Este texto é um convite à reflexão. Para começar, vamos falar da proporção que existe entre os tecidos biológicos que nos constituem e nos distinguem como seres humanos.

 

O que são tecidos biológicos?

São compostos de células, matriz extracelular e fluidos que formam músculos, nervos, pele e mais uma variedade de tecidos chamados conjuntivos ou conectivos. Dentre estes, temos os ossos, as cartilagens, tendões, ligamentos, sangue, e o tecido adiposo onde armazenamos gordura. Sob o ponto de vista de saúde e bem-estar, cada pessoa apresenta uma certa proporção entre estes tecidos e qualquer alteração nesta proporção, quer seja para mais ou para menos, compromete a eficiência biológica nos colocando vulneráveis a lesões e patologias.

 

Tecido adiposo. Olhe um segundo para a barriga.

Nas células de tecido adiposo é onde armazenamos gordura. Quando falamos de sobrepeso e obesidade significa que a proporção de gordura armazenada ultrapassou o que é considerado normal. Esta armazenagem exagerada é responsável direta por patologias cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer.

 

Tecido muscular. Não existe fórmula mágica.

Há três tipos de células musculares – lisas, cardíacas e estriadas ou músculo esqueléticas. Em torno de 40 a 50% do peso de uma pessoa saudável é composto por este tipo de tecido. A mulher apresenta um pouco menos de massa muscular em relação aos homens. Esta distribuição de massa é em parte determinada geneticamente e em parte pelo tipo de atividade em que a pessoa se envolve, alimentação e qualidade do sono. É importante saber que existem hormônios que regulam o aumento desta massa para que se mantenham em uma proporção saudável em relação aos outros tipos de tecido. O principal e o mais conhecido é a miostatina.

Da mesma forma que o sobrepeso proveniente de gordura é prejudicial, o sobrepeso pelo excesso de massa muscular também acarreta um desbalanceamento biológico. Em indivíduos que aumentam a massa muscular desproporcionalmente tomando anabolizantes e excedendo nos treinos com pesos, a rede fibrosa da matriz extracelular se torna endurecida e frágil. Em consequência estas pessoas ficam suscetíveis a lesões. Além disto, esta situação causa também desbalanceamentos hormonais tornando a pessoa vulnerável a alguns tipos de câncer e outras patologias.

 

Tecido conjuntivo. O estilo de vida conta e muito!

Algumas situações causam sobrepeso de tecido conjuntivo. Lembre-se que a matriz extracelular é composta por uma rede fibrosa de colágeno e outras proteínas. Nas situações em que processos inflamatórios crônicos persistem, como os que surgem por alimentação inadequada, sono insatisfatório ou treinamento exagerado, esta matriz fibrosa adensa e apresenta áreas de aderência semelhantes a cicatrizes, que comprometem a qualidade da distribuição de força gerada pelas células, tornando a pessoa vulnerável a lesões e dores. O estado obeso também desencadeia uma degeneração semelhante, assim como o envelhecimento em pessoas sedentárias.

 

Tecido nervoso. Importantíssimo!

Sabemos que comprometimentos no sistema neurológico causam deficiências sérias na capacidade de se movimentar. A eficiência deste sistema depende totalmente da eficiência com que uma pessoa se movimenta. A diminuição na eficiência desta capacidade vai aumentando lentamente de forma quase imperceptível. E quando a pessoa se dá conta a fluência e harmonia de movimentos já estão muito comprometidas. Lembre-se, portanto, que qualquer desbalanceamento causado por sobrepeso de qualquer tipo de tecido acaba por diminuir a eficiência da atividade neurológica comprometendo todo o sistema. Outro detalhe importante é o efeito devastador que os carboidratos processados exercem neste sistema.

O principal: algumas soluções simples!

Organize a alimentação escolhendo alimentos de baixo índice glicêmico. Agindo desta forma debelamos o estado inflamatório crônico causado pela alimentação baseada principalmente em carboidratos processados e açúcar. Treine dentro de certa zona de conforto, pois o ditado “se não há dor não há ganho”, é um mito. Por favor, não tome como referência e não se deixe levar pelos modelos propagados pela indústria das atividades competitivas. Atletas profissionais de forma alguma são modelos de saúde, bem-estar e longevidade eficiente.

Bom senso e Bons treinos!

*José Augusto Menegatti é Professor de educação física formado pela Universidade de São Paulo. Foi preparador físico da equipe de voleibol masculina do Esporte Clube Banespa e da Seleção Brasileira. Durante 40 anos de trabalho com o esporte desenvolveu técnicas com resultados rápidos e eficientes. Um destes trabalhos começou em 1989 quando iniciou seus estudos sobre o Rolfing. Possui um Núcleo de Estudos em Fluência Corporal em Ilhabela/SP, onde oferece grupos de estudos, aulas e sessões de Rolfing para pessoas interessadas. Para saber mais: contato@menegatti.com.br / (12) 3896-1135.