uma única viagem. Além do acarajé, existe a moqueca, o bobó, o abará, o caruru, o munguzá e o vatapá, servidos tanto em restaurantes sofisticados quanto em barraquinhas nas ruas. Mas quem não está acostumado com aqueles temperos deve ir com calma.

Escolhi jantar no restaurante Oceânico, numa rua tranqüila do Rio Vermelho, de frente para o mar. A cozinha é comandada pelo renomado chef Altair Brandão e é especializado em peixes e frutos do mar. De entrada experimentei uma incrível casquinha de siri, que derretia na boca, acompanhada de uma focaccia bem fininha, com sal grosso e alecrim. O que me fez lembrar da que a minha mãe fazia. Deliciosa. Depois, um mix de lagosta, camarão e polvo com um risoto de limão siciliano e um vinho verde português. E de sobremesa, um delicioso pavê de chocolate branco e preto, com sorvete e castanhas. O dono do restaurante, o Geraldo, é uma simpatia. Passei o jantar conversando com ele. Quanto Axé tem Salvador!

Peguei um ônibus que percorre toda a orla e cheguei em Itapuã. A mais famosa praia da cidade, tão bem cantada por Vinícius de Morais, realmente é dona de uma belíssima paisagem. Águas verdes, areias claras, coqueiros, piscinas naturais, pescadores, jangadas e um farol. Casais se aninham sob o céu azul intenso e passeiam pela praia naquela atmosfera romântica. A Praça em homenagem ao Vinícius tem uma estátua dele e pedras esculpidas com as várias de suas músicas e poesias. Ele viveu seis anos na Bahia, casado com uma atriz do Cinema Novo. A sua casa, atrás da praça, hoje virou um restaurante. E dá para ver um Memorial com fotos, móveis e objetos que pertenceram a ele. Fiquei imaginando as tardes naquela casa cheia de varandas e um belo pôr do sol, regado à cerveja, música e poesia… Depois fui almoçar no restaurante Mistura. A chef Andrea Ribeiro sempre adiciona novidades no cardápio. Lá tem um bufê de queijos e iguarias muito bom. As ostras gratinadas estavam divinas. Almocei um peixe delicioso com legumes.

A Praia Porto da Barra é uma das mais conhecidas da cidade. Pequena e cercada por fortes e diversas igrejas, possui águas claras e calmas, ótimas para o banho. E uma linda visão para a Baía de Todos os Santos. Eu fui para lá numa bela manhã e havia música e alegria. Pensei até que o Carnaval já havia começado. Vai ver era a gravação de uma propaganda para a TV… Almocei no restaurante Du Chef e me deliciei com um pintado ao molho de coco e cuscuz. O chef Lucius Gaudenzi mistura sabores de vários lugares do mundo e o resultado é uma cozinha criativa e surpreendente!

Depois do almoço andei até o Forte de Santo Antonio. Lá estão o Farol e o Museu Náutico. Visitei os dois. Caminhei pela praia do Porto da Barra até o Forte de Santa Maria, onde havia uma exposição do fotógrafo Pierre Verger, que dedicou a sua vida a pesquisar a forte relação entre África e Bahia. Ainda deu tempo de ir ao Forte de São Diogo no espaço Carybé de Artes, homenagem ao artista plástico que adotou a Bahia como sua terra. No final da tarde acontecem projeções nas paredes externas desses dois Fortes. E assisti ao espetacular pôr do sol na Praia do Porto da Barra, acompanhada de uma deliciosa água de côco. No comecinho da noite as margens da praia são tomadas por ciclistas e pessoas se exercitando. Em cada barzinho se ouve música ao vivo das calçadas, misturada com o cheiro de dendê que sai dos restaurantes. Essa é a Bahia. Uma festa em cada esquina.

