*Silvana Davino – ASM Cambaquara

 

A Área de Soltura Monitorada Cambaquara (ASM Cambaquara, como é conhecida) faz um trabalho voluntário de reabilitação de algumas espécies de aves no município de Ilhabela, para devolvê-las à natureza. O destaque fica para o papagaio-moleiro (Amazona farinosa), que está criticamente ameaçado de extinção no Estado de São Paulo, segundo a lista vermelha,  assinada pelo governador em novembro de 2018.

 

Não medimos esforços para preservar individualmente cada vida, porque apesar desta espécie ser abundante em Ilhabela, poderá haver um declínio da população em curto prazo de tempo, com o aumento do número de colisões em vidros, retirada de filhotes de ninhos, caça, perda de habitat, remoção de árvores secas (onde costumam nidificar), e outras ações do homem, que com ou sem consciência, prejudicam a preservação dessa espécie, que é a ave-símbolo de Ilhabela.

 

O que torna o nosso desafio ainda maior é a cultura do poder público, em todas suas esferas, em não dar prioridade à preservação do seu patrimônio faunístico dentro dos seus programas de governo, alocando verbas muito pequenas para este tipo de atividades ou simplesmente ignorando-as.

 

Desde 2012, a ASM Cambaquara já recebeu mais de 370 aves, fez mais de 30 solturas de grupos de aves com dois sucessos reprodutivos de papagaios na natureza.  Mais de 70% das aves retornaram a natureza e tudo isso graças ao nosso investimento financeiro, ao voluntariado de profissionais e ajuda de algumas pessoas que doaram seu tempo ou fizeram doações em frutas ou dinheiro para que pudéssemos manter nossas atividades com um mínimo de qualidade.

 

Além das atividades diretas com as aves, a ASM Cambaquara nunca deixa de lado a maior aliada da conservação do meio ambiente, a educação ambiental. Esse trabalho é realizado com visitas agendadas, várias atividades nas escolas e em locais públicos. Nosso maior parceiro para esses trabalhos é o Parque Estadual de Ilhabela (PEIb), através do grupo de trabalho (GT) de Educação Ambiental,  formado por voluntários da sociedade civil, professores e funcionários do PEIb.  As atividades são planejadas e organizadas em encontros mensais.

 

Em 2018, participamos da exposição dos apetrechos de caça, em praça pública na comemoração dos 41 anos do PEIb, estivemos em Castelhanos para uma roda de conversa com os moradores sobre a importância da fauna e flora do PEIb e o cuidado com o fogo na mata. Apresentamos o projeto da ASM Cambaquara para a Câmara dos Vereadores, demos várias palestras nas escolas sobre a “Importância da Fauna Silvestre”, recebemos os escoteiros de Catanduva e  de São Bernardo do Campo em uma conversa sobre os animais da Mata Atlântica de Ilhabela, com enfoque nas aves.

 

A convite da Secretaria do Meio Ambiente, expusemos “banners” com campanhas de conservação da fauna na feira Sustenta de outubro e  fizemos uma parceria com o Centro de Referência Animal (CRA) na distribuição de folhetos sobre como evitar que as tiribas façam ninhos nos telhados das residências.  Ministramos palestra para alunos da medicina veterinária da FMU em São Paulo.

 

Em novembro de 2018, fizemos uma “Gincana do Meio  Ambiente” na escola Prof. José Benedito de Moraes , durante três tardes, trabalhando de forma lúdica e visando a cooperação entre eles, fazendo as crianças refletirem sobre seus modos de vida. Os temas abordados foram:  Destinação de resíduos recicláveis,  aves de Ilhabela, fotografia da natureza, troca de brinquedos, pintura de painéis com o tema “Ilhabela, nosso Paraíso”, pintura de máscara do papagaio-moleiro, compostagem, importância do Parque Estadual e da fauna silvestre e instalação de um comedouro de aves na escola.

 

O fechamento da gincana foi marcado pela tarde de autógrafos dos alunos que realizaram um livro com a professora Taluana, com desenho e poesia de algumas espécies de aves de Ilhabela e uma linda homenagem ao querido Joãozinho, que foi funcionário do parque por mais de 25 anos e dedicou-se a maior parte da sua vida à educação ambiental junto às crianças, que através de sua genuína sabedoria, sabia que era a partir dali que vidas poderiam ser transformadas, deixando um lindo legado para todos nós.

 

Os destas atividades lúdicas de Educação Ambiental são rapidamente mensuráveis e perceptíveis. São vários os depoimentos de pais, cujos filhos pediram para fazer entrega voluntária de animais silvestres em cativeiro ilegal e para não realizar mais caça nem a captura de filhotes na natureza.

 

Muito longe de se limitar a falar apenas sobre a preservação da natureza, a Educação Ambiental é um processo que dá a possibilidade ao indivíduo e a comunidade de construírem seus valores, adquirindo conhecimentos, agindo de maneira consciente e impactando positivamente para o meio ambiente e sua própria qualidade de vida.

 

*Silvana Davino, bióloga responsável pela  ASM Cambaquara.