Iniciativa promovida pelo Instituto Ilhabela Sustentável, com o apoio da Fundação Banco do Brasil, contempla as comunidades tradicionais da Praia de Castelhanos e da Ilha dos Búzios.

 

O projeto “Comer e Morar – Viver no Território Tradicional da Mata Atlântica”tem objetivo de resgatar o uso das técnicas de bioconstrução e de manejo agroflorestal nas comunidades tradicionais da Praia de Castelhanos e da Ilha dos Búzios, por meio do diálogo, da construção coletiva e da abordagem de aspectos práticos e legais, visando o fortalecimento comunitário para a permanência dos povos no território tradicional da Mata Atlântica.

 

Apresentada pelo Instituto Ilhabela Sustentável, a proposta foi aprovada pelo Edital de Inclusão Socioprodutiva da Fundação Banco do Brasil e após um longo processo de seleção e análise, o convênio foi assinado e as atividades tiveram início em outubro do ano passado.

 

Comer-e-Morar-(13)Durante oito meses, uma equipe formada por profissionais de Engenharia Florestal, Arquitetura de Terra e Consultoria de Turismo especializada em Áreas Protegidas e Comunidades Tradicionais, levará às comunidades contempladas diversas oficinas de capacitação em Manejo Agroflorestal, Culinária Tradicional Caiçara e técnicas de Bioconstrução e Cultura Construtiva.

 

Sob a supervisão da equipe técnica, todo o aprendizado será colocado em prática pela comunidade. As oficinas de Manejo Florestal darão origem à instalação de dois sistemas agroflorestais comunitários, as vivências de Culinária Tradicional Caiçara terminarão com a formatação de um cardápio de pratos típicos e um livro de receitas caiçaras, enquanto as técnicas de Bioconstrução serão empregadas na construção de duas casas de farinha comunitárias.

 

“Esperamos que esta iniciativa possa estreitar os laços destas populações caiçaras com seus territórios, melhorando sua qualidade de vida, valorizando sua cultura e preservando a floresta”, ressalta Paula Carolina Pereira, coordenadora do projeto.

 

Manejo agroflorestal – em novembro, a equipe do projeto realizou visitas técnicas às duas comunidades para dar início ao levantamento da agrobiodiversidade e da situação produtiva atual. Os dados vão compor um diagnóstico da situação do manejo agroflorestal praticado antigamente e hoje.

A partir de entrevistas com os moradores mais antigos, que em um passado recente praticavam a agricultura comercial e de subsistência, a equipe iniciou o levantamento de antigas roças e cultivares, e o reconhecimento de espécies nativas que tradicionalmente eram consumidas pelos caiçaras, como a brejaúva, o limãozinho do mato e o pati.

 

A identificação destas espécies e o mapeamento de antigas roças e quintais agroflorestais vai permitir o resgate de variedades da agrobiodiversidade, estabelecendo os primeiros produtos agroflorestais a serem manejados, possibilitando colheitas em um curto espaço de tempo, comercialização do excedente e inclusão dos produtos em cardápios dos comércios locais.

 

As conversas com os caiçaras também mostraram seu interesse pelo resgate da relação com a terra, revelaram saberes que precisam ser registrados e transmitidos às futuras gerações e acentuaram a importância de preservar o sistema complexo de conhecimentos tradicionais necessários à manutenção da sociobiodiversidade, que atualmente se encontram ameaçados.

 

Bioconstrução –em dezembro, o trabalho de campo foi dedicado ao início das atividades de bioconstrução, com visita técnica à área onde serão desenvolvidas as oficinas e a construção participativa de uma Casa de Farinha comunitária.

 

Um dos objetivos do projeto é estimular a retomada do uso de técnicas tradicionais para as futuras habitações e para a reforma das moradias caiçaras, baseadas na bioconstrução.

 

De acordo com os coordenadores do projeto, o morar caiçara, típico do litoral sudeste brasileiro, é baseado na relação estreita com o meio ambiente, que se inicia na escolha do local apropriado e protegido, na construção com os materiais locais e no morar com as atividades ligadas a terra e ao mar. Resulta numa arquitetura integrada à paisagem, com habitações de estrutura de madeira construídas a partir da técnica da taipa de mão.

 

Culinária Caiçara –as atividades realizadas em janeiro foram destinadas ao levantamento e resgate de receitas antigas, pratos tradicionais, ingredientes típicos e produtos extraídos da floresta pelos caiçaras da região. Foram entrevistados moradores antigos, que relataram hábitos alimentares do passado,  citaram receitas, ingredientes, formas de preparo e consumo, e situações em que tais alimentos eram consumidos.

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“Esse método estimulou a lembrança de diversas receitas, ingredientes e também de momentos familiares com parentes falecidos. Com isso, verificou-se que grande parte dos ingredientes mencionados deixou de ser utilizada no dia a dia e que os jovens desconhecem muitas receitas, inclusive as mais comuns na infância dos pais e parentes próximos”, explica Daniella Marcondes, uma das coordenadoras do projeto.

 

Os dados coletados serão sistematizados a fim de organizar as informações para as próximas oficinas, que preveem a elaboração de cardápios e respectivas fichas técnicas das receitas, além da identificação e seleção dos pratos que irão compor o Livro de Receitas Caiçaras, um dos produtos do projeto.

 

O projeto “Comer e Morar – Viver no Território Tradicional da Mata Atlântica” tem o apoio da Fundação Banco do Brasil e é realizado em parceria com a Associação Castelhanos Vive.

 

Para saber mais, visite a página: www.facebook.com/comeremorar