No sábado voltei para o Centro. Almocei no Mercado Modelo, com vista para a Baía de Todos os Santos. E fui caminhando até o Museu de Arte Moderna (Solar do Unhão). Um baita complexo que contorna a Avenida Lafayete Coutinho à beira mar. Ele conta com um acervo de esculturas a céu aberto e um visual incrível. Vi a exposição Só Cabeças, um pouco de corpo e muita provocação… De artistas de várias gerações e com técnicas completamente diferentes. Depois, tomei um café na charmosa cafeteria e, claro, assisti a Jam no MAM, que ocorre todos os sábados. Que fantástico ver o Pôr do Sol, embalado ao som de Jazz ao vivo, na companhia de gente de toda parte do mundo…

 

Não é nada fácil alcançar o Paraíso. Depois de um táxi, uma balsa, um ônibus e uma lancha finalmente cheguei a Boipeba, na Costa do Dendê. A ilha é formada por alguns povoados, entre eles o mais importante é Velha Boipeba, que conta com cerca de 1.600 habitantes. A construção mais significativa é uma adorável igreja azul, a Igreja do Divino Espírito Santo, que data do século XVII.

A ilha foi escolhida como a mais bela do Brasil e a segunda mais bonita da América do Sul. É um lugar ideal para quem quer um lugar sossegado, mas com estilo. Não há muito que ver ou fazer. A programação é comer, dormir, ler, curtir praias selvagens e quase desertas e se esquecer do mundo.

Boipeba tem vinte quilômetros de praias paradisíacas. No dia seguinte caminhei por uma boa parte delas, cercadas por coqueirais de um lado e o mar azul do outro. Movimento mesmo só na Boca da Barra, que é o ponto de parada das excursões. Quando a areia termina, uma trilhazinha de pouco mais de dez minutos leva à praia de Tassimirim, repleta de piscinas naturais e com grandes quantidades de pedras. Andei, andei, andei… Quando bateu aquela fome me lembrei do restaurante de um espanhol que haviam me indicado, Luar das Águas. Fui para lá e me deliciei com raviolis recheados de legumes com molho de tomate seco e castanhas. Muito bom! Andei mais um pouco para gastar as calorias do almoço. E não podia faltar a cervejinha no imperdível pôr do Sol na Boca da Barra.Então andei mais um pouco para gastar as calorias da cerveja. E me deparei com uma fogueira, um luau, uma boa conversa e um bom vinho. Aí andei direto para a minha cama, completamente exausta.

No dia seguinte, apesar da previsão de chuva, resolvi ir para Moreré de trator. Chegando lá a praia estava deserta. Só havia um vendedor de estilosos chapéus. Comprei um e segui para a praia de Bainema, que é a mais extensa da ilha. Ela tem areias claras, águas calmas, coqueirais, palmáceas e flores.  Andei até a Ponta dela. Uns três quilômetros. A bela paisagem recompensa a caminhada. Já estava sem água e morrendo de sede, quando encontrei um oásis. E, além da água, pude provar a lambreta, um delicioso molusco que parece só viver nos mangues da Bahia. Cozidos com tomate, cebola e coentro, são deliciosos. Então o céu ficou carregado de nuvens… Droga! Não queria molhar o chapéu novo. Desatei a correr. A chuva me pegou no caminho para o trator. E ainda tive que esperar um bom tempo para ele sair, morta de fome e de cansaço. Quem disse mesmo que Boipeba era um lugar para descansar? Para compensar, fui jantar num dos melhores restaurantes da ilha: O Santa Clara. Ele fica cercado por um lindo jardim. Comi um delicioso penne com camarão e um brownie com sorvete de banana e nozes, de sobremesa. O atendimento é muito acolhedor. Conversei bastante com o proprietário, o simpático Charles, um americano que já está há mais de trinta anos no Brasil. Que bom que meu dia acabou bem. Adoro histórias com final feliz!

Acordei cedinho e fui caminhando até a Praia de Cueira. Ela tem um mar calmo de águas cristalinas e fileiras de coqueiros a perder de vista. Deserta em diversos trechos, é acessível depois de meia hora de caminhada da Velha Boipeba. Lá tem o restaurante do famoso Guido das lagostas. Ouvi muitas histórias da vida dele. E pude assistir ao preparo de uma lagosta com banana da terra deliciosa. Ainda provei a grelhada na manteiga e outra com abacaxi e manga. Aprovadíssimas. A fama dele não é em vão. Até o Andrea Bocelli já teve o prazer de degustar sua comida. Ah, Como é bom comer uma lagosta num dia de sol, de frente para o mar e com música ao vivo… Que dia maravilhoso! Valeu à pena cada minuto gasto para chegar até aqui.

Acordei preocupada com o asteróide WF9, que iria eclodir com a Terra, segundo estudos da NASA. Enquanto esperava pela lancha que nos levaria para a volta à ilha de Boipeba, pensava. Será que seria o último dia que teria para viver? Por via das dúvidas, resolvi curtir cada pedacinho dele como se realmente fosse. Escolhi ficar na ponta da lancha. O mar estava bem mexido e ela pulava sobre as ondas, parecendo que ia voar. Uma sensação de medo e prazer misturados. Chegamos nas piscinas naturais de Moreré. Havia um bar flutuante e mesinhas que vendiam ostras. Eu adoro! Mas tinha acabado de tomar café, não tinha vontade. Coloquei o snorkel e fui atrás dos peixinhos. Fiquei quase uma hora concentrada apenas em seguir aqueles seres de corpinho amarelo com listras pretas. Depois, seguimos para a Ponta de Castelhanos. Uma belíssima praia que tem o encontro do Rio do Inferno com o mar… Inferno? Não. Ainda não era o meu fim. Pude degustar tranquilamente o famoso pastel de lagosta e o famoso drink de biri biri com cacau. E as ostras? Perguntei. Só na última parada, o marinheiro respondeu. Puxa. Será que daria tempo de comer as minhas, antes do mundo acabar? Ainda fomos para a Cova da Onça e dei uma volta pelo vilarejo muito simples. No caminho, duas crianças andavam despreocupadas. Com certeza não sabiam do asteróide. Perto da igrejinha a lancha foi nos buscar. Jesusinho, ainda terei tempo para as ostras? Finalmente chegamos na última parada no rio… Última? E eu pude me deliciar com cada ostra bem devagarzinho. Como se fossem as últimas da minha vida. Chegamos na Vila de Boipeba e ainda tomei uma cervejinha, admirando o meu último pôr do sol.

Acordei surpresa no dia seguinte, constatando que o mundo continuava. Que bom!
Ainda terei muitos dias especiais por aqui, pensei. E lá fui eu passear de canoa pelo mangue com o Tatu Bola. Esse pescador conhece todos os segredos. De como capturar um caranguejo até escapar de um fantasma. A trilha no manguezal é surreal de tão linda! Um lugar mágico e especial, onde se pode ver muitas aves e pássaros.

Depois fui comer um Escondidinho de Aipim no restaurante Doralice. A mistura inusitada de berinjela, gorgonzola, banana e aipim explodiu na minha boca. Mas as cozinheiras, uma argentina e outra baiana, não contam o segredo para ninguém. Bem que eu tentei…

Em Boipeba a simplicidade faz de cada detalhe um verdadeiro Luxo. Ser chique é fazer uma massagem com a uruguaia Sol. Relaxar com suas mãos mágicas, ouvindo o barulhinho do mar. Ser chique é tomar o picolé da ilha. Ele não tem gordura e o sabor é bem pronunciado. Experimentei o de graviola, café, morango e coco. Ser chique é subir no Céu para assistir o Sol se pôr, tomando uma saquerinha de abacaxi com gengibre. O lugar é fantástico! Dá para se ter uma visão de quase toda a ilha.

Galopar num cavalo branco numa praia deserta à beira mar. Sempre foi meu sonho. E pude realizá-lo em Boipeba. Adoro cavalos. Gosto de seu jeito rebelde, de seu porte elegante, da sua liberdade. Foi assim que eu me senti. Absolutamente livre. O sol na pele, o vento nos cabelos, o trote do cavalo, misturado com o barulho do mar e do meu coração. Assim me senti satisfeita, de alegria e brisas. E mais satisfeita ainda, na praia de Tassimirim, onde provei a melhor moqueca de camarão da minha vida, na barraca do Bobó. O camarão no ponto, o tempero perfeito e o molho delicioso. Tudo feito num fogão à lenha. E foi assim que realizei meu sonho de galopar na praia… Lambuzada de molho de camarão! Ai, que bela despedida de Boipeba…

Morro de São Paulo, um dos destinos mais cobiçados da Costa do Dendê, tem lugar para todo mundo. Jovens mochileiros, casais, famílias e argentinos se espalham pelas duas ruas principais e pelas cinco praias. Em toda parte se ouve o castelhano. Alguns vendedores até se arriscavam falar comigo em portunhol, pensando que eu fosse argentina. A Igreja Nossa Senhora da Luz é o ponto de descanso para quem sobe a ladeira vindo do cais. Ela foi construída em 1.845. Em seu interior estão relíquias do século XVII e XVIII, com imagens sacras e altares de cedro, em estilo barroco.

Automóveis não trafegam na ilha. A caminhada é a melhor maneira de conhecer o jeitão pitoresco do lugar. Foi o que eu fiz logo no primeiro dia. Existem quatro praias numeradas, cada uma com um estilo.

WhatsApp Image 2018-04-26 at 18.49.17A primeira é a mais procurada pelos surfistas. O mar é mais agitado e é muito freqüentada por moradores. É onde se encontra a maior parte do comércio e possui a tirolesa e o farol. A segunda é o lugar do agito, onde se encontram as pousadas e os restaurantes mais famosos. Eles seguem em seqüência, por uma passarela de madeira. O cenário cinematográfico é completo: bananeiras, barquinhos no píer, rochedos bem distribuídos e o portal que dá boas vindas ao recém-chegado. Ao anoitecer os luaus tomam conta da orla até de manhã. Na Terceira praia parei para almoçar no restaurante Villa dos Corais. Um lugar muito agradável, com vista para o mar. Comi um delicioso salmão com risoto de maracujá e depois, continuei a caminhada. Na quarta praia o silêncio impera. Ela tem oito quilômetros e é a mais linda. Os peixes comem na nossa mão. Só não cheguei na Quinta praia. Era longe e não queria perder o Pôr do sol no Farol. De lá se avistam todas as praias da vila. Apesar das nuvens, foi muito bom acabar o dia lá no alto, conversando e tomando mate com duas simpáticas argentinas.


A Praia de Gamboa fica do ladinho de Morro de São Paulo. Dá até para ir caminhando por uma trilha pela Mata que leva uns 45 minutos. Preferi tomar um barco. Ela é famosa pelo paredão de argila, que o pessoal gosta de besuntar pelo corpo. Preferi uma cerveja bem gelada. O sol estava tão quente que um grupo levou até sombrinhas na caminhada! As águas são calmas e morninhas. Fiquei a maior parte do tempo na água.

Peguei uma carona de lancha em tempo de ver o Pôr do sol na Toca do Morcego. O lugar é bem agradável e tem um visual privilegiado. A música de fundo anima as pessoas, que logo se espalham pelos sofás, pufes e redes tomando drinks exóticos. Preferi sentar à mesa e fui de petit gateau com sorvete. Mas um pouco mais tarde não resisti a uma saquerinha e ao crepe de gorgonzola. Muito bom! Quando a noite chegou ainda teve música ao vivo. Uma bela maneira de terminar o dia!

Não podia ir embora de Morro, sem conhecer a quinta praia, também conhecida como a praia do Encanto. Então, caminhei até a quarta para pegar uma charrete. O caminho foi longo, mas lindo! Depois de passar o manguezal finalmente chegamos. A areia é bem branquinha, o mar com águas transparentes e Mata Atlântica numa área de preservação ambiental. Valeu à pena!

O jantar para me despedir de Morro foi no restaurante Capoeira. Um combinado de sushi/sashimi, um saquê e música da melhor qualidade! Adorei!

Valeu, Morro de São Paulo!

A Comunidade de Piracanga fica na Península de Maraú. Uma bela ecovila com mar, floresta, rio, mangue e muitos coqueiros, fundada em 2.004 pela portuguesa Angelina Ataíde. Ela conta que havia sonhado que vivia num lugar cheio de coqueiros, quando morava em Portugal. Muito tempo depois, quando esteve de férias no Brasil, num passeio de barco, se defrontou emocionada com a mesma imagem de seus sonhos. Comprou a terra, uma antiga fazenda de coco, e fez dela um centro holístico. Os 150 moradores têm um propósito em comum: o autoconhecimento e a vontade de ajudar as pessoas no caminho da paz e da felicidade. Oferecem cursos de Reiki, interpretação de sonhos e leitura de aura. Quem chega a Piracanga obedece a um chamado. São tantos os sinais que nos conduzem até lá que, é claro, só podem acontecer coisas surpreendentes e muitas descobertas. Eu tinha acabado de planejar meu roteiro de viagem quando me deparei com uma revista que falava sobre o lugar. Mas as páginas estavam arrancadas. Resolvi pesquisar no Google, mas esqueci o nome da cidade. Até que uma amiga me disse que eu deveria incluir Piracanga na minha viagem! Sincronicidades. Passei o Carnaval saudando o sol pelas manhãs, comendo comida vegana e mergulhando no mais profundo do meu ser, através de várias práticas e meditações. Ainda deu para participar de uma Banda de Percussão tocando bandolim e dançar num baile de Confraternização. Agora só me resta colocar em prática tudo o que aprendi sobre mim
nesse verdadeiro Detox da Alma!


Depois de ficar uma semana só comendo comida vegetariana e sem queijo, ovos ou café, achei que merecia um almoço Gourmet para compensar tanta privação. Então, quando cheguei a Salvador, escolhi o restaurante Amado para almoçar. O dono é o chef Edinho Engel, o mesmo do restaurante Manacá, em Cambuí. Ele sabe misturar maravilhosamente bem a comida leve do Mediterrâneo com os ingredientes brasileiros. O lugar é incrível! A decoração bem cuidada, com plantas tropicais e uma linda vista para a Baía de Todos os Santos. Até tomei um vinho na Varanda para ficar mais pertinho do mar. A comida é fantástica… Das entradinhas à sobremesa! Não é à toa que ele coleciona certificados de Melhor do Ano, espalhados por uma grande parede. E o serviço é impecável. Não tinha vontade de ir embora. Simplesmente perfeito!

A melhor forma de encerrar a minha viagem pela Bahia foi almoçar no restaurante Paraíso Tropical. Ele fica num lugar pitoresco, no bairro do Cabula e possui mais de cento e vinte espécies de frutas no pomar. As ervas que compõem os pratos também são colhidas da própria horta. O resultado é uma combinação da melhor comida baiana com ingredientes leves e originais. Pouco dendê e muita fruta, lascas de coco verde, castanhas, licuri, biribiri… O responsável pelas originais misturas é o premiadíssimo chef Beto Pimentel. Eu provei a Moqueca de Camarão, acompanhada por frutas grelhadas. Manga, jaca, goiaba e abacaxi. E num papo com o Beto ele me disse: “Todos nós sabemos que a Gastronomia tem que ser elaborada para os sentidos. Mas ela não tem limites. Tem que ter raiz, personalidade. Flutuar nesse delírio chamado sabor, para se posicionar mais alto. Até atingir a alma. E quando a alma sussurra ao coração é porque ela foi elaborada com amor e consciência. E o paladar agradece.” Ele resumiu a sua experiência na Cozinha… E posso garantir que o meu delírio foi altamente saboroso!

 

Salvador foi o destino de mais de três milhões de escravos negros, vindos de diversas regiões da África. E com eles vieram os deuses. Através da religião que começou a resistência. Hoje a capital baiana é a morada de santos católicos e africanos. O sincretismo veio em função de os negros não terem permissão para festejar seus deuses. Então, no dia de Santa Bárbara, por exemplo, os negros da senzala faziam o culto à Iansã… Vale à pena visitar um dentre os mil terreiros de Candomblé, participar de uma cerimônia e, quem sabe até jogar os búzios…


WhatsApp Image 2018-04-26 at 18.48.25E para completar a Experiência Gourmet fui jantar no restaurante Origem, do chef Fabrício Lemos e sua esposa Lisiane Arouca. Eles preparam um cardápio diferente a cada dia, dependendo do que encontram nas feiras e mercados. O Fabrício é um verdadeiro mago. Ele sabe criar sabores inusitados com ingredientes simples. Os pratos são bem apresentados e a comida é excepcional. E tudo harmonizado com os melhores vinhos. Eu comi um peixe com purê de couve-flor defumada, farofa de maracujá, risotto com espuma de limão-cravo, purê de cebola roxa, farofa de tapioca com banana da terra e creme de meia cura. E, no final, as delicadas e saborosas sobremesas da Lisiane. Uma verdadeira Alquimia de Delícias!

A Bahia é uma cidade quente. O calor não vem somente do sol. Vem da sua gente e dos temperos. E contrasta com a tranqüilidade da brisa que sopra teimosamente todas as tardes. Conheci a ferveção de Morro de São Paulo e a linda Boipeba, subi a Colina Sagrada para pedir a benção ao Nosso Senhor do Bonfim, tomei o sorvete da Ribeira, comi o acarajé das baianas, vibrei com a capoeira e fiquei estarrecida com o Pôr do sol visto da Cidade Baixa em Salvador. Que ela tem muitos encantos e axé eu já sabia. Só não sabia que iria me apaixonar tanto por essa terra do axé, do agito e da alegria.

 

Onde ficar:

America Towers Hotel – Rua Frederico Simões, 120 – tel. (71) 3507-2222 – Salvador

 

Mapa Gourmet:

 

Restaurante Villa Bahia – Largo do Cruzeiro de São Francisco, 16/18 – Pelourinho – tel. (71) 3322-4271 – Salvador

Restaurante Oceânico – Rua Pedra da Sereia, 66 – tel. (71) 99350-1555 – Salvador

Restaurante Mistura – Rua Professor Souza Brito, 41 – tel. (71) 3375-2623 – Salvador

Restaurante Du Chef Arte e Gastronomia by Lucius Gaudenzi – Rua Afonso Celso, 70 – tel. (71) 3042-4433 – Salvador

Restaurante Amado – Av. Lafayete Coutinho, 660 – tel. (71) 3322-3520 – Salvador

Restaurante Paraíso Tropical – Rua Edgard Loureiro, 98-B – Cabula – tel. (71) 3384-7464 – Salvador

Restaurante Origem – Alameda das Algarobas, 74, Pituba – tel. (71) 3013-1773 ou (71) 99202-4587 – Salvador

Restaurante do Guido – Praia da Cueira, Ilha de Boipeba – tel. (75) 3653-6070 ou (75) 9907-7049

Restaurante Santa Clara – Travessa da Praia, Pousada Santa Clara – Ilha de Boipeba – tel. (75) 3653-6085

Restaurante Doralice – Rua da Praia, S/N , Pousada Horizonte Azul – Praia da Boca da Barra – Velha Boipeba – tel. (75) 3653-6080

Barraca do Bobó – Praia de Tassimirim – Boipeba

Restaurante Luar das Águas – Praia da Boca da Barra, Pousada Luar das Águas – Boipeba – tel. (75) 3653-6015 ou (75) 9925-1610

Restaurante Villa dos Corais – Terceira Praia, Villa dos Corais Pousada – Morro de São Paulo – Tel. (75) 3652-1560

Restaurante Toca do Morcego – Rua Caminho do Farol, s/n – Morro de São Paulo – tel. (75) 3652-1355

Capoeira Sushi Bar – Segunda Praia  – Morro de São Paulo – (75) 99178-2148